sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Você acha que você é livre mesmo?


Penso que a liberdade “verdadeira” - no sentido de não ser ilusória, autoenganosa – passa pela tomada de consciência de que somos, em um certo nível, “escravos”.
Parece paradoxal (e, é), mas aqui, a grande virada de "chave", está em reconhecer nossos próprios limites, nossas próprias amarras, e assim, podermos verdadeiramente agir, dentro dos limites do nosso próprio "cárcere".
Posso aqui citar, inúmeros exemplos de prisões: somos prisioneiros de nossos próprios afetos - não se escolhe não amar que você ama; somos prisioneiros de nossa biologia – mesmo que queiramos, não podemos, por mera decisão (e sem equipamento) voar, pois nossa constituição anatômica não permite; psicanaliticamente falando, somos prisioneiros do nosso inconsciente – fazemos coisas alegando ser por um motivo, mas inconscientemente, fazemos por outro; prisioneiros da nossa situação socioeconômica – posso desejar (e fazer planos) de morar em Paris, mas se for pobre e estiver desempregado, não posso ir; prisioneiros das nossas leis morais – por mais, que às vezes, possa querer descer a “lenha” em uma pessoa que me irrita, sei que não devo (e não “posso”) fazer, pois sofrerem punição; enfim, os exemplos são inúmeros.
Inclusive, somos prisioneiros de nossas próprias escolhas: podemos ser "livres" - num certo sentido bem restrito da palavra - para escolhermos, mas não somos livres para escolher o que queremos ou não colher das suas inevitáveis (e incontroláveis) consequências.
Mas ai você pode me perguntar: já entendi perfeitamente que não somos tão livres assim como imaginava, pelo contrário, somos e muito, presos, mas onde é que entra a liberdade ai?
Respondo dizendo que, dentro dos limites impostos – pela sociedade, vida, religião, , circunstâncias – podemos agir com certa liberdade:
não posso voar, então invento meios de poder voar; não posso agir contra um afeto, então uso outro afeto mais forte para contrapor o outro afeto; posso não escolher como e se serei afetado pelo outro, mas posso escolher como vou reagir a essa afetação; posso não ter dinheiro no momento para morar em Paris, mas posso fazer planos de um dia poder ir lá morar ou de viajar para conhecer; e etc.
Portanto, não posso escolher as escolhas pelas quais posso escolher, mas posso escolher dentre as escolhas que irão surgindo no meu caminho, qual escolha quero fazer.
Se me é "dado" escolher entre "A" e "B", somente posso escolher entre "A" e "B": não tenho como criar uma escolha que não existe como possibilidade para escolher.
Enfim: quanto mais tenho consciência das prisões que me prendem, mais aumenta minhas possibilidades de ter um pouco mais de liberdade para me mover dentro dela. Só quem conhece seus próprios limites, suas próprias possibilidades, é que tem mais chance de ser (um pouco) livre.

3 comentários:

  1. Excelente texto, Edson!

    Realmente essa consciência do próprio "cárcere" é necessária para a construção de nossa liberdade dentro dos limites possíveis, por mais que venhamos a nos manter também reféns do desconhecimento da total realidade (não sabemos as fronteiras dos limites).

    Certamente o que expôs tem muito a ver com os nossos sonhos e projetos pessoais, mas a consciência daquilo que é impossível não vem para nos desanimar e sim auxiliar na elaboração de novo planejamento de vida.

    Quanto mais racional e conhecedor da realidade o homem for, maiores são as suas chances de planejar. Exceto se a descoberta da realidade esvaziar da pessoa a sua motivação já que ela antes desejava alcançar algo impossível (tipo ser bilionário). E aí não nego que muitos são de algum modo felizes apostando no irracional, tipo fazendo uma "fezinha" num jogo de azar. E isto pode ocorrer até com aqueles que conhecem as baixíssimas probabilidades de êxito, mas ainda assim preferem ignorá-las.

    Um abraço.

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  2. Ops! Reparando agora, parece que é do Márcio Alves a postagem do artigo.

    Desculpe pela inobservância.

    Ótima terça-feira!

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  3. Opa, valeu Rodrigão...pra mim é um elogio ter meus textos confundidos com o do Edson.

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