sexta-feira, 7 de junho de 2013

Eterno desespero


Por Edson Moura
 
Acredito piamente que o desapego está mais ligado a, como posso dizer, uma irresponsabilidade sob controle. Lembrei-me do Gresder agora, afinal, ele é a prova viva de que se pode viver uma vida irresponsável, mas sem, de alguma forma, perder o senso de responsabilidade, que, este sim, pode trazer angústia e muito sofrimento.

Sartre foi feliz em sua afirmação a respeito da liberdade humana, pois sabemos (ou pelo menos eu sei) que liberdade realmente nos trás responsabilidades, e esta em todas as esferas comportamentais. Liberdade nos faz ver que somos responsáveis por todos os atos, e uma vez responsável, tornamo-nos escravos de nossa tão buscada liberdade.

Pode então o homem ser desapegado (livre) e ao mesmo tempo desesperado(preso) à sua liberdade? Um axioma dos mais simples, que só engodaria os mais simples. Obviamente que pode se ser as duas coisas. O questão é quando temos correntes nos prendendo a liturgias baratas, a pensamentos arcaicos, a usos e costumes obsoletos. De tempos em tempos os homens vão se libertando, e a cada passo dado, um novo controle social informal lhe é conferido, e novamente ele volta ao ponto de partida. Me parece que nós buscamos nosso próprio desespero.

Para não me alongar, vou fazer aqui uma analogia de como funciona este processo de "encadeamento", que propus a uma amigo meu: "Lembro-me nitidamente dos anos em que comecei a fumar. No inicio era uma coisa, digamos, feia, fumava escondido, tinha medo da reação das pessoas ao verem um garota de 14 anos com um cigarro na boca. Mas o tempo foi passando, fui crescendo e adquirindo autonomia, aí, fumar já não era vergonhoso, mas ao contrário, me conferia status, agora podia fumar tranquilamente. 

Notem que o desespero se tornou desapego e fiquei em paz, comigo e com os homens. Recentemente criou-se uma lei onde se proibia fumar em estabelecimentos fechados. No inicio foi aquela bagunça, protestos daqui, reclamações dali, enfim, a lei pegou. E hoje, eu, que outrora não via problema algum em fumar num bar ou num restaurante, ou até mesmo num avião, fico constrangido ao acender um cigarro onde tiver uma criança, ou até mesmo embaixo de um toldo de bar, pois me preocupo com o incômodo que estou causando aos outros cidadãos, sejam eles fumante ou não".

Onde quero chegar com este relato? É simples, mudamos constantemente nossa visão de mundo, somos moldados pelo meio e consequentemente, acabamos aceitando o desespero que nos impõem ou nos impomos. Estamos o tempo todo nos acostumando com nossa liberdade (desapego) e quando vemos que desapego já não é suficiente, criamos uma "cadeia" (desespero, para nos mantermos sempre nesta dinâmica que é viver.

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