sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O problema da liberdade e autoconhecimento


Penso que se tem uma coisa que não combina, é “liberdade” e “autoconhecimento”. No autoconhecimento está embutida a ideia de determinismo: só podemos conhecer aquilo que é passível de ser conhecido, e só é passível de ser conhecido aquilo que pode ser considerado como determinante ou determinismo. Ou seja, para nós dizermos que podemos chegar a nos autoconhecer, é que existem em nós, causas determinantes, que por serem determinantes, são fixas, imutáveis, incontroláveis – nesse aspecto, faz sentido as ciências sociais (antropologia, sociologia, psicologia e etc) dizerem que o bandido é “vitima” da sociedade, da situação, do contexto.
Ora, sendo assim, só podemos nos autoconhecer se admitirmos que não somos livres, que a liberdade inexiste, de que não passa de uma mera ilusão. Porque entendo que ser livre, implica em não ter causas determinantes que atuem em nós ou por nós, decidindo a todo o momento quais passos vamos dar sem escolhermos se queremos ou não dar. Nesse sentido, ser livre é ser indeterminado, e ser indeterminado, significa que não há o que autoconhecer, prever, porque tudo pode mudar em nós – aqui, o controlar seria uma forma de podermos, no humano, antecipar seus possíveis passos, ações e comportamento no mundo.
Continue acompanhando meu raciocínio: se somos um constante “processo” inacabado, um não “resultado final”, definitivo, pronto, fechado, se há sempre um constante fluxo que pode ou não ir por um caminho e não por outro, segue-se que não há em nós algo como um “eu” imutável, e por isso, podendo ser chegar a se autoconhecer.
Enfim, autoconhecimento ou é uma forma de conhecer aquilo, que para além do que nos move, nos determina, nos causa, ou, é pura vaidade de tentar deter o fluxo de uma “cachoeira” em curso que é a nossa própria vida, achando que o ser humano pode se autoconhecer – o humano não é uma linha reta, linear, logica e coerente, que caminha em alguma direção, pois há sempre muitas curvas, bifurcações, círculos, diversos outros caminhos e até descaminhos, sendo ele um poço sem fundo, pura contradição de si mesmo, lugar nenhum a se chegar.

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