domingo, 29 de julho de 2012

A existência de Deus pode ser mais assustadora do que a sua inexistência




Por: Marcio Alves

Um Deus mal e perverso no controle absoluto do universo, jogando com nossas vidas, brincando e se divertindo com nosso destino, sem alguém superior a Ele para prestar conta do que faz conosco, rindo de nossas desgraças, provocando diversos tipos de catástrofes no mundo, não se importando com ninguém, atraído por sórdidas maldades, quem já imaginou um Deus assim? Ou, quanto um Deus assim pode ser temido?

Sempre quando se imagina um Deus, ou quando a religião cria, sistematizando uma crença em Deus, ela parte dos anseios mais profundos do porão do inconsciente humano, sendo assim, por mais que Deus seja punitivo com os outros que não compartilham da mesma crença e religião, com elas (seguidoras daquela religião), Deus sempre será aquele pai presente, que cuida, ama e preservar os seus filhos, mesmo quando os castiga, faz isto porque ama e se importa com eles. Nesta crença esta embutida, algumas vezes de maneira imperceptível, o “medo de Deus” que toda religião se utiliza para manter seus seguidores fieis. (No cristianismo é o inferno, no espiritismo é o carma, no budismo o samsara e assim por diante)

Esta crença propriamente dizendo é o lado mais infantilizado de todas as religiões, porque em meio a bilhões de seres humanos, com um universo “infinito” para controlar, Deus se importaria logo com este planeta tão pequeno e com seres humanos tão insignificantes (comparados a toda grandeza do universo)?

Pior do que a sua não existência (ateísmo) ou abandono total do nosso planeta (deismo) é a possibilidade de um Deus perverso, déspota, arrogante e malvado no controle do universo. Imagina se no final de tudo – de uma vida de sofrimento, porque o sofrimento esta ligado a existência, todo mundo sofre de alguma maneira e nível – após a morte, existir vida, e nós tivermos que pagar por toda eternidade, prestando conta (cristianismo) diante de um Ser maléfico, que criou uma camará de tortura com “fogo e enxofre” para atormentar nossa vida, e, isto sem fim?

Ou seja, a ideia da existência de Deus é mais apavorante do que a sua inexistência, porque se Ele não existe, não há o que temer, nem em vida e nem depois da morte, mas, e se Ele existir de verdade, quem é capaz de saber como Ele é, e, o que fará conosco?
E, todas as pistas no mundo indica que se há um Deus quem criou tudo, Ele deve ser muito perverso, porque criou um mundo de sofrimento, seres humanos sádicos, uma natureza muito violenta, ou seja, se Ele fosse realmente bondoso, porque não criou um mundo com menos sofrimento?

A questão do sofrimento que eu coloco aqui, e, que sempre foi uma “pedra” no “sapato” do teísmo (crença em Deus) não é o sofrimento moral, causado por outros seres humanos, ainda que Ele pudesse ter feito um ser humano com uma natureza melhor, mas antes, o sofrimento existencial, com milhares de doenças...imagina uma criança encefálica, (apenas um exemplo, para não citar todos) como pode um Deus bom e justo, permitir tamanha crueldade, ainda mais com um ser que não foi capaz de fazer nem bondade e nem maldade ainda?

Sem falar na natureza tão violenta e cruel, por que desde que o mundo é mundo, sempre houve catástrofes, a diferença é que não tinha tantos seres humanos vivendo de modo aglomerado, pois imagina um terremoto na cidade de São Paulo hoje, por exemplo, que catástrofe seria? Diferente se fosse um lugar deserto, há milhares de anos atrás, totalmente desabitado por pessoas...junta se a isto, o fato de termos acesso a todo tipo de informação mundial, isto significa, que temos mais informações hoje do que antes, o que dá a impressão de que o “mundo esta realmente acabando” – a questão principal aqui é: ou Deus existe e é mal, porque criou de propósito um mundo hostil ao ser humano, e aí meu amigo, se existir um Deus assim nós estamos literalmente “fudidos”, ou Deus não existe e a natureza é “cega” e podemos viver e morrer em paz, porque quando “acabar”, para nós realmente “acabou”, de qualquer jeito estamos todos nós (raça humana) no mesmo barco em meio ao mesmo oceano, a diferença é como enxergarmos e/ou como queremos enxergar este oceano....

Como a ciência em questão de Deus não pode provar que Ele existe ou não existe, cabe a você meu caro leitor decidir; acreditar em Deus de maneira religiosa, pessoal (teísmo) e viver a vida “pisando” em ovos, não sendo e não assumindo os riscos de uma vida sem Deus, com liberdade de ser e fazer o que se deseja, até porque na crença Deus é aquele eterno estraga prazer que sempre esta com o seu olhar onipresente de quem não se pode fugir, ou acreditar como os filósofos que Deus é impessoal, (deismo) que não interfere em nossas vidas, e/ou ainda como os ateus (ateísmo) que simplesmente ignoram não acreditando em deus ou deuses, e continuar vivendo a vida totalmente voltada para o “aqui e agora”, sem o peso de ter que prestar contas a Deus, mas apenas a sua consciência?

quarta-feira, 18 de julho de 2012

As quatro fases da vida humana



Por: Marcio Alves

Assim como o tempo é marcado por quatro estações, sendo elas primavera, verão, outono e inverno, e cada uma delas sendo diferentes umas das outras, tendo sua singularidade e importância, assim também o é o ser humano que vive quatro estações de vida distintas, e, todas elas com inicio e fim, com toda sua longa e efêmera trajetória de vida, que será marcada diferentemente em cada uma delas, sendo em todas, ele mesmo, mesmo que ele não seja o mesmo, pois assim como o tempo está a mudar constantemente, também somos “condenados” passar pela metamorfose do tempo e experiências, umas belas, outras trágicas, mas todas elas de fundamental importância para nos levar a ser que somos e quem não somos.

Primavera é quando nascemos e passamos a existir na existência do mundo, sendo esta estação o inicio do começo de tudo na nossa vida humana e de tudo que esta ainda por vir, aonde começa a brotar e florir as primeiras flores coloridas de nossa insignificante e bela existência. Nessa estação, tudo é novo, belo e mágico, onde tudo é marcado pelo tempo que parece ser eterno, aonde vamos vivendo as primeiras experiências da vida.
Parece que toda caminhada trilhada humana para frente, na verdade é um caminho de busca para trás, de volta para o inicio, para as primeiras recordações da primavera.

Na segunda estação da vida, chamada de verão é quando somos jovens, estamos no auge da vida com pleno vigor físico, intelectual e sexual, onde somos atraídos pela nossa exuberância de beleza e desejo de viver cada vez mais intensamente, onde não nos preocupamos com a vida, e muito menos com a morte. Alias é nesta fase que temos a sensação de onipotência, que parece que somos imortais e eternos, não conseguimos ainda imaginar que podemos a qualquer momento morrer, pois só queremos aproveitar e viver intensamente a vida. São raros os momentos de raríssimos lampejos do frio que ainda esta para chegar em nossas vidas.

Já na terceira estação da vida que é o outono, é o momento de maior crise e dor é quando nos vemos impotentes, seres finitos, condenados irremediavelmente a velhice para depois a morte e ao fim do ciclo da vida. É a fase das crises de valores, ideais, objetivos e motivações, onde paramos para analisar os caminhos trilhados, descaminhos jamais aventurados. Infelizmente é um momento de dor, da consciência de que muitas das coisas que sonhamos não se concretizaram e nem que vão se concretizar. É a hora da verdade conosco mesmo, do enfretamento da vida tal como ela é, e não como idealizavamos que fosse ser. Nessa fase da vida, não há mais tantas flores, vemos o nosso mundo muitas vezes em preto e branco, não sentimos mais o calor do verão, e a nossa vida como historia parece esvair pelos nossos dedos como areias assopradas e espelhadas pelo vento frio e indiferente do inverno inevitável que se aproxima.

Finalmente, chegamos ao nosso ultimo estagio que é o inverno, nele, não estamos mais em crise conosco, sabemos que o nosso fim é inevitável, que resta apenas poucos anos de vida.
Já não há mais crise, mas apenas o frio da noite escura que sombriamente se aproxima de nós.
Mas já não há mais medo e resistência, como luta contra a morte, mas apenas a aceitação do destino inexorável de nossas vidas. E o que fica é uma consciência madura, sábia, ainda cheia de vida, num corpo “morto” pela velhice sem esperança e sonho juvenis, já sem o vigor físico de outrora, marcado pelas inúmeras tragédias, tristezas, sofrimentos, mas também pelos amores e experiências nostálgicas vividas no tempo mágico da primavera e verão de nossas vidas.

E a pergunta que restará a todos nós respondermos através da experiência das quatro estações é: a vida que vivemos, todas as tristezas como alegrias, derrotas como vitorias, conquistas como frustrações, valeu apena mesmo ser vivida?
Tenho a sensação de que esta pergunta começa a ser respondida no primeiro momento em que nascemos, pois não são as palavras que irão responder esta pergunta, mas sim a nossa própria existência.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Crônicas de um catador



Por Edson Moura

Seis horas da manhã, é hora de levantar, mas pense num trabalho Hercúleo. Seria tudo mais fácil se naquele tempo houvesse água jorrando por um chuveiro, coisa que só conheci pessoalmente depois dos 15 anos. Vamos menino! Deixa de moleza! Era o que dizia minha mãe. Ela não queria saber se eu passara a madrugada toda recolhendo água à conta gotas no chão de barro do quintal. Muitos não acreditam, mas eu e meu pai tivemos que cavar um buraco de aproximadamente 1 metro de profundidade para que a água conseguisse subir até a torneira, era uma luta conseguir encher um tambr com 30 litros d'agua.

Nos dias de quinta feira, nós, meu irmão mais velho e eu, íamos às 5 da manhã até uma padaria que vez ou outra nos dava alguns pães de queijo velhos. No caminho de volta imaginava se teria sido com um daqueles pães que Davi matou Golias. Provavelmente sim. Bom, mas vamos falar da escola: A escola era minha alegria, adorava estudar, ficava um pouco deslocado é claro, pois o colégio ficava num bairro nobre de São Paulo, no Brooklin, e boa partes dos alunos eram de classe média. (não sei se naquela época existia essa divisão de classes,para mim era só o rico ou só o favelado)

Mas, deslocado por quê? Ora, minhas havaianas (hoje é chique usar, mas na minha época de escola era coisa de pobre mesmo), muitas vezes com um prego atravessado numa das tiras que havia arrebentado, não combinavam com os tênis de marca que os “boyzinhos” usavam, por isso, sentia vergonha. Mas que se dane, eu vim aqui foi pra estudar (pensava), e se não passasse de ano com notas boas, minha mãe certamente me submeteria a desagradábilíssima experiência de apanhar com um fio de ferro. Estudei até onde pude. Repeti a quinta série, por pura vagabundagem, mas no ano seguinte, mesmo vitimado por um incêndio que lambeu nosso barraco na favela do Jardim Edith, consegui me superar e ganhei o prêmio de melhor aluno de todas as quintas séries. Foi motivo de orgulho para mim, não para minha mãe, que provavelmente só se alegrou pelo fato de eu ter ganhado todo material escolar da sexta série, com mochila, canetinha, apontador, e tudo mais. Ah! Talvez meu irmão Vitor tenha se orgulhado.

Certa feita, nesse ano que virei o “diabo” e comecei cabular aula para ir roubar bonequinhos dos “comandos em ação” no extinto supermercado “Paes Mendonça” (peço a Deus que não tenha falido por causa dos meus roubos), fui pego com a "mão na massa". Rapaz, que sufoco que eu passei. Tive que lavar todos os banheiros dos funcionários (mais ou menos uns cinquenta), e ainda por cima sem meus óculos, ou seja, praticamente cego, tendo que ouvir piadinhas dos seguranças. Foi nesse dia que joguei um balde cheio de cloro num dos guardas, sério, se não fosse o gerente (Belina era o nome dele) provavelmente eu seria afogado numa daquelas privadas sujas, se bem que perto da surra que levei ao chegar em casa, morrer afogado numa privada teria sido menos doloroso. Eu era miudinho, mas era folgado que só!

A rotina era a seguinte: Como disse lá no começo, levantava às seis da manhã, ia pra escola, e saia por volta de onze e meia. Passava na barraquinha de doces do “Seu Siciliano”, roubava algumas balinhas, ou, quando dava sorte, um pacote de salgadinhos de cebola (que até hoje adoro), chegava em casa, dava uma geral. Varria o chão, lavava a louça, passava pano, dobrava as cobertas, tudo isso não sem antes me engalfinhar com eu irmão mais velho, pois sempre me senti lesado na divisão das tarefas. Pôxa! Lavar a louça e varrer a casa é mais difícil que passar pano e tirar pó, e não queiram nem saber como é que se lavava louça sem agua encanada, usando um potinho de "Doriana" para pegar agua dentro de um tambor que, hoje sei, estavam cheios de larvas de mosquitos.

Por volta de duas horas da tarde saímos para “catar ferro velho”. Para quem não conhece, é mais ou menos assim: Chegávamos no “Ferro velho do Marcelo", na rua James Watt, pegávamos um carrinho pequeno, desses feitos com geladeiras velhas, e saíamos para pedir jornal velho, papelão, latas usadas, íamos na “Retel” para pegar chumbo derretido, etc. Quase sempre ganhávamos roupas seminovas, que alguma alma benevolente separava para doação, ou alguma comida. Lembro que uma vez ganhei uma bicicleta novinha em folha. Acho que o filho da madame não gostou da cor, sei lá, então ela me deu. Mas nunca tive o prazer de dar umas boas pedaladas nela, pois meu pai a deixava trancada com o cadeado, certamente porque sabia que se saíssemos na favela com ela, alguém iria tomar da gente. Senti uma pontinha de satisfação quando nosso barraco incendiou e eu vi a pobre bicicleta ali, toda retorcida e com os cadeados ainda a prendendo. Pensei: Toma besta! " Quem guarda com fome o rato come"

A coisa ruim de se catar ferro velho por perto de onde se mora é que consequentemente você irá bater na porta de algum amigo de colégio, e eu, como sou azarado ao quadrado, quase todo dia encontrava um dos meus colegas. Abaixava a cabeça para não ser reconhecido mas era em vão, impossível não me identificar pelos óculos (desses que hoje o Jô Soares usa e é moda, mas na minha época era feio pra caralho). No outro dia, eu já entrava na sala de aula desconfiado, cabrero,  rezando para o filho da mãe que me viu catando papelão não me denunciar aos demais alunos. Errado de novo. A zuação era total e só parava quando eu, num misto de ódio, e vergonha, começava a chorar calado. Muitas vezes chorei de soluçar, e só parava quando um dos professores vinham em meu socorro. Nem sempre vinham. 

Uma vez, durante a aula de português com a Dona Cleunice (professora que até hoje acredito que me odiava), lemos um texto que se chamava “Burro sem rabo”, de Heloísa Seixas eu acho. Mas ninguém sabia o que significava a expressão. Eu sabia. Mas o Fúvio, o mais inteligente, e o mais rico de nós, filho de médicos, tratou logo de bradar. Ah professora! Burro sem rabo é o Edson. Meu coração podia ser ouvido a quilômetros de distância, senti o rosto corar e o suor começar  a brotar em cima do nariz, comecei a me encolher na cadeira, querendo desaparecer dali, mas já era, estava feito, quem até aquele momento não sabia que eu era catador de papel, agora já sabia e não tardaria para o apelido “burro sem rabo” pegar. E Pegou mesmo. Senti vergonha mais uma vez.

Sobrevivi até a sétima série, foi quando por extrema necessidade financeira, precisei abandonar os estudos para trabalhar em dois empregos. Lembro que chorei no primeiro dia de"não ir à escola”, mas o tempo é um pai longânime e tratou de me curar. Superei os traumas, cresci, casei, tive quatro filhos, e hoje, vinte e dois anos depois, sentado na adega de  um restaurante Francês em que trabalho como Sommelier, escrevo a crônica da minha vida. Fico assustado com a clareza das lembranças, e com a dor que ainda sinto. Vocês podem se perguntar: E o que me levou a escrever isso? Ora, foi uma propaganda na televisão onde algumas celebridades se intitulam “sou catador” ou “sou catadora”. Mentira, eles nunca poderão sentir a dor que sente um catador, a alegria por ganhar um par de sapatos velhos que ainda podem ser usados. Jamais saberão o valor que dez quilos de jornal vendido pode ter. Eu sei! Dez quilos de jornal têm o valor de dois pãezinhos que alimentarão seus filhos por mais uma manhã. Hoje não sinto mais vergonha.

domingo, 8 de julho de 2012

O que um ateu pensa da morte




Por: Marcio Alves

Já escrevi alguns textos sobre a morte, dentre eles talvez o mais importante seja mesmo o profundo e filosófico “A morte em dois momentos”, mas sabendo que constantemente estamos sempre mudando e consequentemente atualizando nossa maneira de ver e viver a vida, resolvi então escrever o que penso hoje sobre a morte.

Um texto simples, sincero e objetivo sem o rigor do academicismo que muitas vezes atrapalha mais do que ajuda na compreensão dos leitores.

A morte, assim como o nascimento, são as duas únicas coisas que temos que passar sozinhos, embora muito mais a morte seja mesmo o momento mais angustiante e dramático de toda nossa existência, não o depois, mas aqueles momentos que a antecedem, que eu chamo de “pré-morte”, que é aquelas experiências de quase morte que muitos de nós experimentamos em algum momento de nossas vidas.

Nada mais profundo do que a experiência de ir ao velório de um amigo ou parente nosso, pois só nesses momentos, da “pré-morte” e da “morte do outro” é que são capazes de tirar o ser humano de sua anestesia diária, como trabalho, diversão, lazer, hobby e etc, levando a refletir seriamente sobre a sua própria morte.

Pois saiba meu amigo leitor, que uma coisa é você ler alguns livros e pensar sobre a morte de maneira geral, outra completamente diferente é pensar a sua própria morte. É como você ler sobre pessoas com câncer, e, um belo dia você ir ao medico para fazer exames de rotinas e sem “querer” descobrir que esta com um câncer. Consegue agora perceber a diferença?

Para aqueles que nunca enterraram seu próprio amigo, pai, mãe, filho ou irmão, ou não vivenciaram uma experiência real de “pré-morte”, vão apenas entender com o intelecto este texto, pois só aquele que já vivenciou uma das duas maneiras de estar “cara a cara” com a morte é que irá conseguir ir para além do intelecto “sentindo” de maneira visceral as palavras escritas.

Assim como o câncer que na verdade é uma morte lenta e progressiva, a própria iminência de uma possível morte por outras maneiras e experiências vem para por em xeque tudo que achávamos ser importante em nossas vidas, e para colocar uma pergunta crucial que constantemente tentamos esquivar dela: “Porque e para que viver?” “Faz sentido a vida que temos levado?” “Qual o sentido real de viver?” (As três perguntas na verdade é uma só, apenas feita de maneiras diferentes para você refletir melhor)

Não importa se você seja religioso ou ateu, pois na verdade, no fundo no fundo minha opinião é que não existe na pratica uma separação entre ateu e religioso quando falamos da morte, embora na teoria exista sim uma divisão. É que não acredito na transformação e mudança na natureza humana quando falamos da pessoa acreditar ou desacreditar na religião e/ou em Deus, pois se sendo ateu ou religioso, continuamos sendo humanos, demasiado humanos, e como os existencialistas já falavam, somos seres em angustia, sendo a angustia uma marca registrada da natureza humana.

A única diferença entre o religioso e ateu em relação à morte é no autoengano; pois o primeiro (religioso) se engana na certeza de acreditar que ao morrer vai estar no paraíso, já o ateu com seu pensamento “tranquilizador” de que “morreu acabou”, e que por isso não tem o que se preocupar e ter medo. Mas que falsa certeza esta do religioso e do ateu!

A partir do momento que o homem teve a sua consciência despertada, seja pela própria morte como a maior responsável por isto, ele já se vê mergulhado em angustia, e, por isso mesmo, nós precisamos tanto ocupar nossa mente com tudo que estiver disponível, seja trabalho, festas, e tudo o mais, é como pascal já dizia que o homem que vai caçar, ele caça um animal que ele mesmo não teria a coragem de comprar num mercado, mas ele caça para distrair sua mente, para fugir de estar só consigo mesmo, e com a realidade inevitável de sua própria morte – e este exemplo serve para tudo que fazemos na vida!

Por isto meu caro leitor que chegou até aqui, lendo “pacientemente” esta minha postagem para descobrir como um ateu encara a morte, eu lamento decepciona-lo, mas nós encaramos do mesmo jeito que qualquer outra pessoa encara: com grande angustia, medo, tristeza, dor e duvida em saber que a nossa morte não é uma possibilidade que pode ou não acontecer,  mas uma realidade e certeza absoluta de que nós que aqui estamos, vamos um dia não estar mais....para quem acha que a consciência é um dom, eu diria que tenho lá as minhas duvidas, pois acho mesmo que é uma maldição, e que se os deuses existem mesmo, são cruéis e estão se divertindo com nosso sofrimento.

domingo, 1 de julho de 2012

As imagens do humano em Deus




Por: Marcio Alves

 "O homem encontra e desenha o “in-desenhado” e “in-contravel” Ser em seu próprio e limitado ser existencial, com sua mentalização e sentimentalização de aperceber e apreender o divino em si, pois deus só pode ser deus de cada individuo, sendo um espelho a refletir a imagem do homem que diz servir-lo, mas que na verdade é servido para si mesmo, para as suas projeções auto projetadas da sua psique inconsciente"

O Ser supremo nomeado pelo humano de “Deus” do alto de sua infinita e desconhecida imagem é não tendo uma imagem limitada que possa descrever e enquadrar seu ser, pois todas as imagens criadas foram e serão “in-criadas” a partir dele mesmo, não sendo e não podendo ser exata, mas si sendo real nos corações de quem sente e fabrica, pois é na verdade a realidade singular do sujeito que vai de si para si mesmo, não sendo o absoluto, por isso é relativizada pelos homens, não para a gloria do Ser, mas para a própria gloria terrestre do humano.

"(...) projeta sua autoimagem dele e para ele, declarando e sistematizando o divino de sua percepção nele mesmo, sendo posto no pedestal da adoração, adorando o Ser de sua imaginação"

O homem encontra e desenha o “in-desenhado” e “in-contravel” Ser em seu próprio e limitado ser existencial, com sua mentalização e sentimentalização de aperceber e apreender o divino em si, pois deus só pode ser deus de cada individuo, sendo um espelho a refletir a imagem do homem que diz servir-lo, mas que na verdade é servido para si mesmo, para as suas projeções auto projetadas da sua psique inconsciente.

"A figura das imagens esculpidas da não realidade visível, pintadas e moldadas pelo caráter e temperamento do próprio homem, tem sua gênese da não descoberta empírica do grande assombro, sendo desenvolvida a prematura necessidade de necessitar verbalizar o inefável, com os mais variados sons antropológicos das sociedades"

Pensando ter finalmente encontrado o supremo Ser do universo, mas sem saber que não achou Ele, projeta sua autoimagem dele e para ele, declarando e sistematizando o divino de sua percepção nele mesmo, sendo posto no pedestal da adoração, adorando o Ser de sua imaginação, embora seja Ele (Deus) mesmo não outro, para o individuo que revela o seu desejo de procurar pela busca de encontrar no encontro que se dá consigo mesmo, sendo real e verdadeiro para milhões que experimenta a experiência deste encontro que nomeia-se Deus.

"Mas a grande ilusão é iludir-se a si mesmo dizendo que este desenho pintado, esta musica tocada, esta linguagem decifrada, este sons ouvidos, “sentido sentido”, da não materialização, visibilidade e compreensão do divino no humano em formas do saber pensado, construído, intuído, sentido e finalmente crido pelo seres humanos, ser o mesmo Ser, sendo que nunca foi e nunca será, pois se algum dia for, então mesmo assim pode concluir o saber que não passou de não saber"

Pois o Ser sabendo que não poderia ser exaurido pelo conhecer das percepções do pensamento e sentimento da averiguação minuciosa da criatura, deixa sua própria marca de pegadas sutis na areia da vida subjetivada pela nitidez da percepção humanista, para que mesmo através das autoimagens criadas, possa ser revelado que Ele é e que existe existindo em cada realidade existente na criatura viva.

A figura das imagens esculpidas da não realidade visível, pintadas e moldadas pelo caráter e temperamento do próprio homem, tem sua gênese da não descoberta empírica do grande assombro, sendo desenvolvida a prematura necessidade de necessitar verbalizar o inefável, com os mais variados sons antropológicos das sociedades.

"O homem revela quem é mostrando no que crer e quem é o que ele crer, pois a sua crença é uma revelação de si mesmo e não do supremo Ser (...)"

Mas a grande ilusão é iludir-se a si mesmo dizendo que este desenho pintado, esta musica tocada, esta linguagem decifrada, este sons ouvidos, “sentido sentido”, da não materialização, visibilidade e compreensão do divino no humano em formas do saber pensado, construído, intuído, sentido e finalmente crido pelo seres humanos, ser o mesmo Ser, sendo que nunca foi e nunca será, pois se algum dia for, então mesmo assim pode concluir o saber que não passou de não saber.

"Com este texto o que eu proponho hoje, não é a questão “Se Deus existi ou não”, mas que mesmo existindo, se partimos desta premissa, todos os Deuses de todas as religiões e crenças não passam de criações humanas, e, que “Deus mesmo” é totalmente desconhecido por nós, o que equivale a dizer “Deus não existe!”, ou seja, para o homem não há um Deus existindo fora dele, perdido em  algum lugar no universo, mas antes, dentro dele"

O supremo Ser não sofre influencia das influencias humanas, sejam negativas ou positivas, pois não é processado no seu desenvolvimento como se fora uma criatura, pois não é sendo o criador, vê em si mesmo e não no reflexo dos homens, ser suficientemente suficiente com Ele e para Ele.

O homem revela quem é mostrando no que crer e quem é o que ele crer, pois a sua crença é uma revelação de si mesmo e não do supremo Ser, pois não passa de sua auto imagem e descoberta, se modelando em sua crença, formando e definido quem realmente ele é no que pensa ser o grande Ser, mas não sendo para ser quem realmente é o seu oculto ser revelado nas inúmeras imagens da psique humana.



P.S.: Texto escrito por mim em 08/03/2010 quando estava no final do processo de descrença, nesta época a ultima das crenças que ainda restava em mim era a crença em “Um Ser Superior”.

Com este texto o que eu proponho hoje, não é a questão “Se Deus existi ou não”, mas que mesmo existindo, se partimos desta premissa, todos os Deuses de todas as religiões e crenças não passam de criações humanas, e, que “Deus mesmo” é totalmente desconhecido por nós, o que equivale a dizer “Deus não existe!”, ou seja, para o homem não há um Deus existindo fora dele, perdido em  algum lugar no universo, mas antes, dentro dele.