quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

"A Dor"


Por Edson Moura

Ele grita o nome de sua mãe!

Mãe! Faça essa dor passar, por favor! Eu já não estou mais agüentando!


Ele nunca pensara que iria ter que suportar esse tipo de sofrimento. Algum sábio de sua época, dissera em certa ocasião que a angústia, e o sofrimento, estava intrínseco na vida do ser humano, mas ele não imaginava que aconteceria daquela forma, não naquela madrugada fria, que só fazia aumentar a sensação de dor.


Os amigos não podiam ajudá-lo, aliás, nem um deles estava por perto na hora em que ele mais precisava.


O irmão mais novo tentava consolá-lo dizendo:

Fique calmo irmão, logo isso tudo vai passar. Já mandei nossa irmã buscar ajuda, ao menos um “anestésico romano” (uma mistura de vinho e mirra, usado para entorpecer os condenados à morte), só lhe peço que beba, não recuse, pois não quero vê-lo nessas condições.

Enquanto se contorcia tomado por uma dor lancinante, lembrou-se daquela vez em que por descuido, martelou o dedo enquanto fabricava uma cadeira na oficina de seu pai. E também daquela outra vez em que uma farpa de madeira entrara bem por baixo de sua unha fazendo-o chorar.

Mas agora era diferente, bem diferente de tudo pelo que já havia passado. Já não conseguia abrir os olhos, a cabeça doía como se estivesse presa em um torno e alguém apertasse cada vez mais.

Sua mãe sentia-se totalmente incapaz de livrá-lo disso, pois sabia desde que ele nascera, que mais cedo ou mais tarde iria passar por essa aflição.


É o destino, é a vida. Pensava consigo.


Ela também relembrava de quantas vezes seu menino caíra jogando bola com os outros garotos, e voltava para casa aos berros, mas bastava um beijinho no arranhão e pronto, já saía correndo para retomar a brincadeira.


Mas agora era sério.

Ele já é um homem, não tinha mais motivos pra fazer “dengo”. Ele realmente estava no seu limite.

Onde está meu pai? Esbravejou ele.

Por que ele me abandonou nessa hora?

Será que ele não entende que eu estou a ponto de morrer?

Nesse exato momento seu pai irrompe casa adentro trazendo consigo uma silhueta, que ele não conseguia distinguir quem era.

Filho!

Este é Lucas.

Dizem que ele é um ótimo médico.


Ele sabe o que fazer para acabar com seu sofrimento.

Então o homem se aproximou da beirada do leito do rapaz de 19 anos e disse:

É! Não tem jeito mesmo.

Vamos ter que extrair esse dente Jesus.

6 comentários:

  1. Parece que a veia poética e literária do FDG está influenciando a todos nós. Que belo texto!!

    Faze-nos pensar no cotidiano real do adolescente messias, pertubado por um dente cariado. Aliás, dentes cariados deviam ser a regra à época. Poderiam os crentes religiosos conceberem tal coisa? um Deus-homem-messias destentado?? Blasfêmia!

    Ainda hoje, o inconsciente religioso tem na figura de Jesus aquele alemão, loiro de olhos azuis dos quadros pintados à semelhança de quem os pintou. Lindo, perfeito, meigo, rosado.

    Alguém pode conceber um messias negro?(não estou contrapondo branco=bonito/negro=feio, ok?)

    Há muito tempo li um poema de um autor que nem lembro mais o nome cujo título era "O Deus negro". No poema, o autor conta a perplexidade de um racista ao ver-se diante de Deus e constatar para seu desespero, que Deus era negro!!

    Jesus precisando de médico? Jesus nunca ficou doente, ora!! Depois falam que eu sou herege.

    rs

    FDG = Filósofo da Graça, Gresder.

    abraços

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  2. Lindo, lindo lindo lindo...Não é você não Edson rsrsr é o texto que é lindo. Como você escreveria, a.m.e.i. Precisamos de mais poesias e menos heresias; não me interprete mal.

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  3. Olá!!
    Cheguei aqui pelo Bereiano e fiquei muito feliz de ver mais cabeças pensantes por aí...
    Estou te seguindo!!
    pelacruz.blogspot.com e o novo quepostdeevangelho.blogspot.com
    Abraço!

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  4. Sabe Edson creio que a maior dor que Ele passou foi a duvida de ser ou não ser o Messias, pois como homem Ele teria que chegar a auto consciência de sua verdadeira essência e missão.

    Pois para mim não faz nem um sentido um Deus feito homem que já nasceu sabendo e nunca teve a real nescidade de errar para aprender, que nunca teve que ter duvidas para poder ter certeza, se ele não tivesse tudo isso não teria sentido Ele ter vindo como minimo, por que se não ele teria vindo adulto né!

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  5. A natureza humana de Jesus disse : Afasta de mim esse cálice e a Divina disse : Seja feita a sua vontade. Jesus sentiu dores agonizantes (Lc 22.44)." Todo espirito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus" I jo 4.2.
    Valeu hermano Edson .

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  6. caramba, ops! Caramba é palavrão? Acho que não.

    Não pensei que este pequeno texto,iria atrair tantos olhares atentos.

    Eduardo,"culpado"! Pois confesso que me inspirei mesmo no Gresder para escrever esse artigo, e sabia que você gostaria.

    Jair, sei que no fundo você queria mesmo me chamar de Lindo, lindo, lindo rsss. Tô brincando mano, como disse o eduardo, esse texto é só para nos fazer refletir sobre a natureza humana de Jesus e seu cotidiano quando jovem. (embora muitos ignorem esse fato)


    Laguardia, concordo plenamente contigo, bela alusão que você criou entre o texto de provérbios e o contexto de nossos dias. Conte comigo nessa luta pela ética e pela moral para a humanidade para que venhamos a ser realmente uma "unidade humana"

    Kadu, seja muito bem vindo ao nosso espaço, nunca deixe de contribuir com seus pensamentos, pois para mim tenho por certo que o conhecimento e exponencial, duas cabeças com idéias é melhor que uma e o resultado dessa soma não é: 1+1=2 e sim:1+1= vários.

    Gresder meu poeta e fonte de inspiração para muitos, que bela frase hein: "que nunca teve que ter dúvidas para poder ter certeza, se ele não tivesse tudo isso não teria sentido Ele ter vindo como menimo, por que se não ele teria vindo adulto né?" Você está corretíssimo, que pena que as pessoas não querem usar essa "lógica" para pensar Deus né?

    Edilson irmão obrigado pelo apoio e por juntar-se a nós nesse pensamento considerado por muitos "blasfêmia", como diz o Eduardo.

    Que nós continuemos pensando irmãos!

    A paz a todos.

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