terça-feira, 4 de janeiro de 2011

"Entre Quatro paredes" Sartre


O existencialismo do filósofo Sartre tinha como um fundamento que a morte é uma contingência, algo que acontece sem que possamos evitar e impede a concretização de nossos projetos.No drama Entre quatro paredes Sartre faz um jogo que envolve o leitor. Ele coloca o desejo e o medo do nu nos personagens. 

Mas não é o nu físico que ele atinge, é o nu racional.
 É a hora em que os personagens abrem seus livros da vida e compartilham todas as maldades que já fizeram, todas as angústias que os atormentam. E assim, portanto, se apresentam nus para os outros.Esse desnudamento acontece após a morte dos personagens, que ao todo são quatro, três principais e um personagem secundário. 

Garcin era um literato, Inês era uma funcionária dos correios e lésbica e Estelle tem um complexo de aceitação, usa seu corpo em grande parte das situações. Eles são levados até uma sala fechada e terão que permanecer para sempre ali, enclausurados, condenados a uma vida sem interrupção. Eles têm somente a companhia do outro. Sentados nos únicos canapés eles começam a convivência eterna, crucial. 

Quebra-se o estereótipo do demônio com chifres, com cauda, com garfo, atirando fogo. Sartre coloca cada um dos personagens como carrasco do outro, buscando desnudá-los, buscando o que há por trás dos rostos. E acontece a prova de que o ser humano necessita da comunicação, mesmo sabendo que esta será seu inferno.

A consciência de cada um se esbarra no muro da consciência do outro. Inês se sente atraída por Estelle, que se sente atraída por Garcin, que tenta se esquivar até o momento em que revela que não pode amar Estelle, porque a conhece demais. Então Estelle, movida por seu complexo, traz para Garcin a questão do desejo. Ela só precisa disso.
Nos primeiros instantes do drama eles ainda mantêm relação com o mundo terreno, ouvindo colegas, mulheres, maridos, etc., até o ponto em que são desligados por completo dessas vozes e imagens e passam a depender da aceitação dos companheiros, sentimento que mistura ternura e ódio.

Entre quatro paredes é um questionamento da condição humana, suas crenças e ações. É o que questiona o ponto em que o outro deixa de ser importante e passa a ser negligente e repugnante. É o drama que mais claramente mostra a linha tênue que existe entre o ato bom e o ato mau dos seres humanos.

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