Muito já foi dito sobre as emoções ao longo das eras e, com certeza, algumas definições têm sido nominadas como melhores e outras como piores. A palavra emoção deriva do latim movere (pôr em movimento). Isso nos fala da sua natureza de colocar em movimento, de dentro para fora, comunicando ao mundo nossos estados de necessidades internas. Todas, então, seriam úteis e por isso foram mantidas no processo evolucionário humano. Lógico que algumas perderam sua função original e se adaptaram, como puderam, à nova realidade da civilização moderna. Afinal, não precisamos mais correr de leões ou matar animais para nossa alimentação. Mas o sistema de luta e fuga continua ativo.
O homem modernizou a sua
estrutura social. No entanto, internamente, em seus processos somáticos, ainda
é praticamente o mesmo do tempo das cavernas. Basicamente, estamos preparados
para caçar e reproduzir; o resto foi se acumulando ao longo de milhares de anos
e reflete-se no que somos hoje: criaturas com respostas emocionais às diversas
situações nas quais, às vezes, certas manifestações não seriam necessárias, ou
que surgem em dimensões desproporcionais à situação vivida. Caso duvide disso,
pergunte a quem tem síndrome do pânico ou algum tipo de fobia. Um exemplo é a
pessoa que pode ser considerada corajosa, mas, diante de uma minúscula aranha
ou uma inofensiva lagartixa ou barata, literalmente “perde a linha” e surta.
Sempre buscamos diferenciar as
emoções umas das outras e tentamos associá-las, relacionando as sensações
orgânicas com a situação em que estamos envolvidos, fazendo uma ligação direta
entre o fato, nossa interpretação dele e o que sentimos. Além das diversas
interpretações diferentes que cada um de nós pode dar às situações semelhantes,
ainda existe a intensidade da emoção, às vezes forte demais e, outras vezes,
não percebidas adequadamente.
Nos animais, a manifestação de
raiva foi observada em dois tipos de comportamentos: o ataque a outros animais,
para obtenção de alimento, e a agressão afetiva, que serve para corte às fêmeas
ou para demarcação de território. É fato que não sabemos nominar nossas
emoções: estamos sempre confundindo o que sentimos. As emoções, na visão dos
poetas, fazem de nós humanos, mas a realidade é que elas podem atrapalhar, e
muito, aqueles que não conseguem detectar seus próprios estados emocionais.
No ano de 1924, Maranon,
neurocientista francês (citado por Richard Restak em O Cérebro Humano, p.141),
injetou adrenalina em 210 indivíduos, o que fez surgir sensações fisiológicas
em todos eles. Quando o experimentador, de maneira indutiva, contava uma
história qualquer com fundo emocional, fazia brotar no sujeito a emoção sugerida
no texto. Graças ao efeito da adrenalina, a emoção surgia forte. Dessa maneira
ele fez "aparecer" todas as nuances das emoções humanas apenas
contando diferentes histórias. Essa experiência foi repetida na década de 1960,
com algumas alterações de modelo operacional, mas com resultado similar, por
Stanley Scharter e Jerome Singer.
Com a mesma base química, mas com
interpretações pessoais diferentes das histórias contadas, o significado
individual fez surgir emoções que mais se alinhavam com a perspectiva do
indivíduo. Podemos inferir, então, que tecnicamente seriam as mesmas reações
somáticas que originam as emoções; apenas os nomes dados pelos sujeitos que as
vivenciavam eram diferentes, por conta de suas expectativas ou interpretações
do contexto.
Nos dias atuais, a complexidade
da origem das emoções é debatida ao extremo e nada está totalmente descartado.
Alguns defendem a ideia de quatro emoções básicas, outros de seis estados
emocionais naturais. Esse exemplo é puramente ilustrativo para que não percamos
de vista a possibilidade de estar dando nomes diversos aos mesmos bois.
Podemos então acreditar que
muitas das emoções que sentimos, ou nominamos, têm sua origem na mesma fórmula
química endócrina? Seremos então escravos de hormônios e neurotransmissores?
Isso nos dá bons argumentos para pensar com cuidado sobre como devemos reagir
da próxima fez que estivermos sob forte emoção. Afinal, se a emoção tem a sua forma
dada pela interpretação da história contada, se ressignificarmos o conteúdo,
mesmo sem alterar a base química, podemos alcançar um novo estado emocional.
Isso pode soar apenas como teoria
para alguns, pois a prática não deve ser tão fácil. A maioria das pessoas não
consegue perceber quando está entrando em um estado emocional alterado.
"Sob forte emoção estamos sempre certos!" Todos pensam assim?
Dessa pequena abertura podemos
passar a qualificar as emoções básicas, que segundo os estudos do psicólogo
estadunidense Paul Ekman, são seis. Tratamos de emoções naturais, aquelas
percebidas em todos os humanos com o mesmo código facial de expressão muscular,
porém guardando diferenças quanto aos motivos culturais para suas
manifestações: o que faz rir um oriental pode fazer chorar um ocidental, por
assim dizer.
Personalidades que souberam usar sua raiva...para o bem ou para o mal
ADOLFO HITLER. O que pode tê-lo
tornado uma pessoa destruidora? Talvez a morte do pai em 1903, quando ele tinha
apenas 14 anos, ou ainda o falecimento da mãe, em 1908, de câncer, quando o
então jovem Adolf não tinha completado 20 anos de vida. Sabemos que ele foi
péssimo aluno, rejeitado pela escola de belas-artes de Viena e pela escola de
arquitetura. Não foi correspondido no amor declarado em centenas de poemas a
Stefanie - isso pode ter sido consequência da enorme diferença de classe
social. Em Viena aos 20 anos, Hitler fazia molduras para se sustentar, lavava
pratos, limpava carruagens, estava sempre malvestido, vivia em albergues e
remexia latas de lixo com seus amigos Neumann e Hanisch em busca de qualquer
coisa de valor. Foi expulso de um albergue por não pagar uma prostituta camada
Hannah, que era judia, da qual contraiu sífilis. Em 1913 o exército o recusou,
por causa de seu estado de saúde, mas o aceitou como voluntário em 1914,
durante a Primeira Guerra. Foi condecorado por um ataque que o deixou cego por
três dias, mas sua cegueira era de fundo psicológico, pois o gás era
inofensivo.
WALT DISNEY. Maus tratos na
infância podem ter despertado um gênio criativo? Disney viveu em uma fazenda no
interior do Missouri, com um pai extremamente severo, que lhe impunha castigos
terríveis quase todos os dias. Foi uma infância de sofrimento contínuo e de
muito trabalho pesado. Um dia Walt descobriu que não possuía certidão de
nascimento e isso fez com que alimentasse a ideia de que era filho adotivo.
Podemos perceber a provável influência desses fatos na estrutura familiar de
seus personagens. Aos 16 anos, dirigiu ambulâncias para a Cruz Vermelha na
Europa, durante a Primeira Guerra Mundial, e viu de perto os horrores do
conflito. Anos depois teve seus primeiros personagens, Alice e Oswald, roubados
pelo ex-patrão. O interessante foi a resposta que deu quando soube que, por não
ter documentado direito sua criação, não havia como reclamar: escreveu um
telegrama a seu sócio e irmão dizendo que tudo estava certo, que ele não se
preocupasse, pois já havia em sua mente um personagem espetacular: Mickey
Mouse.
CHARLIE CHAPLIN. Tragédia familiar
pode transformar uma pessoa positivamente? Os pais, ambos artistas famosos na
época, separaram-se quando Chaplin nem tinha completado três anos de idade. O
pai, alcoólatra, não queria contato com o filho, pois já tinha uma amante.
Charlie ficou sob os cuidados da mãe, emocionalmente instável. Um dia, quando
ele tinha apenas cinco anos, viu a mãe sofrer um problema na laringe enquanto
se apresentava em um teatro lotado de soldados; foi vaiada e a plateia atirou
coisas sobre ela. Machucada gravemente, ela foi para os bastidores. O pequeno
Charlie subiu, sozinho, ao palco e cantou uma música, controlando a massa
enfurecida. O pai morreu de cirrose quando ele tinha 12 anos, a mãe foi
internada em um asilo, mentalmente perturbada, pois não tinha como cuidar dos
filhos. Foi necessário muito esforço durante a infância e a adolescência para
que Charlie e seu irmão conseguissem terminar os estudos em uma escola para
pobres no sul de Londres. Sofrimento foi sua marca registrada.
THOMAS ALVA EDISON. Frequentou a
escola, ensino formal, por menos de seis meses. Aprendeu sozinho, e com a ajuda
da mãe, lendo apenas o que lhe interessava. Começou a vida vendendo jornais,
sanduíches, doces e frutas dentro dos trens. Ficou surdo e sobre isso, quando
questionado sobre se a deficiência auditiva o prejudicava, disse uma vez:
"Ao contrário, a surdez foi de grande valia para mim. Poupou-me o trabalho
de ficar ouvindo grande quantidade de conversas inúteis e me ensinou a ouvir a
voz interior. Além do mais, um homem que precisa gritar quando fala nunca diz
mentiras".
Uma situação que pode provocar a raiva em bebês nos diz muito da
natureza dessa emoção. Uma interferência física: segurar os membros da criança,
impedindo seus movimentos, não permitindo que ela se liberte, irá disparar uma
rápida reação. Isso demonstra que essa emoção nasce quando algo interfere na
nossa intenção de fazer algo. Ela pode ser ampliada se percebermos ser a ação
bloqueadora intencional, ou seja, a pessoa que nos impede os movimentos decidiu
fazer isso conscientemente.
O aproveitamento de energia provocado pela raiva pode ocorrer
naturalmente em algumas pessoas que foram humilhadas, perseguidas ou que
tiveram uma interpretação da realidade que ressaltou tal emoção. Poderia ter
sido diferente se, em vez de a raiva ser controlada e direcionada para a ação,
ela tivesse sido transformada em rancor e ódio. Esses sentimentos poderiam
destruir a possibilidade de um pensamento estratégico que oferecesse um rumo ao
sujeito que os vivencia.
Raiva
que alimenta
Muitos líderes, gerentes, homens ou mulheres de sucesso tentam
provar algo para alguém que no passado os humilhou ou impediu seu
desenvolvimento. Desse modo, seu êxito é uma resposta à provação que podem ter
passado em outra época. Sua alta autoestima resulta de uma retroalimentação da
emoção.
Algumas pessoas relatam que seus sonhos trazem a memória de tempos
difíceis e isso proporciona uma energia incrível para levantar pela manhã e
lutar no mundo, para nunca mais ter de passar por aqueles momentos terríveis.
A emoção, em si, e o sentimento que ela desperta não é
determinante para o comportamento. Como interpretamos as situações e
direcionamos nossos recursos é o que determina sucesso, vitória ou doença e
morte. Ouvimos sempre dizer que outros fatores, como sorte ou azar, devem ter
peso de influência no resultado final. Isso pode ser até possível, mas a
decisão de buscar uma situação ou outra nasce no livre arbítrio e esse surge da
capacidade de percepção de nossas próprias emoções.
Não se pode tomar uma decisão sem ao menos saber que tipo de
emoção esta manifesta em nosso organismo. A pura sensação fisiológica pode não
ser suficiente e clara a ponto de permitir uma avaliação definitiva do progresso
comportamental.
Não existe emoção ruim. Todas foram mantidas durante a evolução
por um bom motivo: são úteis para a manutenção da espécie, ajudam-nos a
permanecer vivos. Sem elas poderíamos cometer erros de avaliação e nos colocar
em risco de morte, por exemplo. Uma pena que, com a evolução social e cultural,
o homem tenha deixado de prestar atenção à linguagem interna, às matrizes
biológicas, acabando, muitas vezes, por precipitar ações que podem causar
enorme prejuízo a si mesmo.
"Não é a intensidade dos sentimentos elevados que faz os
homens superiores, mas a sua duração." (Friedrich Nietzsche).
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