Existe um marketing "idiotizante" que nos faz
acreditar que devemos ser jovens o tempo todo, e funciona. Somos
"jovialistas". Antigamente, cada idade era uma etapa de nossa
existência que tínhamos que transpor a caminho da realização pessoal. A
juventude vinha logo depois da infância, mas só por alguns anos. Depois vinha a
maturidade que tinha seu culto na plenitude, e até mesmo a velhice era algo
desejado e reverenciado.
Mas em tempos modernos, ou como diz Bauman,
"modernidade líquida", de uma forma forçada e postiça, abdicamos de
todas as idades para nos reduzirmos ao perverso estado da inocência juvenil.
Não se chega à consciência sem uma boa dose de dor. Os
verdadeiros adolescentes, à medida que crescem e amadurecem, aprendem e
internalizam esse fato, que faz parte de um movimento em direção à vida adulta.
Já os adolescentes "artificiais", que batalham desesperadamente
contra a inevitabilidade dos ciclos, tremem diante dessa ideia, procuram
negá-la, fogem dela, abjuram a maturidade, a consciência e por conseguinte, o
sentido existencial.
Este pensamento tomou proporções gigantescas, e hoje, pode
ser chamada "fenômeno social". Um bando de "Peter Pans",
que tremem de medo de cortar o cordão umbilical com o seio materno, e firmar um
contrato com a responsabilidade da vida adulta e autônoma. Quando tais atitudes
se multiplicam, e se tornam este fenômeno social, já não são mais apenas
patéticas, mas também perigosas.
Uma sociedade em que a infância e principalmente a
adolescência deixam de ser períodos de passagem, para se converterem em faixas
etárias de aglomeração e engarrafamento, devido à recusa e ao abandono daqueles
que a ultrapassaram para continuar seu desenvolvimento existencial, é uma
sociedade que padece de ausência funcional de adultos, de carência de
referências maduras e de saturação de comportamentos adolescentes.
Nos convertemos em um vasto grupo humano sem líderes sábios,
em uma massa de indivíduos que não transformam suas vivências em experiência.
Somos uma sociedade de rumo imprevisível, de condutas inconstantes, de
pronunciamentos confusos, quando não voluntariosos.
Enfim, somos uma sociedade de púberes "Peter
Pans", e vivemos à margem do mundo real, e nosso contato com ele (mundo
real), nos provoca desencanto, frustração insuportável, chiliques inúteis, e o
pior, nenhum aprendizado. Giramos no vácuo, sem rumo e nem propósito. Uma
coletividade anêmica de adultos maduros.
Uma sociedade empenhada em permanecer adolescente, vive no
imediatismo, na fugacidade, nas rebeliões arbitrárias e manifestações confusas
que a nada conduzem, apenas pelo prazer de confrontar as regras pelo simples
fato de as regras existirem.
Filósofo cético, Edson Moura
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