Pobre de nós ateus que, como
cordeiros ingênuos, caímos em covis de lobos ferozes. Pobres de nós ateus que
somos vilipendiados pelos intolerantes crentes, e não temos nem sequer a
oportunidade de manifestarmos nossa opinião, pois tudo que falamos é tolice.
Crentes estes que esqueceram que divino era só o mestre Jesus, e eles, assim
como nós ateus, tombaremos sobre a mesma terra e apodreceremos a medida em que
somos devorados pelos vermes. Vermes estes que, ao contrário do que disse o
messias, acabará ao ver que nada de nós existe mais para ser consumido.
Pobre de nós ateus, que
no
início de nossa descrença ficávamos preocupados com o fato de nossas
atitudes
estarem fazendo mal aos irmãos que ainda creem. Pobre de nós ateus que
não
falamos para nossos filhos e para nossas velhas e crentes mães que Deus
não existe mesmo. Pobre de nós ateus que nos calamos quando lá dentro,
uma voz implorava
para que gritássemos nos ouvidos dos crentes que nos aporrinham o saco
com suas
idiotices, que Jesus não salva ninguém, que céu é lugar de zumbi, e que é
preciso ser por demais burro para acreditar em histórias tão absurdas
como as
que são contadas na Bíblia "Constantinizada".
Pobre de nós ateus que
sofremos... sim, sofremos ao ver que não adianta nada falar que a ilusão
da fé
é o maior freio-social que já puderam impingir ao homem. Sofremos por
vermos nossos
irmãos... sim, irmãos, padecerem sob o jugo de pastores, padres, líderes
espirituais de todos os tipos, sendo levados para um caminho de negação,
flagelação de consciência, repressão de desejos humanos, (desejos
estes, demasiado
humanos), estoicismo em pleno século XXI e falência de intelecto.
Pobre de nós ateus, que
não
queremos o mal de ninguém, que procuramos viver em paz com todos, que
desejamos
ajudar, ou melhor, agimos em prol daqueles que necessitam de auxílio,
seja ele
financeiro, sentimental, ou moral. Pobre de nós ateus que não oramos
para que o
mundo se torne um lugar tolerável, ao contrário disto, nos empenhamos em
deixar
filhos melhores para este mundo e não um mundo melhor para filhos maus.
Pobre
de nós ateus, que não temos ajuda de cima, que não somos socorridos por
deuses,
que não somos protegidos por um criador, que vivemos na angustia,
aguentando calado a náusea causada pelo enfrentamento da realidade.
Pobre de nós ateus, que
olhamos
para o céu e só vemos o negro do espaço disfarçado de azul pelas muitas
camadas
de atmosfera, não olhamos além disso, não esperamos ser notados nem
amparados em meio aos conflitos sociais e existenciais, estamos sós, e
sós permaneceremos sempre... pobre de nós ateus que não temos alma nem
espírito, que não possuímos a pneuma divina em nosso interior, que nos garantirá a vida eterna ao lado do criador se bom formos.
Pobre de nós ateus, que não nos
prendemos a histórias antigas, daquelas que as crianças fantasiam e acabam por
usá-las como válvula de escape para seus medos interiores. Pobre de nós, que não conhecemos os mistérios
do reino, que não temos sobre nós o sangue do cordeiro, que seremos atirados no
lago de fogo e enxofre, apenas para satisfazer os caprichos desse deus
mesquinho, apático e mimado chamado Jeová.
Pobre de nós ateus, que
desejamos
que todos vivam, e vivam com abundância, enquanto que para nós é
desejado apenas a
morte... a pior delas, a saber, a morte da alma. Pobre de nós ateus que
já
ardemos em fogueiras "santas", queimados como hereges... mal sabendo
eles que os hereges são todos aqueles que acendem a pira e contemplam as
chamas lamberem a carne do incrédulo. Pobre de nós ateus
que não cremos em nada e mesmo assim somos chamados de filhos do
demônio, decepcionados, frustrados e carentes de uma experiência
verdadeira de fé. Será que
eles não percebem que o "demônio" aplaude e faz festa ao ver um irmão
condenar o outro ao "inferno"?
Pobre de nós ateus, quando vemos que a loucura torna-se lógica quando a verdade
torna-se indiscutível. Foi o que ocorreu também durante a Inquisição: para
salvar a alma do desgraçado ateu, exigiam que ele admitisse estar
possuído pelo diabo; se não admitia, era torturado para confessar e, se
confessasse, era queimado na fogueira, pois só assim sua alma seria salva. Tudo
muito lógico. E os inquisidores, donos da verdade, não duvidavam um só momento
de que agiam conforme a vontade de Deus e faziam o bem ao torturar e matar os pobres ateus.
Pobres, sim, somos
pobres ateus,
mas não apreciem estas linhas com o lamentos, e sim como regozijo, pois
são
justamente estes pobres ateus que experimentarão as maravilhas do mundo,
que
errarão tentando acertar, que perder-se-ão buscando novos caminhos, que
perguntarão e não obterão respostas, e essas dúvidas serão o combustível
que os levarão a entender que não possuem a verdade de nossa
existência, que não se conformarão com o mal deste
mundo, mas antes, se transformarão pela renovação constante de seu
entendimento, experimentando assim, a boa, perfeita e agradável vontade
da natureza humana.
Enfim...
Pobre de nós ateus que
não temos
crise de consciência (mentira, temos sim), somos ateus, e eu pelo menos,
pregarei o ateísmo até que a matéria orgânica que me compõe exaura suas
energias, fato conhecido como morte. Morrerei negando a existência de
qualquer tipo de deus. Nego-me a
desperdiçar minha última palavra com algo que não seja um alto e sonoro:
"Deus não
existe". Aliás...consciência? O que é isto senão uma maneira mais
educada,
e polida para disfarçar a palavra...covardia.
Noreda Somu Tossan
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