Por: Marcio Alves
No processo, tanto psicológico como sociológico da fé do
individuo nas crenças de qualquer religião, se inicia como primeiro passo rumo
a solida e inamovível certeza do que se crê e no que se crê, com a incorporação
através do hábito, costume, tradição e ritos, para só depois disso vir a fé em
tais costumes que serão apreendidos ao longo do processo como divinos, embora
seja os próprios humanos de uma determinada religião, que ensinarão humanamente
com ensinos criados pelos próprios homens os iniciados na religião.
Depois disso vem a razão como cereja em cima do bolo, para
justificar intelectualmente e significar as razões e motivos da crença, ou
seja, ela vem apenas explicar e estruturar com argumentos racionais o porque e
pra que das crenças. Eis então o triple da religião: hábito condicionado e
aprendido, fé em tais hábitos e costumes como sendo divinos e sagrados, e
finalmente a razão para argumentar através dos ensinamentos a fé nas crenças. Desse
triple habito + fé + razão e que nasce o sujeito religioso dentro de uma
religião.
Esse analise dos sujeitos religiosos é atemporal, porque não
existe religião sem uma estrutura de costumes, tradições e ritos, como um
templo para se reunir, com hierarquia de sacerdotes, com um conjunto de rituais
que vai desde a simples leitura de um livro como tido como sagrado até orações,
rezas e jejuns. Por isso me aponte uma religião que eu apontarei essa
estrutura, sendo assim, hoje em dia está na moda a própria religião dizer que
não é uma religião, como se o termo religião fosse de alguma forma tido como
pejorativo, mas não adianta inventar ou tentar livrar a religião da “religião”,
pois se tem todo um conjunto e estrutura de costumes religiosos já é em si uma
religião.
Assim como john Wesley disse acertadamente que pregava a fé não
porque tinha fé, mas para ter fé, da mesma forma, os indivíduos religiosos vão
para a religião aprender primeiro os seus costumes e para com tempo, depois de
habituados e condicionados aquela religião, desenvolverem uma mentalidade que
eles chamam de “fé”, mas que na verdade é o nome dado para um pensamento que
foi com o tempo e com a força do hábito desenvolvido.
Depois de toda essa estrutura sociológica e comportamental do
religioso com sua religião, depois de desenvolvida também toda uma estrutura
mental chamada “fé”, só ai que vem a razão para concluir toda essa estrutura,
justificando, explicando, e criando assim um conjunto chamado de doutrinas,
muito bem organizado e coerente dentro daquela visão religiosa.
Por isso que mesmo que venhamos refutar através da razão as
razões da fé, ainda sim, permanece sua maior base, alicerce e força: o costume
e tradição. Um hábito pode as vezes se torna a segunda natureza do individuo, daí
ser quase humanamente impossível o sujeito nascido e criado, formado e
desenvolvido dentro de uma religião, conseguir anos depois desabituar, pois é
sempre muito mais fácil aprender um habito do que desfazer dele, deve ser por
isso, segundo essa minha analise, que a religião hoje, mesmo após tanta
divulgação e facilidade de acesso do conhecimento e evolução cientifica, ainda
continua praticamente imbatível, e, segundo meus cálculos deve continuar,
porque se toda nova geração que surgir for ensinada durante anos por seus pais
a seguir uma religião, isto estará sendo perpetuada ao longo dos séculos,
interminavelmente pelos filhos dos filhos dos filhos e assim por diante, por
isso, daqui a mil anos, aposto que ainda existirá a religião com toda sua força
e imponência.
Contra argumentos racionais se usa argumentos racionais, mas
contra o hábito não há nada que possa fazer, pois o sujeito faz e participa de
todo processo da religião como sendo uma coisa natural e automática, sendo
assim, meus mais sinceros parabéns para os poucos que conseguiram quebrar e romper
com todo esse habito da fé, pois como disse Nietzsche sobre a força do hábito
que “Tudo o que é habitual tece à nossa volta uma rede de teias de aranha cada
vez mais firme; e logo percebemos que os fios se tornaram cordas e que nós nos
achamos no meio, como uma aranha que ali ficou presa e tem de se alimentar do
próprio sangue. Eis por que o espírito livre odeia todos os hábitos e regras,
tudo o que é duradouro e definitivo, eis por que sempre torna a romper,
dolorosamente, a rede em torno de si; embora sofra, em conseqüência disso,
feridas inúmeras, pequenas e grandes - pois esses fios ele tem que arrancar de
si mesmo, de seu corpo, de sua alma (...)” (Nietzsche)
Se qualquer e todo hábito exerce muita força sobre nós, sobre
nosso comportamento, sobre nossa mente, imagina o hábito religioso que eu
considero o maior de todos, por justamente ser tido e crido como divino,
sobrenatural, vindo de Deus, de sua vontade para nós, será muito mais ainda difícil
de si desabituar, por isso, mesmo quando o sujeito religioso deixa sua
religião, mesmo quando ele se torna ateu, ele sente falta do hábito que ele
mantinha dentro da religião, ou como disse Nietzsche que “(...) ele tem que
arrancar de si mesmo, de seu corpo, de sua alma (...)”
Por isso que todo processo de descrença e desreligiosidade
causa dor, angustia e sofrimento infindáveis psíquicos e afetivos, pois com o
tempo, o sujeito religioso não aprende a desenvolver somente uma fé, mas também
um sentimento, um amor pelo hábito, pela crença, pelo grupo a qual pertence e
principalmente pela ideia, imagem e representação de Deus.