Droga!!!
Por que a perfeição do outro me incomoda tanto? O cara é bonito,
rico, porte atlético, inteligente...tantas mulheres o querem. E eu
assim, magrelo, feio, pobre e a pé. É como diria Fernando Pessoa:
“Só vejo príncipes! Quem me dera ouvir de alguém a voz humana.
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não
uma violência, mas uma covardia!
Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?” Mas tenho um acalento...e não é o álcool.
Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?” Mas tenho um acalento...e não é o álcool.
Elas
não estão satisfeitas com a perfeição, não, querem mais..muito
mais. Querem perscrutar, virar do avesso, descobrir a carne, revelar
os músculos e os vasos e achar ali, bem no fundo, no fundo, no fundo
do ser masculino, um defeito que o torne tão vil quanto eu. E acham.
Sim, sempre acham um defeito parte, que será analisado como se o
todo fosse. Ele tem mal hálito, ele é mulherengo, ele sai aos
domingos pra jogar futebol com os amigos e me deixa só, ele tem o
pau pequeno, torto, grande demais sei lá, ele tem um defeito.
Porra,
não dá! Perfeito só Deus! E o cara é tão egocêntrico (Deus) que
não se preocupa em asseverar o tempo todo que só Ele é assim, e
por ser assim, precisou criar um ser que não fosse como ele, para
que não perdesse o posto de “fodão”. Mandou um pra cá que
também era perfeito, mas logo trataram de apontar suas falhas: “Ele
anda com putas e ladrões, ele deixou de socorrer um amigo que estava
morrendo em Betânia, Ele era frouxo e chorava sozinho pedindo para
que lhe afastasse o cálice, ele expulsava demônios em nome do
Diabo, ele abraçava leprosos (que nojo), Crucifiquem o Príncipe,
mas ponham-lhe antes uma coroa de rei, só pra sacanear.
Novamente
me tranquilizo, e de novo não é com o álcool como o poema sugere.
Acham defeito em tudo, em todos, porque não encontrariam em mim? Se
nem a natureza é perfeita, ora, flores de várias cores, seres de
várias espécies, planetas de vários tamanhos, mas tem tsunami,
furacão e terremoto. Tem homem que nasce mal (defeito na natureza
humana), tem homem que nasce bom e a sociedade o corrompe (defeito da
sociedade), tem outros que nascem neutros (ser neutro é não ter
características, logo, defeito também).
Quero
ser franco me chamam de mal educado, quero ser honesto me chamam de
trouxa, quero ser ético me chamam de demagogo, quando quero ser
romântico o título que ganho é de fresco, viado, sem pegada, mas
quando resolvo ser homem, aí sou machista, bruto,
insensível...grosso. Então prefiro mentir, prefiro ser dois, três
e até quatro pessoas diferentes dentro de um só ser. Agrado falando
o que querem ouvir, finjo o tempo todo ser o que elas querem que eu
seja. Deixo-me usar como um pedaço de carne, como um lenço pra
enxugar lágrimas (descartável de preferência), sou apenas um
absorvente sem abas que dá conforto mas só querem me ver nos dias
ruins, e assim vou enganando a elas e a mim.
E
mesmo esses, aparentemente perfeitos, o Grey de todas as mulheres,
mesmo esses devem ter um defeito que vai incomodar cedo ou tarde, por
isso, elas preferem deixá-lo, traí-lo, ignorá-lo, pois não estão
prontas para o homem perfeito. Na verdade acho que nem querem um,
porque se tiverem... a quem vão poder apontar o dedo e vomitar
impropérios numa DR de pelo menos duas horas? Se o cara não tiver
defeitos elas não vão ter sempre razão, e não há tragédia pior
para uma mulher do que não ter sempre razão.
É
Fernando... em linha reta não dá pra agradar.
Edson
Moura
Perfeito só Deus! E o cara é tão egocêntrico (Deus) que não se preocupa em asseverar o tempo todo que só Ele é assim, e por ser assim, precisou criar um ser que não fosse como ele, para que não perdesse o posto de “fodão” (Edson Noreda)
ResponderExcluirO pedaço das tuas “assombrações” acima replicado, me fez lembrar da tua postagem provocadora lá na C.P.F.G. em março e 2011, da qual destaco esse trecho.
Sou ateu graças a Deus!
Seu deusinho não existe
Será que você é cego?
O Deus que tu acreditas
É o mesmo deus que eu nego
Não passa de um fantasma
Criado pelo seu ego
Já que ventilamos aqui a palavra autopsicografia, se substituirmos esse termo arquetípico “Deus” por pai, entenderemos melhor o sentimento de ódio e amor, do trecho seu que repliquei no topo desse comentário.
A auto-reflexão com certeza dirá: “desde a nossa tenra infância guardamos em um lugar secreto demais as exigências de nosso pai natural, que sempre queria o impossível: “que fôssemos perfeito”, como PERFEITO fosse o ato de nos vestirmos com uma bela roupa para uma festa de atmosfera alegre. O caráter da obrigação paterna se ainda nos angustia, pelo menos nos faz escrever pérolas que tem seu fundo original lá no inconsciente – instância onde escondemos crimes não ditos e pensamentos inconfessáveis. Mas o bom mesmo é por nas letras o que vai na alma, mesmo sabendo que nos espaços vazios entre as palavras ou nas entrelinhas reside a mudez desse incompreensível pai natural que, como uma imagem gravada indelevelmente em nossas profundezas psíquicas, tem o condão de nos inspirar a colocar no papel as nossas dores de forma agradavelmente poética.
Mas o nosso poeta maior, Fernando Pessoa de tanto se exercitar nessa arte, em sua Autopsicografia, chegou a seguinte conclusão:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Voltando a teu verso do “Sou Ateu Graças a Deus” que repliquei provocativamente: A nós, pequenos poetas e filósofos de rua, pela vida afora, só nós resta REAGIR, negando de nosso pai natural (herói, mas cheio de defeitos) a imagem que dele ficou de um Pai divinizado. Pai imaginário que o nosso sombrio mundo interno (psique) nos faz querer crer.
Abçs, caro amigo e provocador, Noreda