terça-feira, 10 de novembro de 2015

Lealdade

Por que são assim as pessoas? E esta pergunta não é retórica. Gostaria mesmo der ter a resposta. Num mundo tão densamente habitado, tantas singularidades entre cada um de seus mais de sete bilhões de moradores, e mesmo assim, plural em outros pontos. Talvez plural não seja nem o termo correto, diria que é mesmo uma unanimidade. 
 

Insistimos em tentar mudar, ou mesmo moldarmos as pessoas que nos circundam, mas quando achamos que estamos tendo sucesso na empreitada, um balde da mais fria água nos é jogado ao corpo nu e quente, exacerbando a sensação de dor, aquela dor que nos dá vontade de gritar os mais inapropriados palavrões, como se só isso bastasse para amenizar o sofrimento.

Quando foi que a lealdade deixou de ser importante? Outra pergunta que ficará sem resposta. Ao que me parece, o homem não abandonou seu estado de natureza, e contínua acreditando que não se deve acreditar no outro, que a melhor defesa é sempre o ataque prévio. Não estou falando de guerra bélica, mas sim, uma guerra que se trava constantemente nos recônditos de cada um de nós. Não sou diferente, por mais que reflita a respeito do assunto.

A decepção com o outro ficou, creio eu, cicatrizada em nosso DNA por milhares, para não dizer milhões de anos, e assim ficará, sempre, como uma lembrança inconsciente de que não devemos baixar a guarda nunca. Há mal nisto? Talvez sim, talvez não, a tragédia é que por mais que nos protejamos, a dor virá inexoravelmente, e pegará de jeito até o melhor e mais preparado de todos os lutadores.

É tudo uma questão de adaptação aos tempos modernos, aceitação de um mundo extremamente competitivo, onde aquele que puder oferecer mais será o escolhido em detrimento de um outro que não se dispôs a dar o máximo do máximo de si. E o perdedor contemplará a vitória de seu adversário talvez vislumbrando um futuro onde o campeão também será substituído por um outro melhor. Alto engano? Talvez, mas faz cessar parcela ínfima da dor.

Lealdade existe? Não sei! Pelo que acabei de escrever acima, depreende-se que não. Aquela lealdade que fez com que pessoas morressem uns pelos outros. Uma fidelidade de um tempo em que não era necessário exigir a cabeça à espada do algoz, simplesmente ela era oferecida. Mas será que era lealdade ao outro ou à si mesmo e suas convicções filosóficas ou religiosas? Tantas perguntas faço, e sem respostas continuo.

É provável que seja ingênuo, me comportando como uma criança que não cansa de perguntar porque realmente não sabe a resposta. E é isso mesmo! Eu não sei responder às minhas próprias questões. Isto é filosofar? Acho que sim. Filosofar é viver, e viver não tem sido muito fácil para quem pensa, e sofre por não entender as coisas que gente grande não quer explicar. Talvez porque não saibam também.

Já disseram “eu sei que nada sei”, mas sabia sim, e muito, a verdade é que não queria ver ou não queria que notassem que sabia. Eu ainda não desisti de confiar nos outros, mesmo sabendo que são eles o inferno que habita em nós, e certamente é por saber disso que não desistirei de encontrar respostas para as perguntas que faço hoje, agora.

Quero muito o conforto de um aliado que morra comigo numa luta que nem seja nossa, ou seja apenas nossa. Quando procuro nas expressões, na linguagem corporal, ou facial uma pessoa que esteja disposta a pensar como eu penso, algo me manda parar em frente um espelho a admirar meu achado, o reflexo de um rosto que coadune das minhas ideias e das minhas expectativas para um futuro tão incerto. Nem sempre gosto do que vejo.

Apenas sei que esta pessoa ali, parada em minha frente, nunca traiu a si mesmo, nunca foi contra sua consciência, por achar que não era saudável fazê-lo. Esta pessoa vê o mundo pelas mesmas lentes que eu vejo. E o melhor, há uma reciprocidade entre eles, pois ambos sofrem as mesmas dores e têm as mesmas perguntas….todas sem resposta alguma.

Edson Moura

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