Por Edson
Moura
Está
muito na moda hoje em dia, pendurados em postes, ou sendo entregues por panfleteiros
na saída do metrô e nos pontos de ônibus, dizeres da alguns gurus. É “pai isso”
“pai sei lá o quê”, que faz amarração, trás a pessoa amada de volta, e com 100%
de garantia. É só agendar uma consulta espiritual onde os búzios serão jogados
e o futuro será revelado. Obviamente essa consulta não será de graça, e digo
mais, não será barato. Outros evocam espíritos de pessoas mortas ou de
entidades que já alcançaram a “iluminação”.
As
sessões de espiritismo só se praticam em habitações em penumbra onde é muito
difícil ver os visitantes fantasmagóricos. Se acendermos a luz e, em consequência,
termos a oportunidade de ver o que ocorre, os espíritos desaparecem. Dizem que
eles são tímidos, e algumas das vítimas acreditam. Nos laboratórios de
parapsicologia do século XX, existe o “efeito observador”: pessoas descritas
como psíquicos, médiuns, ou canalizadores relatam que seus poderes diminuem
claramente sempre que aparecem os céticos, e desaparecem de tudo em presença de
um prestidigitador preparado como. O que precisam é escuridão e credulidade.
Principalmente credulidade.
Uma
menina pequena que tinha colaborado em um famoso engano do século XIX (se
comunicava com os espíritos e os fantasmas respondiam as perguntas com fortes
golpes) confessou ao fazer-se maior que tinha sido uma impostora. Fazia ranger
a articulação do dedo gordo do pé. Até demonstrou como o fazia. Mas a desculpa
pública obviamente foi ignorada. Começou a circular a história de que os
céticos fanáticos a tinham obrigado a fazer aquela confissão.
Teve
também o caso dos britânicos que confessaram ter feito “círculos nos campos de
cultivo”, figuras geométricas que apareciam nas plantações (teve até um filme
do Mel Gibson). Não eram artistas extraterrestres que trabalhavam com o trigo
como se fora sua maneira de comunicar-se, a não ser dois homens com uma prancha,
uma corda e certa propensão a brincar. Entretanto, nem sequer quando
confessaram como o tinham feito trocou a opinião dos crentes. Discutiram que
podia ser que alguns círculos fossem uma fraude, mas havia muitos, e alguns
pictogramas eram muito complexos. Só os podiam ter feito os extraterrestres.
Pouco depois, em Grã-Bretanha, outros confessaram ser os autores. Mas, e os
círculos nos campos de cultivo no estrangeiro, na Hungria por exemplo, como
pode explicar-se isso? Então uns adolescentes húngaros confessaram ter copiado
a ideia.
Para
comprovar a credulidade de um psiquiatra especialista em abduções como
extraterrestres, uma mulher se apresenta como abduzida. O terapeuta está
entusiasmado com as fantasias que vai fiando. Mas, quando lhe anuncia que tudo
é uma fraude, qual é sua resposta? Voltar a examinar suas notas ou seu enfoque
desses casos? Não. Em dias distintos sugere: 1) Que, embora não seja
consciente, em realidade foi abduzida; ou 2) Que está louca: afinal de contas
foi ao psiquiatra não? 3) que ele estava
consciente da brincadeira desde o começo mas se limitou a ir soltando corda até
que ela se enforcasse.
Um astrólogo
põe um anúncio em um jornalzinho meia boca oferecendo um horóscopo grátis.
Recebe aproximadamente cento e cinquenta respostas nas que se detalha, como
pedia, o lugar e data de nascimento. Todos os participantes recebem a seguir um
horóscopo idêntico, junto com um questionário onde lhes pergunta sobre a
precisão das afirmações. Noventa e quatro por cento dos que respondem (e
noventa por cento de suas famílias e amigos) respondem que, mesmo com uma
margem de erro, podiam reconhecer-se no horóscopo. Entretanto se tratava de um
horóscopo redigido para um assassino em série. Se um astrólogo pode chegar tão
longe sem conhecer sequer a seus clientes, imaginemos aonde poderia chegar
alguém sensível aos matizes humanos e não excessivamente escrupuloso.
Por
que é tão fácil sejamos enganados por adivinhos, videntes psíquicos,
quiromantes, pastores evangélicos, leitores de folhas de chá, do tarot , e
pessoas desta índole? Certamente, captam nossa postura, nossas expressões
faciais, a maneira de vestir e as respostas a perguntas aparentemente inócuas.
Alguns deles o fazem com brilhantismo, e essas são coisas das que muitos
cientistas não parecem ser conscientes. Também há uma rede informática a que se
assinam os psíquicos “profissionais”, com a que podem dispor dos detalhes da
vida dos pacientes de seus colegas em um instante. Uma ferramenta chave é a
chamada “leitura fria”, uma declaração de predisposições opostas com um
equilíbrio tão tênue que qualquer poderia reconhecer algo de verdade nela. Aí
vai um exemplo:
“Às vezes é extrovertido, afável, sociável,
enquanto outras vezes é introvertido, precavido e reservado. Tem consciência de
eu não vale à pena ser muito franco e se revelar totalmente aos outros. Prefere
certa dose de mudança e variedade, e fica insatisfeito quando se vê rodeado por
restrições. Disciplinado e controlado por fora, tende a ser apreensivo e
inseguro por dentro. Embora sua personalidade tenha pontos fracos, acredita ser
capaz de compensá-los. Tem muitas capacidades que não estão sendo usadas, que
não transforma em si. Tem tendência a ser crítico contigo mesmo. Tem uma grande
necessidade de gostar a outros e de se sentir admirado”.
Quase
todo mundo encontra reconhecível esta caracterização e muitos consideram que os
descreve perfeitamente. Ora, não é de se estranhar, todos somos humano.
A
lista de “provas” que alguns terapeutas acreditam que demonstram um abuso
sexual na infância reprimido, é muito larga e prosaica. Inclui transtornos do
sonho, excesso de comida, anorexia e bulimia, disfunção sexual, vaga ansiedade
e inclusive uma incapacidade de recordar o abuso sexual da infância. Outro
livro, da Assistente Social W. Sue Blume, enumera entre outros sinais que
denotam um incesto esquecido: Dores de cabeça, suspeita ou ausência de
suspeita, paixão sexual excessiva ou ausência dela, e a adoração aos pais.
Entre os pontos de diagnóstico para detectar famílias “desestruturadas”
enumerados pelo Dr. Charles Whitfield se encontram: “aflições e dores”,
sentir-se “mais vivo” em uma crise, estar ansioso frente a “figuras de
autoridade” e ter “procurado aconselhamento ou psicoterapia”, sentindo
entretanto “que lhe falta “alguma coisa”. Como a leitura fria, se a lista for o
bastante abrangente e ampla, todo mundo terá “sintomas”.
Enumerei
estes relatos, apenas para mostrar como estamos sujeitos aos enganadores, sejam
eles pastores, médicos (terapeutas principalmente), gurus, pais de santo,
mágicos, médiuns que psicografam cartas do além, enfim, uma gama de charlatães
que usam sua capacidade incrível de raciocínio para enganar àqueles que não
querem usar a sua.
O
exame cético não é só um instrumento para extirpar o charlatanismo e a
crueldade que oprimem os que são menos capazes proteger-se e têm mais
necessidade de nossa compaixão, as pessoas a quem são oferecidas poucas
alternativas de esperança. É também um lembrete em tempo, de que os comícios monstro
organizados por igrejas e também por candidatos a cargos públicos, a televisão
e o rádio, a imprensa, o marketing eletrônico e a tecnologia encomendada pelo
correio permitem que outros tipos de mentiras sejam injetados no corpo político
(para se tirar proveito dos frustrados, dos incautos e dos indefesos, numa
sociedade crivada de males políticos que estão sendo tratados com ineficiência,
se é que são tratados de alguma forma.
Não
bastasse ter que lutar contra toda a corja de malandros que passeiam pelo
congresso, desfilando com seus carros blindados mantidos com nosso dinheiro,
ainda temos que enfrentar outros ladrões que enfiam a mão no bolso do cidadão
inocente (burro diria), e arrancam os poucos trocados que ainda possuem, para barganhar
com deus por uma benção cem vezes maior.
Não é curioso como toda nossa evolução tecnológica não superou o misticismo? E nem mesmo o cristianismo clássico, que sempre condenou o misticismos pagãos (a não ser é claro, com o misticismo cristão mas que também não era muito bem vista pela cúpula da igreja).
ResponderExcluir"Uma menina pequena que tinha colaborado em um famoso engano do século XIX (se comunicava com os espíritos e os fantasmas respondiam as perguntas com fortes golpes) confessou ao fazer-se maior que tinha sido uma impostora.
Você se refere ao caso das irmãs Fox cujas experiências com "espíritos" deu origem ao kardecismo?
"Um astrólogo põe um anúncio em um jornalzinho meia boca oferecendo um horóscopo grátis.."
é realmente impressionante que alguém ainda leve a sério horóscopo de jornal...
"O exame cético não é só um instrumento para extirpar o charlatanismo e a crueldade que oprimem os que são menos capazes proteger-se e têm mais necessidade de nossa compaixão, as pessoas a quem são oferecidas poucas alternativas de esperança...
O exame cético é de fato, importante para abrir os olhos das pessoas "oprimidas", mas meu caro Noreda, o que o ceticismo radical e o ateísmo tem a oferecer como "esperança" às pessoas?
Que o universo é um acidente que veio do nada?
Que a vida complexa na terra (que só existe devido a um refinado "princípio antrópico") é uma bobagem que não tem sentido?
Se a vida é uma bobagem sem valor algum em si mesma(como defendeu nosso amigo aprendiz de psicólogo lá na CPFG) o que resta como esperança para as pessoas? Viver prá quê se a vida é uma bobagem acidental?
Que esperança pode existir de fato num universo sem sentido? Tal esperança oferecida pelo ceticismo e o ateísmo (se de fato esperança fosse), não passaria também de uma ilusão.