Por: Marcio
Alves
Já escrevi alguns textos sobre a morte, dentre eles talvez o
mais importante seja mesmo o profundo e filosófico “A
morte em dois momentos”, mas sabendo que constantemente estamos sempre
mudando e consequentemente atualizando nossa maneira de ver e viver a vida,
resolvi então escrever o que penso hoje sobre a morte.
Um texto simples, sincero e objetivo sem o rigor do academicismo
que muitas vezes atrapalha mais do que ajuda na compreensão dos leitores.
A morte, assim como o nascimento, são as duas únicas coisas
que temos que passar sozinhos, embora muito mais a morte seja mesmo o momento
mais angustiante e dramático de toda nossa existência, não o depois, mas
aqueles momentos que a antecedem, que eu chamo de “pré-morte”, que é aquelas experiências
de quase morte que muitos de nós experimentamos em algum momento de nossas
vidas.
Nada mais profundo do que a experiência de ir ao velório de
um amigo ou parente nosso, pois só nesses momentos, da “pré-morte” e da “morte
do outro” é que são capazes de tirar o ser humano de sua anestesia diária, como
trabalho, diversão, lazer, hobby e etc, levando a refletir seriamente sobre a
sua própria morte.
Pois saiba meu amigo leitor, que uma coisa é você ler alguns
livros e pensar sobre a morte de maneira geral, outra completamente diferente é
pensar a sua própria morte. É como você ler sobre pessoas com câncer, e, um
belo dia você ir ao medico para fazer exames de rotinas e sem “querer” descobrir
que esta com um câncer. Consegue agora perceber a diferença?
Para aqueles que nunca enterraram seu próprio amigo, pai,
mãe, filho ou irmão, ou não vivenciaram uma experiência real de “pré-morte”,
vão apenas entender com o intelecto este texto, pois só aquele que já vivenciou
uma das duas maneiras de estar “cara a cara” com a morte é que irá conseguir ir
para além do intelecto “sentindo” de maneira visceral as palavras escritas.
Assim como o câncer que na verdade é uma morte lenta e
progressiva, a própria iminência de uma possível morte por outras maneiras e experiências
vem para por em xeque tudo que achávamos ser importante em nossas vidas, e para
colocar uma pergunta crucial que constantemente tentamos esquivar dela: “Porque
e para que viver?” “Faz sentido a vida que temos levado?” “Qual o sentido real
de viver?” (As três perguntas na verdade é uma só, apenas feita de maneiras
diferentes para você refletir melhor)
Não importa se você seja religioso ou ateu, pois na verdade,
no fundo no fundo minha opinião é que não existe na pratica uma separação entre
ateu e religioso quando falamos da morte, embora na teoria exista sim uma
divisão. É que não acredito na transformação e mudança na natureza humana
quando falamos da pessoa acreditar ou desacreditar na religião e/ou em Deus,
pois se sendo ateu ou religioso, continuamos sendo humanos, demasiado humanos, e
como os existencialistas já falavam, somos seres em angustia, sendo a angustia
uma marca registrada da natureza humana.
A única diferença entre o religioso e ateu em relação à morte
é no autoengano; pois o primeiro (religioso) se engana na certeza de acreditar
que ao morrer vai estar no paraíso, já o ateu com seu pensamento “tranquilizador”
de que “morreu acabou”, e que por isso não tem o que se preocupar e ter medo. Mas
que falsa certeza esta do religioso e do ateu!
A partir do momento que o homem teve a sua consciência despertada,
seja pela própria morte como a maior responsável por isto, ele já se vê
mergulhado em angustia, e, por isso mesmo, nós precisamos tanto ocupar nossa
mente com tudo que estiver disponível, seja trabalho, festas, e tudo o mais, é
como pascal já dizia que o homem que vai caçar, ele caça um animal que ele mesmo
não teria a coragem de comprar num mercado, mas ele caça para distrair sua
mente, para fugir de estar só consigo mesmo, e com a realidade inevitável de
sua própria morte – e este exemplo serve para tudo que fazemos na vida!
Por isto meu caro leitor que chegou até aqui, lendo “pacientemente”
esta minha postagem para descobrir como um ateu encara a morte, eu lamento
decepciona-lo, mas nós encaramos do mesmo jeito que qualquer outra pessoa
encara: com grande angustia, medo, tristeza, dor e duvida em saber que a nossa
morte não é uma possibilidade que pode ou não acontecer, mas uma realidade e certeza absoluta de que
nós que aqui estamos, vamos um dia não estar mais....para quem acha que a consciência
é um dom, eu diria que tenho lá as minhas duvidas, pois acho mesmo que é uma
maldição, e que se os deuses existem mesmo, são cruéis e estão se divertindo
com nosso sofrimento.
"A única diferença entre o religioso e ateu em relação à morte é no autoengano; pois o primeiro (religioso) se engana na certeza de acreditar que ao morrer vai estar no paraíso."
ResponderExcluirEssa sua “certeza” de que o religioso vivencia também o que o ateu denomina de “falsa certeza”, como toda racionalização, pode ser enquadrado como um mecanismo de defesa psíquico.
Tenho a impressão de que o que mais repugna ao que se diz “ateu” é o otimismo com que o crente “mascara a realidade”, ao projetar num futuro (além) todos os seus desejos não realizados.
O “ateu” diante da “ilusão” do crente se sente como que traído ou nu, e reage ante a “certeza imaginária” do seu opositor. Ele não suporta o fato do religioso exibir alegria (“auto engano”) em sua subjetividade, na hora crucial da partida.
Nós temos de entender, Marcio, que o religioso não tem consciência de que o seu inconsciente o ilude, representando-lhe a “imagem enganosa” da realização dos seus anseios. Em sua serenidade, ele talvez não tenha a inquietude do “ateu” diante da foice da morte que sobre ele se abate. Concorda, amigo?
Tudo neste Universo tem fim, toda Estrela, todo Sol, toda Galáxia terá um fim.
ResponderExcluirTodo ser vivo em algum momento se quebra, perde sua unidade, e devolve ao ambiente seus componentes.
Todo ser humano que já viveu, morreu.
Mas por algum motivo, todo homem que nasce não aceita que ele também morrerá.
A religião tenta dizer que a Morte é falsa, não existe, é apenas uma passagem. Mas por que seria assim? ela é natural a todos, uma vez morto, termina-se aquela constituição, sobram apenas as memórias.
O que muitos temem não é a morte. Eu não temo a morte em si, ela é o fim, e virá a todos, o que temo é o processo de morrer. Sabemos como ele pode ser doloroso, ruim.
a vida continuará após a morte, mas não a vida daquela unidade chamada de Eu. outros Eus surgirão, mas este Eu, com sua memória, se esvai para sempre. não há por que ser diferente. não há nenhum "contrato" universal que estabelece que não pode ser assim. não há qualquer evidência que assim não o seja.
o que esperamos no fim é que o Universo se curve às nossas angústias, mas isto é pura tolice de quem não entendeu que somos apenas um pequeno lampejo de consciência, nada mais.
Levi
ResponderExcluirApesar de ser ateu, tenho que concordo com o seu comentário psicanalitico sobre os ateus, até porque, esse desejo tão forte nos ateus militantes de desconverterem o mundo das religiões, para sua "verdade" e "realidade" parece ser também uma tentativa desesperada de provarem para si mesmo que a sua verdade e realidade são verdadeiras e que a do crente é ilusão e engano...é o velho problema de que seu eu tenho a verdade, logo o outro só pode estar se auto enganando.
Na verdade, tanto o ateu como o religioso se debatem com suas "certezas", porque no fundo no fundo, todos nós estamos boiando na imensidão do oceano da duvida, agarrandos a um pedaço de madeira que são nossas convicções.
Concordo plenamente contigo...estamos na busca incansável da verdade, ou melhor lutamos pelas nossas convicções,mais no fundo nem sabemos a realidade!
ExcluirConcordo plenamente contigo...estamos na busca incansável da verdade, ou melhor lutamos pelas nossas convicções,mais no fundo nem sabemos a realidade!
ExcluirBill
ResponderExcluirQuanto tempo heim mano??!!
Seu comentário dispensa comentários rsrs
Na verdade Bill, é o instinto de sobrevivencia do homem que o leva a negar e fugir desesperadamente e inutilmente do fim de sua insignificante existencia.
O que me consola Bill é que neste barquinho não estou sozinho, tenho a companhia de bilhões de outros seres humanos tão angustiados e indefesos quanto eu. rsrs
valeu mano e abraço
bom texto Marcinho; bem reflexivo e realista.
ResponderExcluirdo mesmo jeito que morre o ímpio, morre o justo.
Mas talvez aquele que crê numa vida após a morte, a encare com mais tranquilidade.
Acho que naquele último suspiro, ter a certeza que estará nos "Seio de Abrãao" conforta.
O ateu ao contrário, tem que arcar com seu realismo e materialismo. Acabou, acabou.
Como eu não sou bobo, eu nem tenho certeza que "acabou, acabou" nem da vida pós-morte.
vou ficar numa bela expectativa...rsss
Olha, aí, o Bill ressuscitou dos mortos...
ResponderExcluirNão tenho nenhuma dúvida sobre a semelhança da vida dé um ser humano e das demais coisas vivas na natureza, resguardada a evolução e complexidade de cada ser vivo. Por tanto, o ciclo da vida de todas as coisas vivas obedece regra geral, com início e fim ditado por fenômenos naturais que não reserva nenum escape transcendental ou algo fora do alcance da metafísica e da razão.
ResponderExcluirQuando falas que a consciência é uma maldição...concordas que a não consciência do ser, se assemelha a morte (pensamento ateísta), logo a consciência seria o algo a mais, que nos fornece prazer e medo? Se sim, assim como eu, talvez você possa concordar, que a consciência se torne um bônus, dado pelo ignoto, a um amontoado de partículas, logo, uma dádiva...eis um dos motivos que discordo do ateísmo, ahh, a consciência :P
ResponderExcluirInteressante as considerações aqui postadas. Penso que a morte, simplesmente, faz parte da vida.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu não tenho medo da morte. A ideia dela é que me incomoda. Esse sentimento é partilhado por todos que refletem sobre a própria vida. Desde pequeno eu sei que a minha vida é efêmera e que logo vai passar. Por isso eu aproveito cada minuto da melhor maneira possível. Agora estou cá a escrever, mas, amanhã, onde estarei?
ResponderExcluirEu percebo a religião e a crença numa pós-vida como apenas mais uma tentativa de dar sentido à vida conturbada que temos e uma forma de a superar. A partir desse pressuposto, a fé é válida. Porém, admito que, ainda que pareça desesperador e deprimente, prefiro encarar a realidade como ela é.
Vou morrer. Vamos morrer. E o que podemos fazer? Viver enquanto é possível. Há muita coisa para ser contemplada e conquistada.
A morte... a morte o fim da vida,nossa conciencia o "eu" por assim dizer sera apenas esvaziado,sem nada,isso q me amedronta o pensamento de minha mente sumiur,eu tenho 16 anos sou ateu,parece q quando n estou pensando nisso eu viverei para sempre mas pensar como q o tempo passa rapido, como eu lembrando da minha infancia para ca que foi meio q um piscar de olhos,eu imagino eu velho vendo a minha vida em um flash insignificante apenas mas uma minuscula parte de uma historia sem graça e sem sentido sadica e apenas simples,como que eu tentar ser algo a mais n faz diferença,eu temo a morte ,queria voltar a minha infancia quando eu falava para os meus amiginhos historia da bliblia do qual eu pensava acreditar mas nunca acreditei de verdade percebo agora...
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