Por: Marcio
Alves
Acabei de
ler “O futuro de uma ilusão” de Freud, e, em cima deste texto, quero de forma
bem resumida e objetiva, expor a opinião do pai da psicanálise, que foi sem
duvida alguma, um dos maiores homens da historia da humanidade, sua analise e
previsão sobre a religião especificamente, (pois o texto aborda outras questões
igualmente relevante) como também, dar minha opinião sobre os seus apontamentos...estaria
Freud totalmente certo?
Freud inicia
esclarecendo que para ele, o processo civilizatório, que levou e elevou o homem
de “animal” primitivo bárbaro, para o homem moderno, tal qual conhecemos hoje,
foram; “(1) o conhecimento e a capacidade que o ser humano adquiriu com a
finalidade de controlar as forças da natureza e extrair a riqueza desta para a
satisfação das necessidade humanas. Por outro, inclui todos (2) os regulamentos
necessários para ajustar as relações dos homens uns com os outros e,
especialmente, a distribuição da riqueza disponível” (Freud)
Em todo esse
processo de “humanização”, não foi somente o homem que se “humanizou” como sua
vida em grupo, mas também, segundo Freud, as forças temíveis e desconhecidas da
natureza, principalmente a morte, pelos nossos ancestrais, fazendo das mesmas,
pais e deuses, criando crenças, que mais tarde se tornaram religiões. O que
Freud quer dizer, segundo minha opinião, é que, todas as realizações de nossa
civilização, incluindo aqui, principalmente todas as religiões e crenças, nasceram
do impulso/instinto de autodefesa contra as forças opressivas e assustadoras da
natureza.
Neste ponto,
quero que você meu caro leitor pense comigo duas questões igualmente
importantes:
O primeiro é
que os deuses, como anjos, demônios e espíritos, tem características humanas,
não seria isto uma das “provas” incontestáveis que, mais do que Deus dizer ao
homem “faço-te a minha imagem e semelhança”, foi o homem quem criou os deuses e
todos os espíritos a sua “imagem e semelhança”, contando (inventando) depois,
que foram os deuses quem disseram isto, sendo perpetuada esta crença, de tal
forma, que hoje, isto foi “escrito” em tabuas de mármore, e, é aceito sem
nenhum questionamento pelos religiosos?
E, a
segunda, e não menos importante, é a questão de que Freud deixa claro, de forma
inequívoca no seu texto, que o medo e o desejo são os dois fatores primordiais
que fizeram tantos os homens criarem as crenças nos deuses como protetores, e
na vida depois da morte como recompensa e consolo, como também mais ainda a
necessidade de acreditar nisto tudo, daí, a maioria dos religiosos quando são
confrontados por questionamentos sobre sua religião e crença, terminarem o
dialogo com a frase que virou jargão popular: “se você não acredita, eu creio, não
importa o que você me diga, eu nunca vou deixar de crer, até porque, a crença
me faz me sentir bem, e, isto é o que importa”.
Ora, se
Freud estiver certo neste ponto, como “acho” que esta, se a crença nasceu e se
mantém do medo do desconhecido que era até então as forças da natureza para
nossos primitivos ancestrais, como ainda é a morte para muitos de nós, juntando
se a isto, o desejo de acreditar nessas mesmas crenças para aplacar o medo, a
angustia, o sentimento de desamparo que todos nós compartilhamos, de nossa real
finitude e insignificância, o homem, só poderia mesmo crer, seguindo alguma
religião, embora, estando este medo e desejo no inconsciente, é totalmente
lógico e racional, até porque, a razão é serva dos nossos desejos, medos e vontades,
como disse Schopenhauer.
Freud chega
a afirmar que “(...) se voltarmos nossa atenção para a origem psíquica das
idéias religiosas. Estas, proclamadas como ensinamentos, não constituem
precipitados de experiência ou resultados finais de pensamento: são ilusões,
realizações dos mais antigos, fortes e prementes desejos da humanidade. O
segredo de sua força reside na força desses desejos. Como já sabemos, a
impressão terrificante de desamparo na infância despertou a necessidade de
proteção - de proteção através do amor -, a qual foi proporcionada pelo pai; o
reconhecimento de que esse desamparo perdura através da vida tornou necessário
aferrar-se à existência de um pai, dessa vez, porém, um pai mais poderoso.
Assim o governo benevolente de uma Providência divina mitiga nosso temor dos
perigos da vida” (Freud)
Por isso que “Ilógico”, “incoerente”e “loucura” mesmo
é ir contra tudo isto, toda esta crença milenar, crida e sustentada pela
maioria, contra nosso medo, desejo e desamparo mais intimo, não crendo em
nenhum Deus, não seguindo nenhuma religião e crença, assumindo nossa mais pura
condição humana de duvida, de incerteza, mas, de coragem de caminhar pela
existência sem as muletas, manuais e mapas da religião.
Freud
acreditava que mesmo a “deusa” e “toda poderosa” ciência não seria suficiente
para acabar de vez com a religião, como se iludem muitos ateus militantes que
desejam o fim da religião, porque psiquicamente, a ciência nunca poderá
substituir a função e papel da religião no psiquismo humano, e, neste sentido
novamente eu tenho que concorda com o mestre e pai da psicanálise, embora,
através da ciência o homem moderno atual diferem e muito do antigo religioso,
porque aprendeu com o avanço e disponibilidade do conhecimento, a ser mais
criterioso e racional, mas, isto ainda, não determina o fim da religião, na
verdade, eu já escrevi algumas vezes, que a religião nunca deixará de existir,
por vários fatores expostos nesta postagem como em outras, e, tomará mesmo que
nunca acabe, pois mesmo sendo ateu, como estudante de psicologia vejo
significado e importância da religião para muitas pessoas, alem do fato de que
o mundo seria sem graça e perderia o seu colorido se todo mundo se tornasse
ateu, pois a pluralidade e diversidades de ideias e crenças tornam o mundo para
o ser humano, “infinito” em suas possibilidades e escolhas, como são
“infinitos” a subjetividade e particularidade de cada individuo.
E para
terminar, esta postagem que já está ficando muito extensa, um pensamento de
Freud que discordo, ou melhor dizendo...que não concordo inteiramente, e, isto
não com o que ele irá dizer, mas sim com o que esta nas “entrelinhas”, pois ele
afirmou que: “A religião, é claro, desempenhou grandes serviços para a
civilização humana. Contribuiu muito para domar os instintos associais. Mas não
o suficiente. Dominou a sociedade humana por muitos milhares de anos e teve
tempo para demonstrar o que pode alcançar. Se houvesse conseguido tornar feliz
a maioria da humanidade, confortá-la, reconciliá-la com a vida, e transformá-la
em veículo de civilização, ninguém sonharia em alterar as condições existentes”
e, mais: “Não, nossa ciência não é uma ilusão. Ilusão seria imaginar que aquilo
que a ciência não nos pode dar, podemos conseguir em outro lugar” (Freud)
O que eu
discordo não é com o que está escrito, mas antes com a possível ideia
interpretativa, que para mim não passa de ilusão, fantasia e sonho, de que o
homem é infeliz com a religião, mas de que possivelmente poderá ser feliz com a
ciência, pois na verdade, nem religião e nem ciência consegue dar conta de todo
este desamparo e finitude própria, inato do homem, que é apenas humano, e como
humano, não passa de um ser frágil, carente, desamparado e infeliz, porém, a ciência
e em alguns momentos a religião, podem colaborar em amenizar o sofrimento
humano, mas nunca, em hipótese alguma, acabar de vez, pois uma vida sem
sofrimento só “existe” mesmo no céu das fantasias mais desejantes e ilusórias das
promessas existentes nas crenças religiosas...se assim fosse, bastaríamos então
todos morrer para gozarmos deste paraíso, mas como no fundo no fundo ninguém
acredita de verdade, ninguém quer morrer para “pagar pra ver”, deixemos então o
“céu para os anjos” e aproveitemos nossa curta caminhada em vida na terra.
Texto baseado
no “O futuro de uma ilusão” de Freud