É
um texto de desabafo. Em meio a revoltas populares, manifestações e
paralisações que via de regra, impedem que outros cidadãos exerçam
seu direito fundamental de locomoção, acabo por me surpreender com
um amigo que, contra tudo e contra todos, resolveu remar contra a
maré, um típico Pensador Fora da Gaiola, um educador, formador de
opiniões, um professor por excelência. Aldim, este artigo, pouco
didático e muito mais explicativo é pra você.
No
último exame do PISA (Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes, sigla em inglês) que é realizado pelo OCDE (Organização
para Cooperação e desenvolvimento econômico) que avalia os
estudantes dos países-membros da OCDE e convidados, e três áreas
fundamentais, conhecimentos de matemática, de Ciências e de Línguas
(obviamente a língua materna do estudante, portanto, compreensão e
regras de funcionamentos da língua), na última edição de 2012,
dos 65 países avaliados o Brasil estava na posição 59ª, ou seja,
posição cinquenta e nove de sessenta e cinco, o Brasil agora,
conseguiu piorar aquilo que já era ruim. Na última edição agora,
divulgada no final de 2016, de 65 países, o Brasil alcançou a
posição de 63ª, olhem o absurdo, só dois países avaliados
tiveram posição pior do que a nossa.
O
jornalista Ricardo Boechat, por quem confesso que nutro uma grande
admiração, pela clarividência de suas palavras, pela análise
crítica e pela pessoa inteligente que é, há algum tempo fez uma
crônica que eu achei perfeita, ele disse o seguinte: […quando nós
não temos como prioridade a saúde pública e a segurança pública,
que para mim são duas áreas prioritárias e para ele também, você
acaba matando o presente do país, porque são os nossos concidadãos
que vão padecer nas unidades de pronto atendimento, nas unidades de
urgência, nas unidades hospitalares, ou que estão submetidos a toda
ordem de violências nas nossas ruas …]. Portanto, tanto pra mim,
quanto para ele, saúde e segurança são prioridades máximas de um
estado democrático de direito, de um estado civilizatório.
No
entanto, segundo a avaliação que ele faz (e eu acho corretíssima)
quando você tem uma saúde pública e uma segurança pública,
precárias, que não são tratadas pelas nossas elites como
prioridade (até porque as nossas elites têm planos de saúde,
segurança particular em seus condomínios fechados, carros blindados
etc.) você mata o presente do país, porém, a educação, ou
melhor, a falta dela, mata o nosso futuro.
O
que a gente sabe, é que a elite dirigente brasileira, os extratos
sociais mais abonados, a educação para eles, via de regra, não é
um problema, por que convenhamos, eles estudam nas melhores escolas
particulares, vão cursar universidades públicas porque têm uma
qualidade de Ensino Fundamental e Médio boa, que lhe garantem uma
aprovação para uma universidade pública, ou vão estudar em
excelentes universidades privadas, dentro e fora do país. Portanto,
a educação para essa elite é uma preocupação, mas não é um
dado grave.
No
entanto, para a população mais pobre essa educação é
absolutamente essencial. Eu estava ainda a pouco conversando com esse
meu amigo Aldim e explicando que a população mais pobre tem
pouquíssimas alternativas de mobilidade social. Ou você tem um
talento muito especial para os esportes, e aí estamos falando de
esportes de alto rendimento e que seja bem remunerado como o futebol,
ou você tem um talento muito significativo para a música ou outras
áreas congêneres, ou a terceira grande alternativa para a população
pobre ascender socialmente é via educação, e acredite, para mim, a
educação é uma prioridade da população brasileira. Em todas as
pesquisas a população coloca a saúde, segurança pública e
educação como elementos-chave para a mobilidade social e qualidade
de vida. Todavia, lamento dizer, essa mesma educação não é
prioridade no Estado Brasileiro, e observem que o Estado brasileiro é
comandado por uma elite econômica e política que também não tem
na educação algo que seja prioridade. Por exemplo:
O
Brasil fala em Lei de responsabilidade fiscal (que eu concordo, é
necessária, é possível e é urgente que se faça), no entanto, o
senador Cristóvão Buarque propôs uma Lei de responsabilidade
Educacional, onde Municípios, Estados e União se comprometem com
parâmetros objetivos de melhoria de qualidade de educação, agora,
perguntem-me quando que uma Lei dessas passa no parlamento
brasileiro? Eu mesmo respondo: Nunca!!! Porque os políticos não
querem se comprometer com parâmetros objetivos mensuráveis a
respeito da melhoria da qualidade da educação no país. E aí o
Brasil vai amargando, ano após ano, resultado pífio na educação,
quando na verdade, não existe nenhuma receita de bolo pronta que
possa ser aplicada a todos os casos.
Mas, via de regra, a maioria dos especialistas e outros que se dedicam a refletir sobre o caso (creio que o Aldim é um desses) costumamos eleger cinco elementos-chave, que não são nada extraordinários, mas que são condição sine qua non de embasamento de uma boa educação.
Mas, via de regra, a maioria dos especialistas e outros que se dedicam a refletir sobre o caso (creio que o Aldim é um desses) costumamos eleger cinco elementos-chave, que não são nada extraordinários, mas que são condição sine qua non de embasamento de uma boa educação.
1º
Um professor bem formado é um elemento-chave. Pesquisa recente
realizada por uma universidade Australiana mostra que a maior
diferença no processo de “ensino-aprendizagem” quem faz é o
professor. Não e a metodologia de ensino, não é a escola, não e
laboratório, não é equipamento… é o professor. Então, ter um
professor bem formado é uma condição essencial. Por outro lado,
significa dizer que deve existir um plano de carreira bem estruturado
e que seja atraente. Hoje no Brasil, apenas 2% dos estudantes querem
ser professores. Na Coreia do Sul, onde o plano de carreira é
atraente e os salários altos, 30% dos estudantes querem ser
professores. Sendo assim, sem ter um professor bem formado, bem
remunerado e com uma carreira atraente e estruturada, nós vamos
continuar amargando o mesmo problema.
2º
Precisamos ter um aluno que tome consciência de que o processo de
“ensino-aprendizagem” é o seu passaporte para a mobilidade
social.
3º
Precisamos ter uma família que entenda que o processo de
“ensino-aprendizagem” não é feito a duas mãos, as do
professor, ela é feita no mínimo a seis mãos, as do professor, as
do aluno e as mãos dos pais. Educar dá trabalho? Dá!
Indiscutivelmente, dá trabalho, mas isso é algo que os pais
escolheram quando decidiram ter filhos, então, participar deste
processo, não deve ser só uma obrigação, deve ser acima de tudo
uma alegria poder contribuir com o crescimento intelectual dos
filhos.
4º
Nós precisamos ter uma política de Estado na educação brasileira,
e não apenas uma política de governo, porque a cada governo
mudam-se todas as prioridades.
5º
Precisamos ter uma infraestrutura básica de educação. Não
precisamos ter um laboratório de primeira geração ultramoderno,
mas precisamos ter uma escola que ofereça um mínimo de conforto e
instalações adequadas para que a produção e a transmissão de
conhecimento se dê de maneira adequada. Sem isso, a gente vai
continuar amargando os piores indicadores da educação, matando o
futuro de nosso amado país, e ouso dizer, com essa classe política
que nós temos hoje, talvez este seja o desejo mais profundo que eles
tenham, um povo sem educação que não sabe hoje e provavelmente não
saberá no futuro, lutar pelos seus direitos.
Edson
Moura
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