Por: Marcio Alves
Começo este meu texto com uma pergunta que será decisiva para
compreensão e sustentação do mesmo, responda com sinceridade meu caro leitor,
qual a pergunta mais importante para você: a) “Deus existe?” ou b) “Como tratar
da doença do meu filho (por exemplo)?”
O que quero demonstra com isto é que na verdade a filosofia,
principalmente a teologia, como filosofia abstrata da metafísica há muito
perdeu sua relevância na vida diária das pessoas tidas como “comuns”, porque
elas estão muito mais preocupadas com problemas “reais” e situações vivenciadas
do que dilemas abstratos e/ou divagações filosóficas do tipo “o que é a
verdade?” “existe liberdade?” “o que é real e/ou ilusão?” “o que é a vida?” “o
que é o ser humano?” e etc.
Qual o peso de sabermos sobre questões como Deus, paraíso,
vida após a morte, anjos e demônios e o sentido da vida? Estas questões irão
ajudar você meu caro leitor a resolver seus problemas cotidianos? E o mais
importante: por ventura você conseguirá responder a essas questões há centenas
de anos debatidas pelos filósofos que não chegaram a um consenso?
Pois, mais importante do que sabermos o sentido da vida é
sabermos qual o sentido que nós estamos dando para as nossas vidas!
Por isto é que a filosofia só não perderá sua relevância e
importância se for aplicada aos dilemas circunstanciais da vida.
Neste sentido temos que fazer uma inversão milenar na
filosofia, indo na contramão da própria filosofia, pois os assuntos tidos como
mais importantes, valorizados, estudados e discutidos até então para a
filosofia histórica, deixaria de ser o alvo principal para se tornar
secundário, e passaríamos a valorizar muito mais dando total importância e
atenção para os assuntos tidos até então como ordinários e corriqueiros, pois a
vida é feita muito mais destes últimos.
É por isso que a filosofia cada vez mais tem que ser
“filosofia de rua” e cada vez menos “filosofia de gabinete”, pois às vezes
debatemos assuntos tão irrelevantes como: “Deus, céu, sentido da vida, vida
após morte”, e esquecemo-nos do que realmente tem relevância para as pessoas
mortais: “dinheiro, relacionamento, trabalho, a rotina do dia a dia”.
Sabe por que meu caro leitor? (aqui vai uma alfinetada no
cristianismo histórico, pois como sempre não poderia faltar) porque há muito
tempo as religiões vem enganando os seus seguidores, como sendo enganados por
eles mesmos, pois no fundo por pior que seja a situação, e por mais “fé” (eu
chamo de condicionamento) que o sujeito possa ter em um paraíso, em outro mundo
eterno, perfeito e feliz, ninguém em sã consciência quer morrer e deixar essa
existência, e sabe por quê? Por que no fundo no fundo elas mesmas não
acreditam, só não se deram conta disto ainda.
É por isso que o cristianismo hoje tem sido mais do que nunca
contextualizado no “chão desta terra”, sendo muito mais existencial do que
espiritual, e, isto para não perder a relevância.
Já não faz mais sentido – e, muitos líderes religiosos tais
como Ricardo Gondim, Caio Fabio, Ed. Rene Kivitz entre outros sabem disto – pregar
mais sobre anjos, demônios, céu, inferno, apocalipse entre outras coisas que
eram – e ainda são para algumas vertentes do cristianismo ortodoxo que ainda
insiste em ficar paradas no tempo – tidas como mensagens principais no cultos.
Hoje, os pastores que procuram contextualizar os seus
sermões, parecem mais psicólogos falando sobre relacionamentos.
É a nova roupagem da reformulação religiosa, que deixam de
ser filosofia de gabinete para virarem literalmente filosofias de rua, pois é
na e pela existência que é feito a vida.
Seria então o fim para sempre das religiões? Claro que não.
Com esta urgente e necessária reformulação e roupagem existencial,
“naturalizando” ao invés de “espiritualizar” o homem, mundo e vida, a religião
dá um passo importante e decisivo para contribuição do amadurecimento e
responsabilidade humana, ganhando apoio e simpatia inclusive de ateus – sendo
eu, um deles.
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