Por Edson Moura
Todos estão acostumados com a célebre frase: “Ser ou não Ser, eis a questão” recitada por Hamlet em sua tragédia. William Shakespeare, sem dúvida alguma, acabou por imortalizar uma das mais conhecidas falas da literatura mundial. Mas hoje, em pleno século XXI, poucos de nós sequer imaginam que não “somos” e sim “estamos” algo.
Sem querer massacrar a gramática, o que deveríamos perguntar às pessoas que se apresentam a nós, não é: “Quem é você?”. E sim: “Quem está você?” Explico:
A expressão “ser alguém” carrega consigo uma idéia de permanência que, na língua portuguesa, pode ser corrigida para “estar alguém” como uma perspectiva temporal, bem mais aceitável quando analisamos o comportamento do indivíduo.
As experiências que passamos no nosso cotidiano nos desafiam a nos reorganizarmos constantemente, seja reafirmando nossos valores, ou modificando-os completamente. A cada nova situação experimentada, somos colocados diante de desafios que nos transformam, trazendo à tona novas capacidades, medos, potencialidades e dificuldades que até então eram desconhecidas por nós.
Quando nos deparamos com algo novo, uma situação de pressão qualquer, o “ser” que éramos instantes atrás, pode suscitar atitudes completamente novas, tornando-nos um outro “eu”. É claro que esta atitude não representará uma ruptura total com o “ser” que éramos no passado, mas, modificará, muito ou pouco, o que passamos a ser daí para a frente.
Muitos imaginam que eventos traumáticos são os que mais colaboram para que uma pessoa mude de comportamento, mas não é bem assim, pelo contrário, os eventos cotidianos podem se mostrar muito mais reveladores do que os grandes acontecimentos. As mudanças traumáticas e repentinas com certeza podem ser percebidas com mais clareza dos que as alterações cotidianas, mas o fato de algo acontecer em escala reduzida, quase imperceptível, não o torna menos importante na complexa montagem de um ser humano.
Se hoje eu olhei com desejo uma garota que não passou dos 12 anos ainda, ou se eu não socorri uma pessoa acidentada, por estar mais preocupado com o meu horário de assistir ao Jornal Nacional, essa atitude, talvez inesperada por mim mesmo, esteja revelando que minha ética é diferente do que eu pensava até instantes atrás.
Essas transformações inerentes ao ser humano ficam mais fáceis de serem percebidas quando aumentamos o espaço de tempo. Ao compararmos nosso “eu” de agora, com o “eu” de 15 minutos atrás não nos é revelado uma grande mudança, embora já tenhamos mudado. Mas, quando comparamos o “eu” de hoje, com o “eu” de 15 anos atrás, as transformações tornam-se mais evidentes. Quais eram minhas crenças?... Minha perspectiva de vida?... Quais roupas eu considerava bonitas?...Com quais amigos que eu preferia conversar e etc...
Se nos encontrássemos com nós mesmos há 20 anos, sentiríamos orgulho, ou vergonha? Resumindo:
Hoje você é uma pessoa completamente diferente da pessoa que era há 20 anos, mas, ao mesmo tempo, carrega traços da pessoa que era no passado. Portanto, posso reescrever esta última frase. Ela ficaria assim:
Hoje você “está” uma pessoa completamente diferente da que “estava” há 20 anos, mas, ao mesmo tempo, carrega traços da pessoa que “estava” no passado. E lembre-se: “O mesmo homem jamais poderá banhar-se no mesmo mar”.
Edson Moura
Texto bem coerente, e que faz pensar realmente. Não é a mudança gramatical simplesmente, mas a mudança de conceitos.
ResponderExcluirEu prefiro o ser pelo fato de minhas mudanças serem mais sutis e graduais. Para mim combina mais com a ideia de "ele é uma criança", ou "ele é tão esperto". Mas, realmente, algumas pessoas sempre "estão" pessoas diferentes.
Abraço
Sempre estamos acostumados a pensar que somos o que pensamos que somos. Tolice, essa.
ResponderExcluirComo seres caminhantes, nunca somos,porque a paisagem que observamos hoje nunca é a de amanhã.
O Máximo que podemos dizer é: Hoje, para mim, o dia ESTÁ assim..."
Parabéns, pelo banimento do verbo SER, a favor do verbo ESTAR.(rsrs)
Sandro, obrigado pelo comentário. De fato, uma criança "é" uma criança, pois estamos falando de estado físico. Por Exemplo: Posso dizer que "sou"uma pessoa agora, e serei a mesma daqui a poucos minutos. No entando, a parte que mudará, não será a físiológica e sim a comportamental, sendo assim, continuarei "sendo" uma pessoa, mas não a mesma.
ResponderExcluirAbração Sandro, gostei muito do seu comentário, ainda podemos levantar outro tema, sobre o que é ser alguém, que tal?
Leví meu mestre Bronzeado, eu não mereço parabéns por isso, mas sim você. A idéia de estudar e escrever sobre o assunto veio de um de seus comentários há mais ou menos dois meses.
ResponderExcluirLembro que no momento até discordei de você, mas depois reconheci que você estava certo, eu apenas não estava entendendo o que tentavas me explicar.
Quando falamos de ser humano, a primeira palavra que me vem à mente hoje é IMPERMANÊNCIA.
Obrigado pelo comentário e pela inspiração.
Edson Moura,
ResponderExcluirEstás falando do ser e do estar, ou do ser ou estar?
O ser é parte do MEME, é imutável. O estar é GENE, portanto, mutante. Em momentos o MEME estava, por ser etéreo. Mas o GENE não, por ser atômico.
STEVE GRAND te convida a pensar numa experiência de infância. Algum evento que você consiga ver, sentir como se estivesse
lá. Afinal de contas, você estava realmente lá naquela época, não estava? Senão, como iria lembrar?
Aqui vem a bomba! VOCÊ NÃO ESTAVA LÁ. Nem um único átomo que está em seu corpo hoje estava lá quando isto aconteceu. Nem um pedaço da sua unha, ou cabelo, ou pele, ou osso esteve lá. A matéria flui de lugar para lugar e por um isntante reune-se para formar você.
O que quer que você seja, portanto, você não é aquilo de que é feito.
Abraços.
Caramba Altamirando, ainda estou tentando digerir isto que você escreveu?
ResponderExcluirSe a teoria do Steve Grand estiver correta, será preciso reconsiderar muita coisa no meio acadêmico. Mas ao que me parece, você não discorda da teoria comportamental presente no artigo, não é? Esceto pelo fato de a pessoa de hoje não ser de forma alguma a mesma pessoa de 20 anos atrás.
Logo, a pessoa do passado não "fisicamente", nem "comportamentalmente" a mesma.
Mas ao analisarmos a teoria da "MEME" difundida por Dawkins, poderemos observar que hoje ela já fugiu um pouco do ideal Dawkiniano.
A meme é considerada uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se.
Os memes podem tanto ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autônoma. Ou seja, Meme é apenas transmissão de informação de uma mente para outra, numa analogia simplista, podemos considerá-la semelhante a um vírus, e não replicares de comportamento como sugeria Dawkins, logo, o meme também é mutante.
Obrigado Altamirando pelo comentário, como sempre, você à lúz teorias ainda desconhecidas por muitos de nós, o que é bom, pois nos "obriga" a aprender mais. Obrigado!
Edson Moura, vamos por parte.
ResponderExcluirNão discordo da teoria comportamental presente no artigo, reitero-a.
Para que ocorra a evolução, não basta o mecanismo da hereditariedade e da seleção natural; é igualmente necessário a possibilidade de mutação, propriedade que também é atribuida ao meme. Uma outra característica que os memes partilham com os genes é o fato de sobreviverem para além dos indivíduos que os transportam.
O meme só pode ser observado num reduzido número de espécies terrestres, caso dos hominídeos, golfinhos e aves.Pode no entanto ser alegado que existem memes menos complexos noutras espécies. O assunto é extenso mas já deu para servir de título.
Ser ou estar. Não sou, não estou, mas fui.Agora já era!
Abraços.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá Edsinho, voltou senhor filósofo, que bom.
ResponderExcluir"Quando nos deparamos com algo novo, uma situação de pressão qualquer, o “ser” que éramos instantes atrás, pode suscitar atitudes completamente novas, tornando-nos um outro “eu”. É claro que esta atitude não representará uma ruptura total com o “ser” que éramos no passado, mas, modificará, muito ou pouco, o que passamos a ser daí para a frente."
Ou será que vem à tona o que somos e não sabemos?
"
Muitos imaginam que eventos traumáticos são os que mais colaboram para que uma pessoa mude de comportamento, mas não é bem assim, pelo contrário, os eventos cotidianos podem se mostrar muito mais reveladores do que os grandes acontecimentos[...]"
Concordo plenamente com você.
Beijos.
Fala Edsonsinho, lindinho, gostosinho, viadinho, bebesinho tudo bem com você? Respeite meu descanso sabatico uahsuahsuahsua!
ResponderExcluirGuiomar minha linda, que bom vê-la por aqui. Olha Guiomar, essa coisa de vir à tona o que somos por dentro, também é verdade. Mas sempre podemos conviver com nosso "monstro interior", aliás, devemos, todos nós, termos esse ser escondido. Mas o que quero dizer com o texto, é que, à longo prazo, nossos monstros ou anjos, afloram e acabam por assumir de vez nossa personalidade, ou seja, o monstro que estava escondido, nada mais é do que eu, ou você hoje.
ResponderExcluirAbraços minha linda!
Gresder, vou respeitar seu descanso, afinal, sei que estás escrevendo um novo tratado sobre sexualidade, e, à medida que fores postando, irei comentando.
ResponderExcluirAbraços mano!
Altamirando, ainda vou responder ao seu comentário, não pense que deixei de lado. Apenas preciso de um pouco mais de tempo para que minhas palavras não sejam superficiais. Sei que és um bom debatedor, e também sei que posso aprender muito com você.]
ResponderExcluirPs. Fiquei muito contente ao saber que agora és integrante da Confraria dos Pensadores fora da Gaiola. Seja bem vindo!
Eu estou em outra sempre, mas me sinto o moleque que eu fui um dia, me sinto o mesmo de dez anos atrás, de vinte anos atrás. Sou escravo absoluto do meus Ser, mesmo que este esteja em constate mudança.
ResponderExcluirquando eu li há um tempo que todos os átomos do meu corpo estão em constante mudança eu fiquei bem pensativo. aliás, tema semelhante ao texto do jl que está agora na confraria.
ResponderExcluirfalando nisso, edson, você vai postar lá na sua vez? espero que sim, estamos com saudades. suas e de noreda...heeee
Pois é Gresder, sempre podemos nos "sentir" os mesmos de 10 anos atrás, mas não estamos entende?
ResponderExcluir"Sentir" é diferente de "estar", embora para sermos algo, precisemos sentirmo-nos algo.
Vou postar na Confraria sim Edu, só preciso saber quando é minha vez. Estou meio perdido no cronograma da Confraria mas não deixarei de escrever algo por lá.
ResponderExcluirAbraços Edu!
Então Altamirando, uma vez qoe o Meme também é mutante, pelo menos em partes, podemos afirmar que não estamos a mesma pessoa nem biologicamente nem comportalmente, esta segunda, com características mais evidentes uma vez que, traços fisiológicos sejam mais difíceis de se alterar.
ResponderExcluirAgradeço a sua participação por aqui meu amigo!
Edson Moura, obrigado pela observação, mas não me superestime, sou só um curioso leitor. Bem!..
ResponderExcluirO meme, apesar de mutante, não transmite características contidas no DNA.Como exemplo; as fisionômicas e/ou fisiológicas.
Nós trazemos caracteristicas da personalidade de nossos pais e também de seus dons através do meme. A ciência já consegue provar que alguns transplantados herdam, através do órgão, algumas características sensitivas, como a musicalidade, do doador. Os bons ensinamentos são difíceis de serem transmitidos. É bom rever o critério de adoção, pois seu adotado pode ser filho de um pária. Não nascem borboletas em ninho de escorpião. A culpa é do meme. He,he,he...
Abraços
Mais uma novidade pra mim Altamirando. Eu que pensava que os traços de personalidade sempre seriam transmitidos ou inseridos, unicamente pelos fatores ambientais. Exemplo de um casal homossexual que adota uma criança gerada de pais absolutamente héteros, os fatores ambientias como, convívio, educação no lar, comportamento dos pais, seriam o agente causador de uma futura homossexualidade, e não apenas o Meme.
ResponderExcluirOu no caso de uma menina, filha de uma prostituta com um cafetão, estaria ela condenada a carregar "maldição" que sua mãe deixou-lhe?
Um sábio da antiguidade disse certa vez:
"As uvas verdes que os pais comeram, jamais amargaram a boca de sua descendência".
Abraços Altamirando.
Há várias nuances, do empirismo, ao meio e a excessão de regra. Mas se tem o gene, pode ter o meme.
ResponderExcluirNão acho que a homossexualidade esteja diretamente ligada à educação ou criação. O meio pode perverter, mas induzir a ser, não.
Dificilmente a Sorbone transformará em DAMA, a filha de uma prostituta com um cafetão. Aí, o meme é imbatível. He,he,he..
Altamirands interessante você citar Sorbone, mas acredito (ou quero acreditar) que o ser tem uma chance de ser totalmente diferente, do que são seus pais, pois o inverso dessa situação nos é apresentado constatemente, ou seja, filhos de pessoas íntegras, inteligentes, notórias, geniais, que não herdaram de seus pais nem uma centelha das qualidades, como é o caso de Eduard Einstein, o filho do gênio que fora esquecido em um sanatório.
ResponderExcluirSe o homem realmente estiver fadado a carregar os genes e os memes de seus genitores, podemos então dizer que não há esperança para a humanidade. Não posso aceitar a máxima popular "filho de peixe, peixinho é".
Sorbone pode até não transformar em dama uma herdeira-memética de meretriz, mas sendo assim, Harvard também não pode tranformar o filho de um lenhador em filósofo.
Abraços!
Em parte até que você tem razão, Edson Moura. A natureza humana sofre transformações indefectíveis. Existem paridades inexpugnáveis como a Sorbone e a filha da prostituta, Harvard e o filho do lenhador e a escola que transformou um vendedor de laranjinha morrente em presidente sem sair do analfabetismo. Nestes casos há exclusão do gene, meme e meio. He, he..
ResponderExcluirAbraço.
Altamirando, quanto à questão da natureza humana, não vou escrever aqui pois acabei de escrever sobre isso na Confraria, na postagem do professor J. Lima, mas agora fiquei confuso com a questaão da exclusão do Gene, do meme e do meio. Não seria esta uma grande contradição dos estudiosos?
ResponderExcluirEdson Moura, para provar que toda regra tem excessão. Até no inolvidável.
ResponderExcluirAbraço.