terça-feira, 9 de julho de 2013

Eternamente jovens


Existe um marketing "idiotizante" que nos faz acreditar que devemos ser jovens o tempo todo, e funciona. Somos "jovialistas". Antigamente, cada idade era uma etapa de nossa existência que tínhamos que transpor a caminho da realização pessoal. A juventude vinha logo depois da infância, mas só por alguns anos. Depois vinha a maturidade que tinha seu culto na plenitude, e até mesmo a velhice era algo desejado e reverenciado.

Mas em tempos modernos, ou como diz Bauman, "modernidade líquida", de uma forma forçada e postiça, abdicamos de todas as idades para nos reduzirmos ao perverso estado da inocência juvenil.

Não se chega à consciência sem uma boa dose de dor. Os verdadeiros adolescentes, à medida que crescem e amadurecem, aprendem e internalizam esse fato, que faz parte de um movimento em direção à vida adulta. Já os adolescentes "artificiais", que batalham desesperadamente contra a inevitabilidade dos ciclos, tremem diante dessa ideia, procuram negá-la, fogem dela, abjuram a maturidade, a consciência e por conseguinte, o sentido existencial.

Este pensamento tomou proporções gigantescas, e hoje, pode ser chamada "fenômeno social". Um bando de "Peter Pans", que tremem de medo de cortar o cordão umbilical com o seio materno, e firmar um contrato com a responsabilidade da vida adulta e autônoma. Quando tais atitudes se multiplicam, e se tornam este fenômeno social, já não são mais apenas patéticas, mas também perigosas.

Uma sociedade em que a infância e principalmente a adolescência deixam de ser períodos de passagem, para se converterem em faixas etárias de aglomeração e engarrafamento, devido à recusa e ao abandono daqueles que a ultrapassaram para continuar seu desenvolvimento existencial, é uma sociedade que padece de ausência funcional de adultos, de carência de referências maduras e de saturação de comportamentos adolescentes.

Nos convertemos em um vasto grupo humano sem líderes sábios, em uma massa de indivíduos que não transformam suas vivências em experiência. Somos uma sociedade de rumo imprevisível, de condutas inconstantes, de pronunciamentos confusos, quando não voluntariosos.

Enfim, somos uma sociedade de púberes "Peter Pans", e vivemos à margem do mundo real, e nosso contato com ele (mundo real), nos provoca desencanto, frustração insuportável, chiliques inúteis, e o pior, nenhum aprendizado. Giramos no vácuo, sem rumo e nem propósito. Uma coletividade anêmica de adultos maduros.

Uma sociedade empenhada em permanecer adolescente, vive no imediatismo, na fugacidade, nas rebeliões arbitrárias e manifestações confusas que a nada conduzem, apenas pelo prazer de confrontar as regras pelo simples fato de as regras existirem. 

Filósofo cético, Edson Moura

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