Por: Marcio Alves
A percepção social se dá no encontro com o outro. Quando passamos a perceber o outro diferente ou igual a nós, e, isto ocorre através do processo de percepção, não somente da presença enquanto física, mas também do conjunto de características que o outro possui e nos apresenta.
Esta percepção se torna possível, mediante a interação e
organização das informações que vamos colhendo do nosso meio, através de nossa
cognição, que passa necessariamente pelo processo de recebimento dos estímulos,
internos e externos, pelos órgãos dos sentidos como também pelo sentido e
significado dado por nós a estes mesmos estímulos, conforme mencionado nos
estudos de Bahia bock, Furtado e Teixeira. (1999 p.136)
Esta percepção também passa pela comunicação ativa ou passiva
do sujeito com seu meio social. E esta comunicação pode ser verbal (através de
palavras escritas ou faladas) como também corporal (expressões e gestos do
corpo) e até por variados e muitos códigos visuais.
Entendemos, através do estudo da psicologia social, que a
interação do sujeito com seu meio, seja físico e/ou social, é fruto da relação
percepção, organização das informações, mais afeto, positivo ou negativo, com
este mesmo meio, resultando em atitude que leva ater um determinado
comportamento (ação).
Vale salientar aqui, o significado que a psicologia social dá
para o termo “atitude”, conforme bem nos explica Bahia bock, Furtado e Teixeira
dizendo que “Portanto, para a Psicologia social, diferentemente do senso comum,
nós não tomamos atitudes (comportamento, ação), nós desenvolvemos atitudes
(crenças, valores, opiniões) em relação aos objetos do meio social”. (1999
p.137)
Ou seja, primeiro o individuo desenvolve uma atitude, que são
suas crenças, valores, opiniões, preferências e predisposições, sejam
favoráveis ou desfavoráveis, em relação a determinados tipos de objetos,
pessoas e situações, para depois, consequentemente, tomar um comportamento
(ação).
Quer dizer então, que para a psicologia social, as nossas
atitudes antecedem e provocam nosso comportamento, nos movendo e determinando
nossa ação no meio social. Só que o mais interessante é que estas mesmas
atitudes são modeladas através do meio social, a qual, este mesmo sujeito
pertence e está diretamente inserido, pois o grupo é o lugar de referencia e
preferência deste sujeito que passa a ter o mesmo como base e parâmetro de como
se deve comportar, falar, ouvir, perceber, entender, identificar, aprovar ou
reprovar e até se relacionar com o outro.
Podemos então nos perguntar “se conhecermos as atitudes de
uma determinada pessoa, será possível então prevermos antecipadamente o
comportamento dela?”.
Os autores Bahia bock, Furtado e Teixeira respondem esta
pergunta afirmando que “(...) não é com tanta facilidade que conseguimos prever
o comportamento de alguém a partir do conhecimento de sua atitude, pois nosso
comportamento é resultante também da situação dada e de várias atitudes
mobilizadas em determinada situação” (1999 p.137)
Ou seja, não é porque “sicrano” tem uma atitude negativa (não
gosta, não se identifica e até reprova) em relação ao “fulano” é que o seu
comportamento será de ignorar, (não conversando) ou até brigar com esta mesma
pessoa, porque em um determinado contexto e situação (exemplo: no serviço, escola
ou família) ela pode vir “precisar” a se relacionar, suportando o outro.
Importante também destacar que nossas atitudes podem ser
mudadas diante do aparecimento de novas informações, afetos, comportamentos e
situações vivenciadas, como nos mostra novamente Bahia bock, Furtado e Teixeira
ao dizer que “Existe uma forte tendência a manter os componentes das atitudes em
consonância. Informações positivas (...) levarão a afeto positivo. Informação
positiva e afeto positivo levam a um comportamento favorável na direção do
objeto” (1999 p.138)
Isto quer dizer que se o “sicrano” tem uma atitude negativa
em relação ao “fulano”, o “sicrano” pode ter a sua atitude que antes era
negativa, mudada para positiva, mediante o contato (situação nova vivida) com o
“fulano”, passando a admirar (afeto novo) qualidades antes não percebidas
(informações novas), numa dada circunstancia de ter que trabalhar junto, numa
mesma empresa, se comunicando com ele. (necessidade)
Nesta percepção do outro, os papeis sociais (papeis pré-estabelecidos
e pré-determinados pelo meio social cultural) são importantes para nossa
compreensão desta mesma percepção, porque são eles (papeis sociais) que vão
dirigir nosso modo de ver o outro e nos ver também.
“Qual comportamento esperar do professor em uma sala de
aula?” Que ensine, transmitindo os conteúdos de uma dada matéria, para seus
alunos de uma maneira didática, ou seja, assim como os professores tem um papel
social já pré-estabelecido, existem vários tipos de papeis sociais que são
apreendidos pelo sujeito, que passa não somente a perceber e saber o que
esperar do outro em seu papel, como também ele mesmo tem seus próprios papeis
os quais devem ser incorporados e vivenciados em seu dia a dia, e, como os
autores Bahia Bock, Furtado e Teixeira, brilhantemente, sintetizam o estudo
levantados por eles afirmando que “Aprender os nossos papéis sociais é, na
realidade, aprender o conjunto de rituais que nossa sociedade criou”. (1999
p.140)
Texto extraído de uma parte do trabalho cientifico e acadêmico
que fiz, para faculdade, sobre o tema: “A Psicologia Social – percepção social”.
Belo texto Marcio. Bem escrito e abordando questões importantes acerca do relacionamento social.
ResponderExcluirDevido a essa capacidade, podemos imaginar aquilo que se passa na mente do outro, colocando-nos no lugar da outra pessoa, compreendendo suas ações. Por exemplo:
Se vemos uma pessoa chorar por algum motivo, os neurônios-espelho nos permitem lembrar das situações em que choramos e simular a aflição dela. Sentimos empatia por ela, sentimos o que a pessoa está sentindo. “A capacidade de simular a perspectiva do outro estaria na base de nossa compreensão das emoções do outro, de nossos sentimentos empáticos”.
Isso faz toda a diferença, porque é graças a essa capacidade que podemos estabelecer relações sociais. “A predição das emoções do outro é fundamental para o comportamento social. A pessoa não cometerá um ato que é doloroso ou prejudicial ao demais. Isso se deve à empatia, que é a capacidade de interpretar as emoções alheias.
O ser humano é dotado da teoria da mente, isto é, a capacidade de se colocar mentalmente no lugar de outra pessoa. Ela é a base do julgamento de intenções”.
A empatia seria determinada biologicamente desde o nascimento. “É preciso existir uma maquinaria inata, que nos permite certas capacidades, porque nem tudo em nosso comportamento é aprendido”. Os neurônios-espelho ainda são um mecanismo-chave para a aprendizagem. Um exemplo disso é que, desde bebês, somos capazes de imitar expressões faciais dos adultos, instintivamente reproduzimos caras e bocas. Isso acontece porque os neurônios-espelho começam a funcionar logo na primeira infância. Podemos, por exemplo, ampliar as nossas chances de sucesso em alguma tarefa, apreendendo com os “experts”.
A empatia envolve regiões do cérebro que existem há mais de 100 milhões de anos e funciona como a “cola” que mantém as sociedades unidas, segundo o primatólogo holandês Frans de Wall, em seu livro “A Era da Empatia”.
Como Wall, os cientistas partem do princípio de que os nossos cérebros são produto da seleção natural e que as pressões do ambiente social determinaram quais características deveriam ser mantidas para as gerações futuras (e uma dessas marcas seriam os neurônios-espelho).
“A maior parte dos gestos motores, como amarrar os sapatos, é aprendido por imitação, ou seja, tentativa e erro. Isso prevalece no reino animal, principalmente nos vertebrados”.
“Os estudos desses neurônios nos oferecem uma grande contribuição na compreensão da emoção: hoje sabemos que temos um sistema que partilha percepção e ação. O espelhamento permite o compartilhamento de emoções, presente no estado de empatia. Isso nos possibilita formular teorias mais compatíveis com os achados biológicos”.
Em “O Cérebro Empático” – Como, Quando e Por que?, a neurocientista alemã Tânia Singer e a filosofa francesa Frederique de Vignemont propõem quatro condições para que a empatia aconteça:
1-) Alguém está num estado afetivo, como medo, raiva ou tristeza, por exemplo.
2-) Esse estado é isomórfico ao estado afetivo da outra pessoa.
3-) Esse estado é produzido pela observação ou imaginação do estado afetivo de outra pessoa.
4-) A pessoa sabe que a outra pessoa é fonte do seu próprio estado afetivo.
“Os achados de imagem cerebral permitem que sejam identificadas áreas de ‘espelhamento’ do cérebro que são ativadas no estado de empatia, mas não se sabe exatamente como essas áreas cerebrais atuam nos estados da empatia descritos por essas pesquisadoras. Pode ser que um dia possamos ter uma precisão maior do que acontece no cérebro empático”.