quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

“Eu sou você no futuro”


Por: Edson Moura

Gente! Cansei! Não quero mais falar de Deus! Deus não pode ser questionado. Deus jamais descerá ao nível do homem para provar que existe, portanto, vamos falar de outra coisa...sei lá, qualquer coisa.

Brincadeirinha, vamos falar do cara sim, pois assim ele ficará com raivinha de nós e quem sabe não nos aparecerá ou enviará um espírito destruidor para nos punir? (risos) 

Um dia no ano de 2062, perguntei para um velhinho passante, se ele tinha fé em algo, tipo...na ciência. Ele me fitou e disse: “A verdade não tem que ser aceita com fé. Fé é para os fracos! Eu até que creio na ciência, pois ela nos dá fatos, e contra fatos, muitas vezes não existem argumentos.

Taí, gostei desse cara. Mas quando achei que ele já tinha concluído seu raciocínio, ele bradou bem alto:

“A fé pode ser chamada de "falência intelectual". Se o único modo de você aceitar uma afirmação é tendo fé, então você está reconhecendo que ela não pode ser aceita por seus próprios méritos”.

Enfiei o rabinho entre as pernas e "sartei de banda", pois o cara era da pesada. Como sou muito chato, e o método que adotei para descobrir as “verdades” é o “socrático”, perguntei para ele se Jesus não fez o que dizem que fez para que nós fôssemos salvos. Ele nem sequer pensou para responder essa, foi logo vomitando: 

Velhinho:  Digamos que a redenção cristã se baseie em dois conceitos principais: “o sofrimento do indivíduo cancela o pecado do mesmo” e “o inocente (Jesus) pode cumprir a pena em lugar do culpado (nós)”. Fazer o inocente pagar pelo pecador, ainda por cima com um sofrimento improdutivo, não seria apenas um ato de vingança contra a pessoa errada e só faz juntar um mal a outro mal? 

Calei por um momento e respondi: Sim pode ser, mas o que dizer das bilhões de pessoas que acreditam que Jesus salva? Não seria presunção minha e sua, achar que nós estamos certos e elas erradas? 

O velhinho de cabelos brancos não me perdoou, deu-me outra cassetada: “ Mesmo que  5 bilhões de pessoas acreditem numa coisa que é estúpida, essa coisa continuará sendo estúpida”.

Eu: Então o inferno não existe? E nós ateus não iremos para lá? Por que o senhor é um ateu?

Velhinho: A Bíblia nos diz que Jesus foi sacrificado para nos redimir de nossos pecados e nos salvar do fogo eterno. A Bíblia também nos diz que se não acreditarmos nisto queimaremos no fogo eterno. Não é um pouco paradoxal essa afirmação? Meu jovem, eu posso dizer, sem medo de estar errado, que todos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que os crentes. Quando eles entenderem  porque é que rejeitam todos os outros deuses possíveis, entenderão porque é que eu rejeito o deus deles.

Eu: Mas o senso comum religioso nos diz que temos que aceitar os mistérios de Deus, e que no tempo certo tudo será revelado. A verdade deve ser aguardada. Dizem que eu faço perguntas demais. O que o senhor me diz sobre essa afirmação? 

Velhinho: Ora, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não (fé em Deus sem questionamentos), desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro (pode ter sido roubado), desde que ele esteja na nossa mão.

Eu: Um amigo meu, chamado “capitão”, me disse uma vez que ser ateu é uma forma de crença. Ele não está meio certo? Outro amigo chamado “prodígio”, acredita que Deus protegeu Moisés e que ainda protege sua igreja até hoje. Como faço pra provar que ele está falando besteiras?

Velhinho: Não! O “capitão”  está totalmente errado! Onde já se viu?! Dizer que ateísmo é uma crença é o mesmo que dizer que careca é uma cor de cabelo. E para o prodígio, pergunte para ele se a “assembléia de Deus” onde ele congrega lá em Campinas tem para-raios no telhado. Se tiver, é por falta de confiança em Deus. (risos do velhinho). E mais, devemos sempre questionar essa lógica que afirma um Deus onipotente e onisciente, que criou um homem falível e o culpa por seus defeitos.

Eu: Então essa história de que Deus me ama e quer o meu melhor, não passa de papo furado? Eu não vou para o paraíso morar com Deus? O cristianismo nos garante o céu! (risinhos sarcásticos)

Velhinho: O cristianismo nos afirma que há um ser invisível, que vive no céu e micro-gerencia nossa vida, está atento a tudo que fazemos, o tempo todo. O ser invisível tem uma lista de 10 coisas (mandamentos) que ele quer que a gente cumpra. Se você infringir qualquer uma dessas coisas, o homem invisível tem um lugar super especial, cheio de fogo, fumaça, sofrimento, tortura e angústia onde ele vai lhe mandar viver, queimando, sofrendo, sufocando, gritando e chorando para todo o sempre. Mas ele ama você sim! (risinhos também sarcásticos do velhinho)

Eu: Opa! Peraí, o senhor, mesmo com esses cabelos brancos, não tem autoridade para falar essas coisas. 

Velhinho: Eu tenho tanta autoridade quanto o Papa. Eu só não tenho tantas pessoas que acreditam nisso.

Eu: Então o senhor é a favor da separação entre Igreja e Estado? Nossa moral não está arraigada à Igreja? E essa herança religiosa não nos fez uma sociedade melhor, mais amorosa e justa?

Velhinho: Por favor, não seja tolo! Eu sou completamente a favor da separação da Igreja e do Estado. Minha idéia é que essas duas instituições nos fodem o suficiente individualmente, portanto, ambas juntas é a morte certa.
Eu: Será que algum dia conseguiremos fazer com que um crente deixe de acreditar e se torne um ateu como nós? O mundo seria mais amoroso se todos fôssemos crentes? Paulo e Jesus disseram que devemos amar uns aos outros assim como amamos ao nosso Deus. A fé não é uma “prova”, segundo Paulo?

Velhinho: Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências… Baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar. Como disse o ateu Friedrich Nietzsche: “Fé” significa não querer saber o que é a verdade. Eles (os crentes) dizem que acreditam na necessidade da religião… Mas eles não são sinceros! Eles acreditam mesmo é na necessidade da polícia! Amor ao “nosso” Deus? Por favor, não há no mundo amor e bondade bastante para que ainda possamos dá-los a seres imaginários. Uma visita ao hospício mostrará a você que a fé não prova nada.

Eu: O senhor não aprova nenhuma religião? Algumas proporcionam uma felicidade, mesmo que ilusória. Isso não é bom para ajudar-nos a encarar a vida dura? Pessoas são felizes em seus mundinhos!

Velhinho: Não importa o quão feliz me deixe, se não é verdadeiro, se não é real, muito obrigado. É assim que penso quanto aos deuses e mitos de todas as religiões
.
Eu: A religião parece ter um ponto fraco. O senhor poderia me dizer qual seria ele?

Velhinho: Não vou criar nada, apenas vou repetir o que Epicuro disse: Se Deus deseja impedir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente. Se é capaz, mas não deseja? Então é malevolente. Se é capaz e deseja? Então por que o mal existe? Se não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus? Meu jovem, Se a ciência já mostrou que a bíblia está errada ao nos dizer de onde viemos, como podemos confiar nela ao dizer para onde iremos?

Eu: Para encerrar esta nossa proveitosa conversa, o que seria necessário para acabar com a fé de um crente?

Velhinho: É simples: Basta Deus existir!  Pois, se Deus existisse, a fé se tornaria desnecessária e todas as religiões entrariam em colapso.A verdade não tem que ser aceita com fé. Os cientistas não seguram suas mãos todo Domingo, cantando, “Sim a gravidade é real! Eu vou ter fé! Eu vou ser forte! Amém. Como já disse, a fé é a falência intelectual. Se o único modo de você aceitar uma afirmação é pela fé, então você está admitindo que ela não pode ser aceita por seus próprios méritos
.
Muito obrigado por seu tempo, não vou mais aporrinhá-lo com minhas perguntas. Mas antes que fosse, gostaria de saber seu nome.

Velhinho: Meu nome é Edson Moura, mas todos me conhecem por Noreda.

Edson Moura

domingo, 12 de dezembro de 2010

A “imoralidade” dos sem fé!


O Deus conceitual dos humanos mais desumanizados, que processam e marginalizam os naturais da vida, tendo-os como imorais e antinaturais da fé, por serem transparentes no Ser-em-si que é, sem deixarem de ser por causa da mentalidade e moralidade doentia e até dominante dos religiosos perfeccionistas que nutrem uma visão surreal do “Criador”, incorporando Nele padrões expectantes de uma santidade neurotizante e cobrando do ser que não pode ser, pois se é o ser-si-em-si natural de imperfeição, um desempenho pra lá de humano.

O Ser inadequado pela inadequação religiosa que exige um esforço sobre-humano se sente excluído ao passo que é mal visto pelo meio de sua facção de espiritualidade se tendo uma vida normal não aceitada por sempre se ter como utopias uma vida além da humana, pois sendo o sujeito imperfeito na estrada da humanização não construindo edifícios de renuncia por ser seu instinto que o leva pela estrada do Ser em sua completude.

A naturalidade da essência não exige adequações por ser sendo sua existência firmada em sua essencialidade não dês-naturalizado pela religião, mesmo que se pareça ser em sua representação de uma infantilizadora padronização do sócio-cultural-religioso, que é forçadamente sobreposta na aparência, mas não sobrepuja o interior, sempre estando em conflitos o que já se é com o que idealiza vir a ser.

Mas um dia o sujeito que em sua subjetividade encontra e se vê desnudo diante-de-si-para-si-e-em-si, observando ainda o movimento do constante fluxo da vida com suas intermináveis contingências, sentindo em-si-com-si uma injustificável compreensão não explicada e explicitada convencedoramente da religião para os eventos aleatórios que vem sobre todos, premiados às vezes, amaldiçoados outras vezes, enxergar não um Deus como gênese causal, mas o próprio cíclico virtual das vertigens vitais da matéria ludibriadora dos conceitos processuais da incompreensão humana.

Vê sua fé outrora inabalável, se ruir e decompor-se diante de si, mas entende em sua nova compreensão que não era saudável sua interpretação aos fatos da vida, pois não era sua, mas era impingida pela massificação, agora se desprende das antigas amarras e se vê livre, porém sempre condenado e tido como um fracassado imoral e doente na fé, simplesmente por não aceitar os cabrestos religiosos, sai para viver a vida com uma nova mentalidade, não mais escravizada, se sentido inferior pela suas imperfeições e desejos, mas agora compreende que é delas que é feito o seu ser-em-si-e-no-mundo.

E é agora nos vícios e não nas falsas virtudes superficiais, que o sujeito “imoral” passa a ver e a entender o que ele é feito:
De humano, demasiado humano!


Por: Marcio Alves

sábado, 4 de dezembro de 2010

“Deus não ouve Rap”



Deus, olhai o meu povo...da periferia
É tanta gente triste nessa cidade,
É tanta desigualdade...desse outro lado da cidade,
Mas eu tenho fé, eu tenho fé eu acredito em Deus
Olhai por esses filhos teus.

Senhor!...Oh pai senhor, olhai o meu povo sofrido...da periferia
Ah!olhando pro meu povo vejo a tristeza
Estampada em cada rosto que perdeu a beleza
A vida é embaçada pra quem está no veneno
Uma mãe vendo os seus filhos com fome...sofrendo.

Os mais ricos do mundo só fazem investimentos,
Diversão pra “boyzinhos”, pra coisa ruim e armamentos
Quanto ao meu povo investimento é zero
 O dia-a-dia não é fácil, o dia-a-dia não é belo.

Vários moleques na rua, sem endereço, drogado
Mendigo, gente sofredora, também largado
Se arrastando e com vontade de viver
Muita gente dá de frente, finge que não vê.

De que adianta vida boa e ter tudo da hora
Se o povo está no veneno, meu Deus e agora?
Eu peço ao senhor que de paz e alegria
Cuide de nós... O povo da periferia.
Deus! Olhai o meu povo...da periferia.

Ah! O povo é mal cuidado, ignorado, esquecido
Os ricos querem mais é ver meu povo fodido
Exploram nossa vida, roubam nosso dinheiro
Eu vejo o povo no veneno, entrando em desespero.

Irmão na ira, sem paz espiritual, se armando
Roubando, se arriscando, porque tá precisando
Apanhando na vida, passando fome, que injustiça
E quando roda, toma coro todo dia da policia.

E a cada dia o crime vai crescendo,
Essa vida deixa o povo revoltado e violento
A pobreza...a miséria, todo dia cresce
Que porra é essa? Meu povo não merece

Um dia, quem só fode a gente, vai se foder
Eles obrigam o meu povo a não ter paz para viver
Que Deus proteja os irmãos que agora estão na correria
Que deus proteja o povo da periferia.
Deus! Olhai o meu povo...da periferia.

Este é um rap escrito por Ndee Naldinho, e retrata uma realidade ainda existente na periferia de muitas cidades onde as favelas enfeitam a selva de pedra. Há  nove anos ouvi esta música pela primeira vez, e hoje, quando o ano de 2010 já está terminando, vejo que nada mudou.

Será que a força da palavra deste “Raper” não é tão forte assim? Será que o povo merece a vida que leva, por ser tão estúpido, e não perceber que o poder emana das massas? Será que a miséria é um mal necessário para se manter o equilíbrio social?
Não...não! A verdade é que Deus é um sádico e adora observar o povo se fodendo.

Desista Naldinho! Deus não houve Rap!

Edson Moura