Por: Marcio Alves
A História da humanidade está repleta de dor e sofrimento, acidentes e tragédias, catástrofes naturais, guerras, mortes e misérias.
Quando contemplamos Auschwitz, o genocídio de Ruanda, o tsunami na Ásia, terremotos e maremotos que mataram milhares de pessoas, a fome e a miséria na África, o tráfico de drogas, o abuso sexual infantil, nós nos perguntamos onde afinal de contas, está Deus?
Inclusive o suicídio que segundo Camus é o nó górdio da filosofia e teologia, no momento em que o sujeito pega em uma arma para tirar a sua própria vida, onde estaria Deus neste exato momento?
Sendo mais especifico, estariam as mãos de Deus em cima das mãos deste homem, o levando a puxar o gatilho para acabar com sua própria vida?
Em relação ao uma indefesa criança que foi estuprada e que depois foi barbaramente morta, sendo o seu corpo esquartejado, teria Deus em tempos imemoriáveis na eternidade, decidido e escrito, dês do nascimento e até a morte de sua vida, para cumprir um desígnio divino, para trazer gloria para o seu nome?
Mesmo as bondades humanas, seriam realizadas não pelo homem, mas sim por Deus, que está por trás nos manipulado como um boneco de fantoche, ora para fazer o bem e, ora para fazer o mal?
Deus estaria por trás de todo evento humano, seja no micro como no macro, controlando, determinando e guiando a História humana?
Deus seria um diretor de um filme, com o roteiro pronto em suas mãos, dirigindo as cenas em que Ele determinou todos os detalhes?
Somos atores em um palco já montando e pré-determinado, atuando como se fossemos nós, mas na verdade não somos nós quem escolheu e viveu, mas sim Deus?
Até que ponto vai à soberania de Deus, e começa a liberdade do homem?
São muitas as perguntas quando nos deparamos com o mal no mundo e o conceito de bondade de Deus, de soberania divina e livre arbítrio humano, mas longe de dar respostas prontas, quero propor uma discussão no campo das idéias, sugerindo algumas percepções de possíveis respostas nesta longa trajetória do saber teológico.
Três concepções, onde aponto em minhas percepções, o ponto mais forte e o mai frágil, sendo ironicamente e mostrando propositadamente a fragilidade dos argumentos de cada percepção, no mesmo ponto:
A- Deus é soberano controlando e decidindo todos os eventos de sua criação.
Dentro desta concepção, Deus é o grande Rei e déspota, todo poderoso, Senhor da Historia, que conduz como quer a Historia da raça humana, Ele faz o bem, como o mal, decidiu soberanamente desde tempos imemoriáveis e eternos, cada situação, lugar e pessoas, como deveriam viver e morrer.
Ponto forte= Reafirma e solidifica a visão grega de soberania divina.
Ponto fraco= Diminui quase exterminando o amor e a bondade de Deus, nos mostrando uma divindade apática, ao mesmo tempo em que castra a liberdade humana.
B-Deus é parcialmente soberano.
Dentro desta concepção, Deus parcialmente controlaria o mundo e as pessoas, decidindo muitas coisas, mas outras deixando para a escolha parcialmente livre humana.
E mais ainda, Deus seria a causa de tudo que é bom, tendo criado o diabo, ou já sendo diabo – isto cancelaria a “queda de Lúcifer” – e, ou, como um anjo realmente de luz, mas já de antemão sabendo quem ele se tornaria para um propósito eterno, o de ser o juízo de Deus na e sobre a terra.
Dentro desta concepção todo o mal seria causado pelo diabo.
(Parece-me, ser esta o senso comum da grande maioria dos evangélicos atuais)
Ponto forte= O equilíbrio, tentando “salvar” a imagem de um Deus reverenciado e temido por séculos, de sua soberania e onipotência, não tirando a liberdade ainda que parcial do seres humanos, e nem excluindo o amor e bondade de Deus.
Ponto fraco= Contraditoriamente parece ser o mais contraditório, pois ao mesmo tempo, tenta “chupar cana e assobiar”, pois como dizer e saber quais eventos Deus esta controlando e não, e mais ainda, quais seriam os critérios para Deus, por exemplo, impedir uma tragédia, ao mesmo tempo em que permiti outras? Ter o poder de controlar e impedir quando quiser, e mesmo assim, deixar as coisas ruins acontecerem, não faria de Deus culpado?
C-Deus não é soberano.
Dentro desta concepção, Deus não estaria por trás de todos os eventos, sendo justamente o oposto, a exceção seria Ele interferir, e a regra, nós sermos os grandes responsáveis por tudo que acontece de mal ou de bom na terra.
Deus teria aberto mão voluntariamente de sua soberania, e delegado o controle do mundo ao homem, já no ato da criação.
Ponto forte= A liberdade e responsabilidade total humana.
Ponto fraco= Deus não é soberano, diminuição dos “atributos” divinos, exaltação da criatura em detrimento do criador.
A temática está exposta, Deus é, ou não é soberano? Quais serão os pensadores e leitores que se arriscarão corajosamente e dar a sua opinião e tentar desatar um dos nó mais difíceis da teologia e filosofia?
Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.