sábado, 28 de novembro de 2009

Petições nobres...motivações, nem tanto


Por: Edson Moura

É preciso, com muita responsabilidade, ou deveria dizer, com honestidade, revermos nossos conceitos quanto às nossas orações. Para isso, é necessário que nós examinemos quais são as motivações que nos levaram a pedir algo a Deus.
Digo isso, porque tenho observado em muitos lugares, principalmente na mídia televisiva, que mesmo sendo pessoas sinceras, e sem maldade alguma em seus corações, acabam por fazer de seu momento de oração, um átrio de pedintes espirituais. (embora eu veja a oração como um ato exclusivo de relacionamento com Deus, não condeno quem use esse momento para fazer também suas petições, até porque nós acharemos respaldo bíblico tanto para uma como para outra atitude)

Nem vou falar de pedidos materiais (engloba: emprego, melhor salário, casa própria, carro, alimentação e vestimentas ‘mesmo que só o necessário’, e afins)
Também não vou “nem tocar no assunto”, daquelas bênçãos que, embora não seja nenhum dos itens citados na lista acima, têm como “beneficiário” somente o “requerente”.

Quero falar aqui daqueles pedidos que são cobertos de nobreza, feitos por pessoas que se julgam (ou nós mesmos as consideramos) politicamente corretas. Mas que na verdade estão apenas mascarando a verdadeira motivação, ou seja, o interesse próprio.

Talvez vocês, meus Caros leitores, digam assim:
Ele fala coisas que não sabe!
Ou ainda:

Ele nunca passou por algo do tipo!
Ou mais:

Ele diz essas coisas porque pra ele a vida deve ser um “céu de brigadeiro” ou um “mar de almirante”! (desculpem-me o pleonasmo)
Devo deixar claro que nem tudo na minha vida é um “mar de rosas” (de novo!), aliás, já passei, e ainda passo por aflições das maiores, e também entendo, e quando posso, participo do drama de meus irmãos. É por esse motivo que eu citei no início do texto, as pessoas sinceras e sem maldade, apenas agem inconscientemente, e minha preocupação aqui é somente levá-las a refletir.

São inúmeros os exemplos que eu poderia colocar, mas quero me ater a somente dois:

Que dizer de uma mãe, que ora constantemente para que seu filho, envolvido com drogas, seja salvo dessa vida de perdição, e venha para Jesus?

As lágrimas por ela derramadas, são as mais sinceras possíveis. As campanhas que ela faz em sua pequena (ou grande) igreja, são pelo nobre motivo de se resgatar uma vida que está se perdendo. (não estou aqui, legitimando campanhas e correntes feitas a torto e a direito por aí)
Mas será, e eu disse SERÁ, que na verdade, ela não quer simplesmente parar de sofrer? Pois eu ouço muitas, mães dizerem as seguintes frases:

Ah meu Deus! Quando é que esse meu sofrimento vai acabar? (sofrimento pela situação do filho)
Não agüento mais meu Deus! Prefiro morrer a sofrer desse jeito!
Então vejam!

A pauta da oração até pode ser nobre, mas as motivações nem tanto.
É claro que isso não é regra, pois muitas orações, além de seu caráter altruísta, são também motivadas pelo desejo de ver a outra pessoa recuperada. É o caso de algumas mulheres que choram ao lado da cama de seus filhos, doentes terminais de câncer. Elas só pedem a Deus que acabe com o sofrimento daquela criança, reconhecendo assim a incapacidade humana para determinados problemas, e abrindo mão daquilo que para ela seria seu maior tesouro neste mundo.

E quanto ao marido, que vendo sua amada esposa, o grande amor de sua vida, acometida por uma doença que certamente a levará à morte, pede a Deus constantemente dia e noite, sem comer nem dormir, implorando que não a leve embora. (também não estou dizendo que Deus mata as pessoas, ou que por muito pedir Ele vai acabar cedendo às exigências humanas. Este é outro assunto, tratado em outros artigos neste blog, os melhores são os escritos pelo Marcio Alves)
Na verdade, o que ele está dizendo é:
Não quero ficar sozinho! Ela é a minha vida, sem ela eu prefiro morrer! Não vou suportar!

Novamente vemos um pedido nobre, mas coberto de interesse próprio.

Sei que é bonito você gostar de uma pessoa ao ponto de pedir intervenção divina por ela. Mas eu só gostaria que antes de orarmos, examinássemos nossas motivações e procurássemos nelas, vestígios de desejos interesseiros que podem estar tão ocultos que somente Deus poderia identificá-los, e Ele consegue!

Os exemplos citados no texto são apenas fictícios, frutos de uma mente que não quer parar de pensar. Peço desculpas a todos aqueles que já passaram por situações semelhantes, e vêem nas minhas palavras uma agressão aos seus sentimentos mais sinceros, sei bem como é isso! Mas como diria Pilatos:
“O que escrevi, escrevi!”
Que Deus nos abençoe a todos, ricos e pobres, bons e maus, crentes ou não, amem!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Reino dos Excluídos




Por: Marcio Alves


Durante muito tempo, interpretei o sermão da montanha, mais precisamente, as bem-aventuranças como virtudes para se alcançar nesta vida.

Lia com as lentes que me eram dadas, pelos doutores da teologia.

Encarava as beatitudes – assim também chamadas – como regras, preceitos, normas e comportamentos descritos para qualquer cristão que quisesse, entrar no Reino dos céus.

Como por exemplo, o celebre John stott que disse:
“As bem-aventuranças descrevem o caráter equilibrado e diversificado do povo cristão...”
“....As bem-aventuranças são especificações dadas pelo próprio Cristo quanto ao que cada cristão deveria ser.”

Martyn Lloyd Jones interpretando “os pobres de espírito” das bem-aventuranças diz:
“Necessariamente, essa (pobre de espírito) é a primeira das bem-aventuranças devido à excelente razão que ninguém pode entrar no reino de Deus a menos que seja possuidor desta qualidade.”

Enfim, centenas de outras interpretações do cristianismo histórico, seguem a mesma linha de coerência.
Ou seja, não há duvidas sobre as bem-aventuranças, é algo homogêneo e unânime na cristandade.

Só tem um problema, é que eu decidi não mais ler as escrituras com as lentes que me são dadas.

Mas sim, pensar livremente.

Hoje, já não mais concordo com essas interpretações históricas – digo isto, com muito respeito aos grandes vultos do cristianismo, que prestaram o grande favor ao Reino de Deus.

Eis algumas razões:

1- Contexto gramatical.
Quem disse que o sermão da montanha começa no capítulo cinco de Mateus?
A bíblia originalmente, não possui divisões de capítulos e versículos.
Foi o Prof. Stephen Langton que, no ano de 1227 dC a dividiu em capítulos, para facilitar a sua leitura e localização.
Já os versículos, foram organizados, no ano de 1551 dc, pelo Sr. Robert Stephanus

Fazendo uma acurada e minuciosa investigação, o texto do sermão da montanha, não começa no capítulo cinco, mas provavelmente no capitulo quatro e versículo vinte e três, que diz:

“E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.

E a sua fama correu por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos, e ele os curava.

E seguia-o uma grande multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia, e de além do Jordão.” (Mt 4 v 23 – 25)


2- Contexto Histórico.
Dizem os historiadores que, na época de Jesus, o povo pobre era massacrado e oprimido pelo império Romano.
As pessoas as quais, Jesus se dirige, são indefesos, injustiçados e perseguidos.

Portanto, ouso re-interpretar o sermão da montanha, dizendo:

Pobres de espírito:
Não são – como gostaríamos que fossem – nós, humildes espirituais.
Mas sim, pessoas desprovidas de inteligência, pobres materiais que vivem mendigando para sobreviver.

Os que choram:
Não são aqueles sensíveis espirituais, dependentes de Deus, mas antes, os oprimidos que choram pelas injustiças e dramas humanos.

Os mansos:
Não são os que têm o temperamento controlado pelo Espírito Santo, mas antes, os dominados pelos sistemas de poder, que são esmagados. Que não conseguem reagir, não tem forças para lutar e reverter a situação.

Os que têm fome e sede de Justiça:
Não somos nós, pessoas boas que sofrem – ou pelo menos tenta sofrer – a dor do outro, mas antes, os que sofreram injustiças nesta vida. Por exemplo, a mãe que perdeu seu filho, o desgraçado na África, que não tem o que comer em um mundo de Bilionários, os doentes terminais que mal são atendidos nos hospitais.

Misericordiosos:
São pessoas que ajudam as outras naquilo que ela mesma perdeu (sofreu).
São pessoas miseráveis que tem um coração (daí a expressão, “miseri” + “cordia”) generoso para com os desgraçados.

Limpos de coração:
Não são pessoas santas, seguindo um padrão de perfeição moral que é ditado em formas de regras pela igreja.
Mas antes, as pessoas ingênuas, bobas e simples que, muitas vezes são facilmente enganadas e passadas para trás.

Pacificadores:
São os que desejam a paz, odeia as brigas e guerras.

Os que sofrem perseguições:
Enfim, o sofrer perseguição, resume bem as bem aventuranças.

Pensem comigo.........Quem são os pobres de espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, misericordiosos, limpos de coração, pacificadores, os que sofrem perseguições, descritos por Jesus?

Quem no mundo que vivemos, sofre mais o drama humano?

A grande boa nova deste texto é que:

Essas descrições da bem aventurança, não são de virtudes que devemos almejar ou alcançar, mas de pessoas que foram esmagadas pela vida.

Essas pessoas não são do Reino de Deus por serem assim, mas apesar de serem assim.
Ninguém precisa desejar sofrer, como se houvesse virtude no sofrimento, mas apesar de sofrerem são amadas por Deus e bem vindas no seu Reino
.”

Por isso é que Jesus disse:
“Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça” (Mt 6 v 33)

Buscar o Reino, não é programações da igreja:

Evangelizar (leia-se, fazer proselitismo), dar dízimos e ofertas, participar de campanhas, trabalhar na “obra”, ter cargos ministeriais – ou seja, ativismo religioso, não é a essência do Reino.

Mas pasmem – os evangélicos mais conservadores – o Reino de Deus é feito por, de e para as pessoas.

Buscar o Reino é ajudar o oprimido e necessitado.
Que tem que ser acompanhado por justiça.
Pois não há paz, sem justiça.

Justiça!
Essa é a prioridade do Reino de Deus.

Aliás, não somente o Reino de Deus é um reino de pessoas, mas o próprio Rei deste Reino é visto nas pessoas pobres e oprimidas.

“E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mt 25 v 40)

Pois a religião de Jesus, não é confessional – como bem expressou o Gresder: “Não são palavras mágicas na hora de morrer, não são senhas bíblicas e evangélicas que a pessoa fala com a boca.” – mas de praticidade:

Religião dos evangélicos (confessional):
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus” (Mt 7 v 21)


Religião de Jesus (prática):
“Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica” (Mt 7 v 24)

“Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” (Mt 7 v 12)


Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Eu duvido, logo penso, logo existo

Por: Edson Moura

Às vezes (e hoje é uma dessas vezes), minha mente fica totalmente “vazia de tão cheia”. Não sei se isso já aconteceu com vocês leitores, mas comigo acontece de fases em fases.

Paradoxo-mental!

É assim que eu chamo isso (nem sei se já nomearam esse fenômeno ou se é um fenômeno), pois são tantos os pensamentos que eu acho que nunca vou conseguir organizá-los.

Pareço estar “VOLTANDO AO GÊNESIS” da minha existência. Começo re-capitular cada passo, cada minuto do meu passado e num segundo momento, me surpreendo imaginando o futuro (meu futuro). É então que surgem as crises existenciais.

Não me disseram! Ninguém me alertou! Também não veio nenhum manual de instruções explicando como seria a vida a partir do momento em que eu aceitasse a Jesus como meu Senhor e salvador. Só depois de muito tempo descobri que o manual era a palavra de Deus escrita por homens comuns.

Hoje, depois de anos, consegui me desvencilhar das velhas tradições da igreja, e optei por um “CRISTIANISMO A-RELIGIOSO”, sem medo do inferno eterno e também sem cobiça insana pelo céu de pedras sardônicas e portas de pérolas.
Sem medo da ira de um Deus terrível e vingativo, mas também sem ilusões de um Deus que (só pelo fato de eu servi-lo) me livre das agruras da vida. Simplesmente, passei a seguir um Deus que tem o rosto de Jesus, o filho do carpinteiro.

Mas repito!

Às vezes os pensamentos, as idéias, se misturam. E a mente fica “vazia de tão cheia” novamente.

Sinto-me muito distante desse Jesus da Galiléia. Sinto que somente as “FAGULHAS DO DIVÍNO NO HUMANO” é o que me sobrou. Parece que sou tocado apenas por “PARTÍCULAS DA GRAÇA
Mas continuo caminhando, tropeçando, caindo, me arrastando ...e me levantando para retornar à peregrinação.

Muitas vezes, mal compreendido pelos que estão lá encima do “PULPITO CRISTÃO
Apedrejado sim! Por aqueles que amo tanto! (e amo mesmo). Ignorado por pessoas as quais eu daria meu pescoço pra ser cortado, sem pestanejar. (não estou sendo demagógico)

Disseram-me, lá no início, que existe uma “PALAVRA QUE LIBERTA”, mas não me vi livre. Livre sim, do peso do pecado. Sim livre da acusação da lei, mas “preso a uma vida de liberdade”, quando "TOMEI A PÍLULA VERMELHA".

Portanto: “EU FICO COM A PALAVRA DE DEUS”, mesmo que as vezes, confesso, sinto falta (pouca falta) daquele tempo em que eu acreditava que as rodas do destino eram movidas pelo Senhor dos exércitos, e tudo acabaria cooperando para o meu bem, pois eu o servia.

Era mentira! Hoje sei que não é assim.

Novamente, minha “SALA DO PENSAMENTO” está vazia, de tão cheia que se encontra.
Ensaio um novo comportamento...proseio comigo mesmo, e entre esses “ENSAIOS E PROSAS”, me vejo de novo no início de tudo...no meio de tudo...querendo mesmo... é o final de tudo, sair deste mundo, ao qual eu não pertenço, e pular dentro da “BACIAS DAS ALMAS” que Deus deve ter preparado para nos lavar.

Tento encontrar, mais uma vez, “OUTRA ESPIRITUALIDADE”, uma nova, que me permita viver...ou morrer em paz...paz no meu espírito.

Mas tenho medo!

Medo de ser irresponsável, medo de conduzir ao erro, aqueles que o Senhor tanto ama, àqueles pelos quais Ele entregou a própria vida. Então me calo, e procuro não pensar (como se isso fosse possível ao Ser humano)

Começo a perceber então irmãos, que preciso desesperadamente continuar vivendo, não posso parar a peregrinação, encontro forças no meu companheiro “FIEL” (Marcio Alves), para vencer o “GIGANTE DESESPERO”.

Caminhamos rumo à “CIDADE CELESTIAL” (penso), mas com uma certeza no coração:
Esse “OUTRO EVANGELHO” que anunciamos, na verdade é outro mesmo...é aquele que Jesus pregou na palestina...e se perdeu no tempo.

Vejo uma luz...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O Deus humanamente humano




Por: Marcio Alves



A mensagem central da nossa fé é a de que; “Jesus é o Emanuel – Deus conosco – em forma, carne, vida, cor, cheiro, sentimentos, pensamentos e desejos humanos, que entregou a sua própria vida, crucificado e morto em uma cruz e ao terceiro dia ressuscitou corporalmente”.

Ou seja, o Cristo ressurreto, assentado à direita de Deus, ainda é o homem-divino!

Parece-me que, há mais dificuldades de se falar e crer a respeito da humanidade de Deus no meio teologizado dos evangélicos, do que para as pessoas não cristãs ou hereges.

Isto se deve a:

1-Influências filosóficas.
A helênica foi a mais fundamental nesse processo de divinizar o divino (desculpem-me, minha proposital redundância, mas não consegui resistir). Agostinho, discípulo da escola neo-platônica, levou e imputou a ideologia grega do que é ser Deus aos compêndios sistematizados da teologia.

2-Contexto histórico.
Mergulhado em um contexto dos grandes impérios e Reis, chegando até a época dos senhores feudais, se projetou um “deus” déspota.
Pois a lógica é a seguinte: Se os homens-mortais tinham (ou tem) o poder de controlar e mandar em pessoas, quanto mais “deus”.

3-Imaginação dos homens.
No subconsciente-inconsciente, o homem projeta em Deus, a imagem de um super-homem que, comanda e controla a tudo e a todos com o seu super-hiper-mega-ultra-poder.

Vêem em Jesus, um “deus-estrategista”, que vive com uma prancheta na mão controlando e contornando todas as circunstancias.
Que diz: Vou por câncer nesta mulher aqui, matar um filho ali, fazer o avião cair e matar 200 pessoas lá, vou dar uma mãozinha acolá para aquele rapaz ser atropelado, tudo para um propósito, para colher no futuro.
Ou seja, um deus-desumano.

Porém, fazendo uma acurada análise dos textos bíblicos, eis minhas percepções:

Por toda a bíblia, são duas, as maiores forças de Deus:


1-Todo-poder.
2-Todo-amor.

Toda vez que Deus, utilizou como recurso o seu todo-poder, não foi suficiente para gerar uma Fé e amor consistentes no coração das pessoas.

Velho testamento: Milagres extraordinários e extraterrestres de Deus ao povo de Israel, mesmo assim eles murmuram, duvidaram e foram infiéis para com Deus.

Novo testamento: Jesus curou e realizou milagres a multidões incontáveis, mas na hora “h”, o povo gritou que libertassem Barrabás e crucifica-se Jesus.

E finalmente, o poder é passivo de imitação.
O diabo imita o poder – estão lembrados dos magos de Faraó no Egito, e dos falsos profetas vaticinados no novo testamento? – mas não consegue e nem conseguirá imitar o Amor de Deus.
Lembrem-se todos; um “deus” poderoso, mas sem bondade e amor, seria um demônio encarnado em poder.

A verdadeira religião, não é a que consegue provar o poder de Deus, pois esse é um axioma – aquilo que é tão obvio que não precisa ser provado – teológico-filosofico, mas antes o que revela o seu Amor no verbo encarnado.

A humanização de Deus é a nossa grande prova do Amor e solidariedade Dele com a raça humana.

Quando fazemos uma leitura atenta dos evangelhos, percebemos que a ênfase do mesmo não recai em um Jesus divino, mas o contrário, num Deus-humano, pois diversas vezes, Jesus referia-se a si mesmo como filho do homem.

A revelação de Jesus é de tamanha loucura que por isso eu creio. Não poderia ser elaborada por uma mente humana, que sempre projeta um Deus imenso-divino-poderoso, que está acima de nós.

Ai vem os evangelhos e paradoxalmente nos diz que Deus se fez homem, que pode ser tocado, abraçado, rejeitado, morto, que venho para servir e não para ser servido pelos homens.

Pois em Jesus, Deus chora o nosso choro, sente a nossa dor, solidão, desespero, angustia, desprezo, morre a nossa morte, mas também sente a nossa alegria, se diverte tomando vinho – vinho mesmo, e não suco de uvas – e comendo com os publicanos e prostitutas, dançado nas “baladas” judaicas, sorrindo com as trapalhadas de Pedro, atraindo as criancinhas com a sua simpatia e se revoltando contra as manipulações dos religiosos de sua época.

Os fariseus querendo denegrir Jesus, logo o rotularam, mas o que eles não sabiam que, justamente esse rótulo, seria a mais bela de todas as expressões bíblicas a respeito de Deus, a saber; “AMIGO DOS PECADORES!” (Mt. 11:19)

Enfim, se Jesus viesse desta mesma forma para a terra hoje, os evangélicos seriam os primeiros a crucificá-lo.

Pois Cristo é uma incoerência filosófica-teologica.

Porque (in?)conscientemente o que os evangélicos querem é um Deus poderoso, que resolva os seus problemas.

Por isso a grande temática que reina nos cultos é o Deus soberano, forte, guerreiro, dominador, prodigioso, nunca o Deus que se fez carne, o Deus de amor eterno.

Enquanto nós estamos querendo teologizar Deus, Ele mesmo se propôs a si dês-teologizar.

Buscamos o caminho de uma espiritualidade transcendental, que se eleva acima dos mortais, porém esquecemos que o Caminho a Verdade e a Vida, é o caminho da humanização.

Somos convocados e desafiados por Deus, não a nos divinizar, mas nos tornamos mais humanos, mas parecidos com Jesus de Nazaré, que andou pelas ruas poeirentas da palestina.

Enquanto os evangélicos não aprenderem essa valiosa lição de que, o Jesus que temos que imitar, não é o descrito em apocalipse; como Leão da tribo de Judá, vitoriosamente triunfante, guerreiro, Senhor dos Exércitos, Reis dos Reis e Senhor dos Senhores, Todo-poderoso, Alfa e Omega, divinizado e exaltado pela sub-cultura evangélica, como a força maior, Deus dos deuses.


Mas antes, o Jesus esvaziado, servo, indefeso, humilde, carpinteiro, que lavou os pés em poeirentos dos discípulos, que sendo Deus, chorou compassivamente diante do tumulo de seu amigo lazaro e impotentemente diante da rebeldia do povo de Israel, que veio apregoar o seu Reino, que não é deste mundo, pois é um Reino de amor, misericórdia, solidariedade, amizade, afeto, companheirismo, continuaremos arrogantes, mesquinhos, poderosos é verdade, mas cada vez mais distante de Jesus.

Ou como diria Leonardo Boff: “É que Jesus era tão humano que só poderia mesmo ser Deus"


Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.

sábado, 7 de novembro de 2009

Deus do Pentatêuco ou Jesus da Galiléia?



Por: Edson Moura

Antes que me condenem, quero avisar que não estou dizendo que são 2 (dois) Deuses, e sim um único Deus, mas que é “projetado” em nosso consciente-inconsciente da maneira que melhor se adapte ao nosso modo de viver o cristianismo. Boa leitura!

Os Fariseus podem dormir seu sono tranqüilo, pois eles falharam, não conseguindo calar a voz de Cristo, mas hoje, milhões de cristãos abafam e deturpam o Evangelho pregado na palestina.

Infelizmente estão fazendo um “bom” trabalho!

A criação revela tanto poder que desconcerta nossa mente e deixa-nos sem palavras. Somos enamorados e encantados pelo poder de Deus. Gaguejamos e hesitamos diante da santidade de Deus. Trememos diante da majestade de Deus... e apesar disso mostramo-nos melindrosos e ressabiados diante do amor de Deus.
Fico estupefato diante da difundida recusa, em nossas terras, em pensar-se grande sobre um Deus amoroso. Como nervosos cavalos “puro-sangue” sendo guiados à linha de largada do grande prêmio, muitos cristãos relincham, escoiceiam e pinoteiam diante da revelação do superabrangente amor de Deus em Jesus Cristo.

Em minha jornada como cristão errante, tenho encontrado chocante resistência ao Deus que a Bíblia define como Amor. Os céticos estão entre os acadêmicos untuosos e excessivamente polidos que sugerem discretamente traços da heresia do universalismo a crentalhões ultraconservadores que enxergam apenas o implacável e empoeirado Deus guerreiro do Pentateuco, e insistem em reafirmar as frias demandas de um perfeccionismo infestado de regras.

Nossa resistência ao amor furioso de Deus pode ser traçada de volta à igreja, a nossos pais e pastores e à própria vida. Foram eles, (protestamos) que esconderam a face do Deus compassivo em favor de um Deus de santidade, justiça e ira.
No entanto, se fôssemos verdadeiramente homens e mulheres de oração, nossos rostos como pederneira e nosso coração devastado pela paixão, abriríamos mão de nossas desculpas. Pararíamos de colocar a culpa nos outros.
Temos de sair para um deserto de algum tipo (seu quintal serve) e adentrar uma experiência pessoal com o assombroso amor de Deus. Então poderemos concordar com conhecimento de causa, com o místico inglês Julián de Norwich: "A maior honra que podemos dar ao Deus Todo-Poderoso é viver com alegria pelo conhecimento do seu amor".


Poderemos entender porque, como observa o Dicionário teológico do Novo Testamento, de Kittel, que nos últimos dias de sua vida na ilha de Patmos o apóstolo João escreveu, e escreveu com majestosa monotonia, sobre o amor de Jesus Cristo. Como que pela primeira vez, poderemos compreender o que Paulo queria dizer: "Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rm 5:20,21).
Da mesma forma que João escreveu, no crepúsculo da vida, apenas sobre o amor de Jesus, Paulo também escreveu abundantemente sobre o evangelho da graça:

•A graça de Deus é a totalidade pelo que homens e mulheres são tornados justos .
•Pela graça Paulo foi chamado.
•Deus derrama sua gloriosa graça sobre nós em seu Filho.
•A graça de Deus foi manifestada para a salvação de todos.
•A graça de nosso Senhor superabundou com a fé e o amor que há em Jesus Cristo.
•A graça é depósito ao qual temos acesso através de Jesus Cristo.
•É um estado ou condição em que nos encontramos.
•É recebida em abundância.
•A graça de Deus abundou mais que o pecado.
•Ela se estende para mais e mais pessoas.
•A graça contrasta com as obras, que carecem do poder para salvar; se as obras tivessem esse poder, a realidade da graça seria anulada.
•A graça contrasta com a Lei. Tanto judeus quanto gentios são salvos pela graça do Senhor Jesus.
•Apegar-se à Lei é anular a graça e quando os gálatas aceitaram a Lei caíram da graça.

Sim, o Deus gracioso encarnado em Jesus Cristo nos ama.

A graça é a expressão ativa deste amor. O cristão vive pela graça como filho do Abba, rejeitando por completo o Deus que pega as pessoas de surpresa ao menor sinal de fraqueza — o Deus incapaz de sorrir diante de nossos erros desajeitados, o Deus que não aceita um lugar em nossas festividades humanas, o Deus que diz "você vai pagar por isso", o Deus incapaz de compreender que crianças sempre se sujam e são distraídas, o Deus eternamente bisbilhotando à caça de pecadores.

Ao mesmo tempo, o filho do Pai rejeita o Deus de cores pastéis que promete que nunca vai chover no nosso desfile.

O filho de Deus sabe que a vida tocada pela graça chama-o para viver numa montanha fria e exposta ao vento, não nas planícies aplainadas de uma religião sensata e de meio-termo.
Pois no coração do evangelho da graça o céu escurece, o vento ruge, um jovem sobe um outro monte Moriá em obediência ao Deus implacável que exige tudo.


Ao contrário de Abraão, ele carrega nas costas uma cruz, e não lenha para o fogo... como Abraão, em obediência a um Deus selvagem e irrequieto que fará as coisas da sua forma não importe o que custe.

Esse é o Deus do evangelho da graça. Um Deus que, por amor a nós, mandou o único Filho que jamais teve, embalado em nossa própria pele. Ele aprendeu a andar, tropeçou e caiu, chorou pedindo leite; transpirou sangue na noite; foi fustigado com um açoite e alvo de cusparadas; foi preso à cruz e morreu sussurrando perdão sobre todos nós.

O Deus do cristão legalista, por outro lado, é com freqüência imprevisível, errático e capaz de toda espécie de preconceito. Quando vemos Deus dessa forma sentimo-nos compelidos a nos envolvermos em alguma espécie de mágica para aplacá-lo. A adoração de domingo torna-se um seguro supersticioso contra os seus caprichos. Esse Deus espera que as pessoas sejam perfeitas e estejam em perpétuo controle de seus sentimentos e emoções. Quando gente esmagada por esse conceito de Deus acaba falhando — como inevitavelmente acontece — ela em geral espera punição. Ela por isso persevera em práticas religiosas ao mesmo tempo em que luta para manter uma imagem oca de um eu perfeito. A luta em si é exaustiva.


Os legalistas nunca são capazes de viver à altura das expectativas que projetam em Deus. Percebi como era difícil para mim olhar para elas e dizer: "Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem".


As duras palavras de Jesus dirigidas aos fariseus estendem-se pelo curso dos anos. Hoje em dia elas não se aplicam apenas aos televangelistas que caíram, mas a cada um de nós. Distorcemos por inteiro o sentido do que Jesus disse quando usamos suas palavras como armas contra os outros. Elas devem ser assumidas pessoalmente por nós.


Essa é a forma e o formato do farisaísmo cristão dos nossos dias. A hipocrisia não é privilégio de quem está por cima. O mais empobrecido entre nós tem potencial para ela. "A hipocrisia é a expressão natural do que é mais perverso em nós."

O “Outro Evangelho” que apresentamos, mostra um Jesus que perdoa pecados — incluindo pecados da carne; que ele sente-se à vontade na companhia de pecadores que se lembram de como mostrar compaixão, mas que não pode e não terá um relacionamento com os que são hipócritas no Espírito.


Talvez a verdadeira dicotomia dentro da comunidade cristã da atualidade não seja entre conservadores e liberais, ou entre criacionistas e evolucionistas, ou entre calvinistas e arminianos, mas entre os despertos e os adormecidos. . Da mesma forma que todo homem inteligente sabe que e estúpido, o cristão desperto sabe que é limitado e dependente da graça.

Embora a verdade nem sempre seja humildade, a humildade é sempre verdade: o reconhecimento sem rodeios de que devo minha vida, meu ser e minha salvação a outro. Esse ato fundamental jaz no âmago de nossa reação à graça.
A beleza do evangelho verdadeiro está na percepção que ele oferece de Jesus: a ternura essencial do seu coração, de seu modo de ver o mundo e de seu modo de relacionar-se com você e comigo.


"Se você quer de fato compreender um homem, não apenas ouça o que ele diz, mas observe o que ele faz".


Que a maravilhosa graça de Deus toque-nos a todos.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Deus – ser absoluto – e a lógica humana.



Por: Marcio Alves


Inicio esta postagem com uma pergunta: Deus – ser absoluto – pode ser compreendido pela lógica humana?

No senso comum evangélico, a resposta á esta pergunta seria (ou é); não!

Inclusive quando as pessoas não conseguem ter argumentos suficientes para contradizer uma possível “heresia”, então partem para o desprezo. Daí dizer que não é possível entender Deus, através da lógica. Ou quando não consegue explicar algo, já remetem para o mistério. Isto é muito broxante para quem pensa. Mas dizer isto é uma verdadeira castração de uma mente ávida pensante, que procura organizar as idéias de dentro de uma lógica.

Mas o que é lógica?

O dicionário define assim o termo “lógica”: “A lógica (do grego clássico λογική logos, que significa palavra, pensamento, idéia, argumento, relato, razão lógica ou princípio lógico), é uma ciência de índole matemática e fortemente ligada à Filosofia. Já que o pensamento é a manifestação do conhecimento, e que o conhecimento busca a verdade, é preciso estabelecer algumas regras para que essa meta possa ser atingida. Assim, a lógica é o ramo da filosofia que cuida das regras do bem pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do pensar.”

O teólogo e filosofo Elienai, define assim o termo “lógica”: “A lógica é qualquer construção lingüística que busca organizar nossa compreensão de mundo. Ninguém pensa sem palavras. Ninguém fala sem uma lógica. Uma palavra só é linguagem, e não ruído, porque significa algo. E só significa porque está conectada a outras palavras e sentidos que compõem um esquema conceitual, ou um paradigma, ou uma lógica, ou ainda, uma visão de mundo. Sequer dizemos ‘Deus’ sem uma lógica”.

A partir do momento que você fala, escreve, pensa, isto já é uma lógica.

Claro que nossa mente é limitada, e logo toda lógica é limitada. Não tendo por objetivo dissecar Deus. Mas antes, organizar as idéias a partir do que Deus nos permitiu conhecer. Nenhuma lógica, por mais lógica que seja, consegue definir totalmente Deus. Dentro dessa lógica, há lógica com mais lógica, e lógica com menos lógica.

Partindo disso, a lógica é a seguinte: Se Deus não pode ser entendido por nossa lógica, então deixemos de buscar, estudar, refletir e até falar sobre Deus.

Porém, reconheço que:

1 – Toda e qualquer teologia – inclusive a minha – são frágeis percepções, condenadas às eternas reformulações.

2-Admito o valor e contribuição intrínsecos da teologia sistemática – o qual, em minha opinião, está engessada, e, portanto, não consegue responder as novas perguntas que tem surgido (pelo menos, não de formar satisfatória) – que em tempos passados, foi muito útil para dialogar com a cultura helenista.

3-Toda e qualquer lógica, não consegue e nem conseguirá definir absolutamente Deus.

4-Que todo pressuposto a favor da dês-lógica, parte da seguinte premissa teológica e filosófica:
“Se Deus é absoluto, e a nossa mente é limitada, logo, Deus não pode ser compreendido por uma lógica”.

Reconheço a veracidade de tal argumento.
Para a filosofia, isso seria um argumento irrefutável.
Menos para o Deus da bíblia.

A bíblia nos revela que Deus – ser absoluto – se relativiza.
Vou repetir: “Deus – ser absoluto – se relativiza”.

São três (3) as grandes provas disso:

1-A própria bíblia é um exemplo disso, pois Deus, para ser entendido por nós, seres finitos e limitados, “desce” ao mesmo nível de nossa compreensão, por isso que a bíblia é uma linguagem humana. Portanto, o era isto, ou Deus teria de nos transcender, nos tornando deuses, para dialogarmos e relacionarmos com Ele. Mas isto não pode ser feito, porque só há um Deus.

2-Os relatos da bíblia nos mostra Deus, se relativizando para relacionar conosco. Aquelas expressões de Deus, que a teologia clássica, vai nos explicar que; não passam de antropomorfismo, são na verdade, o jeito como Deus se relaciona conosco.

3-E finalmente, a maior de todas as revelações – a saber – Jesus Cristo, a chave hermenêutica da revelação de Deus. Em Jesus, Deus “desce” ao mais baixo nível, se esvazia do exercício de sua divindade – eu disse exercício, e não natureza – come e bebe com os pecadores, sente medo, fome, sede e frio e até morre. Deus se auto-limita, para podermos relacionar com Ele.

Imagine a cena, eu com o meu filho de apenas dois anos. Tentar impor a minha força e o meu intelecto, ele não conseguiria me entender e seria esmagado por minha força. Assim é Deus, se fosse relacionar-se conosco em termos de poder absoluto, seriamos esmagados, e não conseguiríamos entender Deus.

Daí a minha critica a concepção tradicional de Deus, defendida e difundida pelos evangélicos, embasada na filosofia grega de Agostinho.

Na filosofia, Deus é um ser transcendental inacessível absoluto que controla a tudo e a todos.

Isto em parte é verdade – em parte, porque Deus é onipotente, mas a grande questão não é, se Deus é ou não é onipotente, mas sim, em como Deus utiliza o seu poder.

Acredito e entendo pelas escrituras, que Deus esvaziou-se do exercício do seu todo-poder, limitando-se, para ter um relacionamento verdadeiro conosco.

Por isso é que Paulo vai nos dizer que: ”Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.”(1 Co 1 v 22-23)

Em todas as culturas – principalmente a helênica – nem um deus morreu por mãos humanas, como o nosso Deus.
Há historias de deuses que foram mortos, mas por outros deuses mais poderosos do que eles.

Daí a pregação do Cristo-homem-Deus ser morto por mãos humanas, ter sido uma loucura para os romanos e mentes da época – e ainda é.

Paradoxalmente, Deus é Deus para além de Deus, mas se fez conhecido por nós.



Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.