Por Edson Moura
Penso
às vezes que estou vivendo. E para muitos, ou melhor, para a
maioria, de fato é assim que se considera o viver. Mas será que é
verdade? Estar com outras pessoas, caminhar pelas ruas abarrotadas de
seres humanos, encher os pulmões de algo que muitos de nós nem sabe
o que é, ou do que é composto, contar os passos nas calçadas
evitando as lajotas de cor preta, será que isso é viver? Comer,
beber, fumar, sorrir, chorar, brigar, sofrer, isso é viver? Ou será
que é apenas existir? Sim, isso é existir, ou seja, fazer parte de
algo, estar inserido na sociedade, ser aceito pelas diversas tribos
de humanos, cada uma com suas particularidades. Tudo isso é apenas
existir.
Viver
é algo mais complicado. Em primeiro lugar, para se dizer que vive,
ou que está vivendo, é preciso ter em mente, e de forma patente, a
consciência de que tudo isso ira acabar um dia, que algo ou alguém
está à espreita, esperando para nos levar não sei pra onde, para
enfim descansarmos e não podermos mais dizermos conscientes: “Não
vivo mais!”
Estou
parado, num lugar qualquer desse imenso universo a pensar no porquê
de estar aqui. Por que eu fui escolhido para existir numa história
que não entendo como começou e muito menos como acabará? Estou
neste exato momento tomando ciência de que estou vivendo, e não
simplesmente existindo. Viver é saber que nada permanece. Viver é
sentir um frio na barriga ao perceber o fim trágico que nos aguarda.
E é nessas horas que entramos numa profunda mas passageira crise.
Crise esta que ninguém percebe, e por um simples motivo, ora, todos
estão muito ocupados existindo apenas.
Equipados
de seus aparelhos celulares, distraídos em suas redes sociais que
fazem tudo, menos socializá-los. Não se dão conta de nosso
desespero momentâneo, do calor que sobe pelo peito e repousa em
nossa face, agora suada. Um desespero que nem sei como explicar, mas
você sabe. Sim você! Você que está lendo estas linhas sem saber
por que. Talvez seja amigo do autor, e apenas não quis fazer a
desfeita de não ler o que ele escreveu. Ou talvez você apenas
queira saber qual foi a bobagem que ele resolveu escrever desta vez.
Mas eu lhe digo: Se nunca passou por um desses momentos de angústia
profunda, daquelas em que perece que caminhamos sobre uma fina camada
de gelo e alguém está a levantar um machado para parti-lo, ah, eu
posso afirmar...você apenas existiu até então.
Talvez
você esteja firmemente apegado a uma ideologia que o afaste desses
pensamentos sombrios, ou pior, você pode estar convicto de que este
existir nem se compara ao outro que virá depois da morte. Um
estoicismo exacerbado, que me causa náuseas. Uma promessa de algo
que não podemos sequer testar antes de aceitarmos. Odeio aqueles que
não vivem e creem veementemente que o faz. Não param um minuto por
dia para refletir sobre si mesmos, sobre como surgiram ou como irão
“des-surgir” um dia. Como chegará a hora em que nada mais terá
tanta importância quanto mais alguns segundos de existência.
Um
filme se passará em parcos segundos antes do fim. Promessas não
cumpridas, amores não vividos, experiências não trocadas, beijos e
abraços não dados, socos e ponta-pés que faltaram, comidas que não
saborearam, perdões que não pronunciaram. Será tarde, muito tarde
para voltar atrás. Essa senhora que veio buscá-lo, levará aquilo
que chamou de vida junto com o que eu chamo de existência. Levará
tudo que você tinha e tudo que pensou que teria.
Então
me faço questionamentos e acabo por respondê-los sem perceber
nessas horas – e você que já passou por isso também já deve ter
se perguntado – algo parecido com: “Para que tanto esforço? Para
que tantos sonhos e projetos? Para que ser bom e buscar um altruísmo
que só se encontra quando escavamos no mais profundo de nosso ser?
Poderia desistir agora mesmo de tudo, nada vale a pena, nada faz
sentido, vou morrer mesmo. Nem sei se deveria estar aqui ainda.”
Pronto!
Dou-lhe os parabéns!!! Você vive. Viver é acima de tudo temer a
chegada da morte. Não falo de ter medo mas sim de sabermos que ela
existe, que ela vive. Diferente de nos comportarmos como animais
irracionais que não têm consciência de sua finitude. Que existem
dia após dia sem tomar conhecimento de não haverá outro lugar para
gastar o que acumulou, que não terá oportunidade de rever
conceitos, experimentar o que negligenciou e acima de tudo,
contemplar a vida no teor de seu significado.
Muitos
acham que vivem, mas viver é uma das coisas mais raras do mundo, a
maioria apenas existe. E sua existência realmente não faz sentido,
e não deveria. Viver sim faz sentido, pois escolhemos dar-lhe
significado. Optamos por viver dignamente o que parecia apenas um
existir sem sentido, sem motivo, sem futuro. É neste exato momento
que a crise existencial se vai. Se pudéssemos nesse momento
abraçaríamos árvores, beijaríamos estranhos, ligaríamos para as
pessoas que amamos e diríamos que a amamos com toas as letras que
esta palavra comporta. Pensaríamos em escrever ou melhor, descrever
essa alegria que se apodera de nossa alma ao percebermos que estamos
vivos e melhor ainda, estamos vivendo...nada mais que isso...vivendo
apenas.
Edson
Moura
Olá, amigo!
ResponderExcluirEste é, sem dúvida, um tema profundo e que muitas vezes o evitamos porque nos levam a crises, auto-questionamentos, desconstruções e confrontos. Porém, por mais que a pessoas muitas vezes tente sublimar ou ignorar as crises, elas nos alcançam e encurralam.
Você tenta estabelecer a diferença entre "viver" e apenas "existir", dando a entender que, obviamente a existência está contida na vida de modo que, quem vive, também existe. Porém, nem todos os que existem, necessariamente vivem.
Diante do destino desconhecido de todos nós, seja do pós morte ou mesmo do futuro próximo nesta passagem existencial (pouco importa se estamos a falar de uma série da existência bem como de toda ela), talvez seja improdutivo o homem sofrer pela finitude de seus dias aqui. Tal consciência ajuda a darmos sentido ou direcionamento às nossas ações, porém acho que estamos de acordo de que são estas que nos levarão a viver. Ou pelo menos proporcionarão um gostinho do sabor que desejamos sentir.
Deixando de lado os que simplesmente preferem ignorar essas chamadas da vida para reflexão, coloco aqui a necessidade de permanentemente os homens e mulheres conscientes aprenderem a se reinventarem. A vida terrena tem várias fases que, além do avançar da idade, incluem outras situações as quais nem sempre estão ao nosso alcance mudá-las. E aí somos obrigados a pensar como viveremos o aqui e agora desse jeito? Ou como reagiremos? Como dosar as privações para aproveitarmos o futuro com a necessidade de se viver um pouco do agora? De que maneira conseguiremos ser felizes dependendo menos do dinheiro? E quando a doença faz antecipar a velhice?
Nessas horas, a religião pode ajudar e prejudicar, não concorda? Se ela te anestesia com promessas de superação vindas do sobrenatural, pelo menos trás algum consolo dos sofrimentos presentes. Só que, quando você perde a fé nos milagres, experimenta a dureza diante da realidade nua e crua. E muitos que dizem acreditar nas soluções mágicas, no fundo têm alguma desconfiança ainda que não venham a admiti-las. E todos sofrem, seja muito ou pouco, diante dos espinhos fora do Jardim do Éden...
Mas taí a possibilidade de que o homem, com seu esforço, tente reconstruir o Paraíso. E, quando olhamos para o passado, as coisas já mudaram bastante. E,quem sabe, quando fizermos transplantes cerebrais, renovando corpos, não conseguiremos evitar o evento morte. Ou ainda pode ser que a ciência parapsíquica nos tranquilize um dia de que nossas consciências sobrevivem no lado de lá. Só que isto até hoje não saiu do subjetivismo e desconheço quem tenha retornado depois. Mesmo quando se fala das sessões espíritas em que muitas manifestações sobre encorporações pra mim seriam suspeitas.
Deixa pra lá! Vamos viver que é melhor e que não nos falte o pão de cada dia como Jesus ensinou seus discípulos a orar.