terça-feira, 1 de setembro de 2009

A culpa é de Deus ou do diabo?




Por: Marcio
Alves


Infelizmente, em muitas igrejas evangélicas, a espiritualidade se tornou sinônimo de infantilidade. Ao invés de ensinar e colaborar para o crescimento e responsabilidade, o que ocorre, é justamente o oposto, pessoas se tornando cada vez mais irresponsáveis.

Parece-me que, o ocorrido no jardim do Éden, volta a se repetir. Pois cada vez mais, em um numero cada vez maior, em situações cada vez mais freqüentes, os evangélicos estão jogando a culpa em Deus ou no diabo.

Observem o relato bíblico, e percebam, se há algo em comum no meio evangélico: “11-E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?12-Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.13-E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.” (Gn 3v 11-13) (grifo meu)

Vejam que, na passagem em apreço, quando questionado por Deus, a respeito quem lhe mostrara que estava nu, Adão jogou a culpa na mulher e por conseqüência em Deus: “A mulher que me deste por companheira”. Eva, por sua vez, jogou a culpa na serpente (ou seja, no diabo): ”A serpente me enganou”. Então a tradicional desculpa por erros ou acidentes, ser de Deus ou o diabo, ela é tão velha quanto a própria tentação no jardim do Éden!

Quer um exemplo? Pois bem! O crente perde o emprego, logo acha um “bode expiatório” para se isentar da responsabilidade, dizendo que é Deus quem está o provando, ou o diabo está se levantando contra ele. E muitas vezes a culpa foi toda dele (e só dele), porque chegava atrasado, dava o “cano” no patrão. Ou mais ainda, por causa do drama do desemprego que afeta milhões de brasileiros, por causa da falta de estrutura do nosso governo.

Lembrei-me de outro exemplo dessa paranóia, recentemente encontrei com um amigo meu, crente, em um hospital, ele tinha machucado o dedo, quando o perguntei sobre o ocorrido – que foi um acidente – ele me disse que foi o diabo, pois na mesma semana ele tinha começado 3 campanhas em igrejas diferentes, portanto o diabo – segundo sua palavra – estava furioso contra ele.

Daí o titulo dessa postagem: A culpa é de Deus ou do diabo?

Isto ocorre principalmente no meio pentecostal, pois os pentecostais (e olha que eu me considero pentecostal viu!) em sua maioria são muito “místicos”, gostam de “espiritualizar” tudo. Como diagnosticou muito bem o Pr. Paulo Romeiro, quando disse: “Os pentecostais são mais propensos a “sentir” do que a pensar”. Ainda mais com o advento da falaciosa e perniciosa “guerra espiritual” e principalmente com a publicação dos livros de rebeca Brown. Essa historia de que cada lugar, bairro, cidade, estado, país e continente (ufa! Pensei que não ia acabar mais essa listinha, só falta agora, inventarem os demônios planetários!) é comandado por um demônio territorial, cheira mais a filme de bruxa do que a realidade. Inclusive, um católico fez uma excelente afirmação, quando disse que: “Vocês crentes falam que nós católicos temos um santo para cada problema, mas vocês têm um demônio para cada situação, pelo menos nós – palavras suas - ficamos com a melhor parte”.

Vejo outro fator importante nessa historia “diabolicamente satânica”, que contribuiu para exaltação da imagem dos demônios. São os que se convertem da “macumbaria”, por exemplo, e trazem para a igreja os nomes e costumes do espiritismo. Daí o chavão, ser mais comum nessa vertente do protestantismo. Se o pneu do carro furar a caminho da igreja, pode saber que lá vem o diabo de novo. Se ficou doente, ou é porque Deus esta provando ou o diabo que está lutando. Na verdade isto é uma verdadeira “babel”, pois ora o crente culpa o diabo, ora ele culpa Deus, acho que até o diabo fica confuso nessa história.

A grande verdade é que não podemos subestimar o diabo, e é claro que ele existe, e que nossa luta é contra ele. (não só contra ele, porque, demônios verdadeiros, nós expulsamos através da oração, mas fome, desemprego, doença e violência – por exemplo – se expulsa com justiça e dignidade social!) Mas dizer que todo erro que cometemos ou acidente que sofremos, é ele que esta por trás, é forçar muito a barra. Essa história de dar “brecha” para o diabo é uma verdadeira paranóia!

Mas, pior do que culparmos ao diabo, é culparmos à Deus!

Na verdade estou cansado da resposta simplista, de que, quando uma criança é estuprada e morta – por exemplo – vem com o velho chavão: “Deus sabe o que faz”, Deus sabe o que faz?! Isso é loucura! Culpar a Deus por um crime tão hediondo. Concordo com o grito de protesto de Habacuque, quando ele diz: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar.” (Hc 1v 13)

Se realmente for Deus que na eternidade passada, para cumprir um propósito misterioso, (sabe lá que propósito é esse) manipula ou consente (a famosa “vontade permissiva”, que é outra explicação simplista demais) que uma criança seja violentada ou assassinada, esse “deus” eu não quero, porque ele é pior do que eu!

Se a culpa não é de Deus e nem do diabo, de quem seria a culpa então?

A culpa é nossa! Isto é, de cada ser humano, nisto concordo com o chavão: “Errar é humano”. O erro faz parte do processo de ser humano. Se fossemos máquinas talvez não errássemos. Se a culpa é de Deus ou do diabo, como fica os textos bíblicos como esse: ”De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.” (RM 14 v 12)

Concernentes aos acidentes, o nome já diz tudo, é um acidente! O mundo em que vivemos é totalmente imprevisível. Nele ocorrem os acidentes naturais, verdadeiras catástrofes. Querer encontrar uma explicação para fenômenos naturais, dizendo serem possíveis “castigos” divinos, é muito cruel, e não condiz com o Deus revelado em Cristo.

Enfim, concluo com uma frase pertencente ao catolicismo, que concordo completamente e soluciona o “enigma” proposto: A culpa é de Deus ou do diabo?”:

Minha culpa!

Minha culpa!

Minha máxima culpa!


Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.


2 comentários:

  1. O grande Problema aqui é a frase pueril "esse deus eu não quero". Ora, será que se é mais apto do que a divindade para optar-se por uma deidade, somos pagãos? Agradamo-nos de um deus sujeito aos nossos caprichos? Ora bolas, se assim for o paganismo chegou à frente com dois corpos de vantagem.

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  2. Amigo J. Carlos que bom que você retornou outra vez ao nosso blog.


    Em relação ao seu comentário: “O grande Problema aqui é a frase pueril "esse deus eu não quero". Ora, será que se é mais apto do que a divindade para optar-se por uma deidade, somos pagãos? Agradamo-nos de um deus sujeito aos nossos caprichos? Ora bolas, se assim for o paganismo chegou à frente com dois corpos de vantagem”.


    Minha resposta: Quando eu falo “esse deus eu não quero” não estou referindo-me a Deus-mesmo, mas as concepções de Deus.
    Ou mais propriamente dito, ao Deus-imagem-produto-da-psique-humana.
    Como Deus-mesmo não pode ser totalmente conhecido, construímos pontes até a divindade.
    O homem projeta em Deus a sua imagem, ou seja; os olhos pelos quais Deus me vê, são os mesmos pelos quais vejo Deus!


    Eu fico com o Deus símbolo da minha psique!


    Abraços e continue analisando nossos textos, ficando a vontade para discordar dos mesmos, pois afinal, o que queremos é provocar a reflexão!

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